sexta-feira, 29 de março de 2013

Encontrados os “genes do suicídio”


Será que a disposição ao suicídio pode ser genética? Parece que sim, segundo um estudo de cientistas espanhóis e americanos. Eles observaram que existem três genes que, sofrendo mutação, podem produzir uma espécie de “tendência” a suicídio.
Os pesquisadores desde o começo afirmam que seria ingenuidade desprezar os fatores sociais e culturais por trás da vontade de tirar a própria vida, é claro, mas dizem que 40% da base dessa “compulsão” tem origens no DNA. Eles se basearam na ligação que existe entre os genes e o “comportamento suicida”, um desvio mental que já vem sendo estudado há décadas pela psiquiatria moderna.
Dados recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que quase um milhão de pessoas se suicidaram em 2000, e a projeção é que em 2020 este número terá aumentado para 1,5 milhões. Essa quantidade toda, segundo os cientistas, se deve em parte graças aos polimorfismos (mutações) em três genes responsáveis pela codificação para a secreção de hormônios relacionados ao humor e o comportamento. A título de curiosidade, são eles: o receptor da serotonina, 5-HT1E (HTR1E, rs10944288), a subunidade pi do receptor do ácido gama-aminobutírico (GABRP, hCV8953491) e o alfa-2 actinina (ACTN2, rs707216), genes cujas mutações podem aumentar os riscos de suicídio em pacientes com quadro psiquiátrico.
É claro que uma pessoa pode viver bem e jamais pensar em dar cabo da própria vida, nem por um instante, mesmo tendo os genes modificados. O que a genética exerce nesse caso é uma tendência: pessoas cujas vidas já estejam com as relações sociais desgastadas, e panoramas psiquiátricos preocupantes, têm maior risco de suicídio caso possuam o gene modificado.
Fonte: Science Daily.

Falta de serotonina pode deixar as pessoas mais agressivas


Está mais irritado ou agressivo do que o normal? Pode ser falta de serotonina. Quando os níveis do neurotransmissor aumentam, é mais fácil se manter calmo, de acordo com um novo estudo.
Pesquisadores forneceram uma dieta que reduziu os níveis de serotonina em 19 voluntários saudáveis, e em seguida, seus cérebros foram analisados a partir de um computador.
Os pesquisadores descobriram que a comunicação entre a região da amígdala cerebral – que processa o medo – e do córtex pré-frontal tinha sido rompida. Com isso, ameaças leves podem se desencadear em reações violentas.
O efeito foi mais forte nas pessoas que já tinham tendências violentas, como foi identificado em um questionário. “É como se a intervenção da voz da razão fosse perdida”, diz Luca Passamonti, chefe da equipe de pesquisa.
Fonte: NewScientist.

Pessoas baixinhas podem ter falta de genes


É baixinho? Culpe seus genes… ou melhor, a falta deles. Pesquisadores acreditam que a falta de cópias de genes e outras seções do DNA podem ser responsáveis por até metade do impacto genético em nossa altura.
A altura de uma pessoa é em grande parte transmitida através da família, mas os cientistas só identificaram características genéticas específicas para explicar cerca de 10% da diferença de tamanho entre as pessoas.As anomalias genéticas – conhecidas como variantes do número de cópia (VNC) – são alterações no cromossomo que fazem com que uma célula tenha cópias a mais ou a menos em uma fatia de DNA, que contém o nosso código genético.
Em alguns lugares, isso pode ter relação com uma conexão dentro do cromossomo, mas em outros toda a cópia de um ou mais genes podem estar ausentes ou duplicados. Alguns VNC são comuns, mas outros só ocorrem em um pequeno número de pessoas.
Pesquisadores descobriram que pessoas com mais exclusões incomuns de VNC – em que parte do genoma está faltando – têm uma maior tendência a serem baixinhas. Enquanto todo mundo têm pelo menos algumas dessas eliminações no genoma, outras têm milhões.
Dois estudos que analisaram 12 mil pessoas nos Estados Unidos descobriram que para cada milhão de exclusões individuais, as pessoas perderam 0,3 centímetros. Esta tendência apareceu independentemente de quais genes estavam desaparecidos.
Fonte: Telegraph.

Internação em UTI pode causar stress pós-traumático



(Agência Notisa) − Estudo publicado no Journal of Intensive Care Medicine, analisou as relações entre transtorno de stress pós-traumático (TEPT), práticas de sedação e memórias traumáticas de pacientes em unidade de tratamento intensivo (UTI) e práticas de sedação.
Os resultados divulgados mostram que o desenvolvimento do TEPT após doença crítica depende de como os pacientes são atendidos durante o tratamento intensivo. "Este estudo sugere que tratamento na UTI tem impacto sobre a morbidade psicológica mais tarde na vida e que outros estudos devem analisar melhor como é feita a sedação e a restrição física dos pacientes nessas condições”, afirmam os autores.
Participaram da pesquisa dois hospitais gerais e três hospitais universitários no Reino Unido, Suécia, Itália e Noruega. Ao todo, 230 pacientes em recuperação foram acompanhados por três meses após alta da UTI. A avaliação das memórias do paciente foi feita até duas semanas depois da alta. A análise da recuperação psicológica foi realizada por meio de exame dos sintomas relacionados a TEPT e de sua ocorrência ao longo de 3 meses após a internação.
"A taxa de TEPT foi de 9,2%, variando de 3,2% a 14,8% nas diferentes UTIs investigadas. Independentemente da severidade do caso, os fatores relacionados ao desenvolvimento de TEPT foram lembranças delirantes, sedação prolongada e restrição física sem sedação", ressaltam os autores.
Fonte: Scientific American.

Perigosas sobreposições da loucura


Identificar o outro como louco abre um campo de abuso de poder, intolerância e violência. Desde o trabalho de referência do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), História da loucura na Idade Clássica, de1960 (Perspectiva, 1978), podemos entender que o uso do termo “loucura” desqualifica alguém, sendo usado para marcar uma diferença radical com relação ao que define a identidade de uma pessoa ou mesmo uma cultura. Louco é o “não-eu”. Chamamos de insensato aquele (ou aquilo) que não entendemos, que é tão diferente de nós que não conseguimos reconhecer ou mesmo atribuir sentido.
Desta perspectiva, é comum que quando surge a denominação de louco sejam acionados mecanismos de exclusão simplesmente porque uma pessoa (ou um grupo) pensa de forma radicalmente diferente da nossa ou não compartilha nossos valores morais ou religiosos. Identificar o outro como louco é abrir um campo de abuso de poder, intolerância e violência.
SEM MODELO PARA SEGUIR
Em nossa forma de lidar com a doença mental, vivemos alguns impasses e sobreposições terríveis. A primeira delas está relacionada à exclusão social e ao estigma. O termo “loucura” não é técnico, não pertence ao estudo da psiquiatria ou psicologia para descrição de uma patologia. Falar sobre loucura não é a mesma coisa que falar sobre formas de estruturação psíquica. Da perspectiva da psicanálise, por exemplo, não há desqualificação da pessoa estruturada como neurótica ou psicótica. Isso se dá por um ótimo motivo: pela óptica da psicanálise não há alguém sem um modo específico de se estruturar ou livre de sofrimento, que seja uma espécie de “modelo”, uma referência normativa em relação a quem os demais devam ser medidos. Assim, falar sofrimento mental, neurose, psicose, borderline etc. não implica dizer “loucura”.
A insanidade tangencia as organizações mentais no conceito de “doença mental”. Nele, aparecem o medo e a desqualificação associados ao sofrimento psíquico da pessoa. A loucura associa-se ao medo da falta de controle, ao caos, à imprevisibilidade, já que em muitos casos esse sofrimento mental leva as pessoas a perder contato com as demais, viver numa realidade própria sem discriminação ou consciência de que essa situação esteja ocorrendo. Formas de sofrimento assim são associadas às psicoses.
Porém, aquele que sofre dessa forma é afetado também pelo estigma social da loucura, que remete ao século 17 – aprendemos com Foucault – e diz respeito à consideração de que o homem tem sua existência fundamentada na razão. É ela que o define e o garante. Assim, tudo aquilo que possa remeter a perda da razão (doença mental ou efeito de drogas que alterem a consciência, por exemplo) acaba por implicar a perda da própria humanidade. Se um homem perde a razão, ele já não é um homem, mas um animal irracional. E aqui não há meio-termo: a pessoa é louca ou sã; tem mente ou é demente. Porém, essa concepção extremista que opõe a ordem ao caos é visivelmente exagerada – nem as pessoas “estatisticamente normais” têm absoluto controle racional sobre suas ações, nem aquele que sofre de doença mental perdeu por completo sua consciência, na maioria dos casos. Mas até a legislação vigente mantém este pressuposto: somos todos considerados responsáveis por nossos atos e por eles temos de responder, a não ser que haja diagnóstico psiquiátrico que ateste uma doença mental. Nesse caso, a pessoa não é considerada im- putável por seus atos.
Mas é preciso levar em conta que alguém reconhecido como insano perde sua condição de cidadania, autonomia e inúmeras possibilidades de inclusão social. A loucura – bem como outros tipos de sofrimento – de alguém com quem não temos envolvimento afetivo não costuma gerar em nós empatia ou compaixão, o que predomina são os sentimentos de medo e repúdio. Mas ao vermos alguém próximo enlouquecer, passamos a temer por nossa própria sanidade. É como se a empatia nos fizesse perceber a proximidade da possibilidade de perder a razão. Em um caso ou em outro, é bastante provável que as pessoas próximas queiram distância do louco. Ele provoca medo, aborrece, cansa, atrapalha.
Sabemos que, desde o século18, a perspectiva do Romantismo atribuiu ao louco uma aura de sabedoria e liberdade ante as cobranças e renúncias que a vida civilizada exige. Mas esta estetização da insanidade e a curiosidade (e mesmo sedução) que ela gera aparece, sobretudo, como idealização à distância, que não resiste ao convívio.
O segundo ponto a ser considerado está ligado à ambivalência no que diz respeito à internação. Um médico passa a ter poderes policiais e judiciais, pode solicitar a internação compulsória (contra a vontade) de alguém e, assim, retirar da pessoa sua condição de cidadão. Passar por internações costuma implicar a perda da condição de ser sujeito de sua vida. Surge aí uma questão extremamente complexa: determinar em que ponto acaba a autonomia de uma pessoa para discriminar sua própria condição de saúde e em que momento um outro (parente ou médico, em geral) passa a ter o direito de solicitar a internação contra a sua vontade.
Esse tipo de situação costuma ser terrível para todos os envolvidos. O familiar que solicita a internação, ainda que cuidando da integridade do internado e mesmo convicto de que seja o mais adequado a fazer, inevitavelmente se sentirá culpado e temerá estar errado. O internado, por sua vez, tende a se considerar sequestrado, traído, desqualificado. Em determinados casos de sofrimento mental, a internação pode vir ao encontro de fantasias de perseguição e exclusão. Além disso, se alguém sofre de modo a perder contato com a realidade externa, não é difícil perceber que ser retirado de seu ambiente potencializa muito a perda dessa conexão.
Não raro, o preço afetivo a ser pago pela internação é alto demais. Há casos em que a ferida que se abre pode não ser mais fechada. Por isto, é tão importante não banalizar essa medida e restringi-la a situações de risco efetivo de violência da pessoa contra si mesma e contra os outros. Depois de duas ou três internações cria-se o que podemos chamar de uma nova figura patológica: o paciente psiquiátrico. Após anos de internações e uso de medicação, torna-se difícil discriminar o quanto do comportamento estranho da pessoa se deve ao sofrimento original ou aos efeitos dos tratamentos. Uma pessoa vista como alguém com poucas chances de voltar à vida normal perde amigos, amores, sonhos; assiste a seus pares segundo suas vidas e se vê ficando para trás. Alguém que toma medicamentos pesados, e os tomará para sempre, enfrenta todas as implicações e efeitos físicos decorrentes desse uso: obesidade, risco de diabetes etc. E, é claro, será alguém com muito medo de ser novamente internado. Muitas vezes, aqueles mesmos que se tornam responsáveis pela pessoa a ameaçam de internação como forma de punição. O louco diz loucuras, sua palavra passa a não valer perante aqueles que supostamente cuidam dele. A ficção cinematográfica eternizou esse tipo de situação em filmes impactantes como Um estranho no ninho (de Milos Forman, 1975), Garota interrompida (de James Mangols, 1999) e, no Brasil, Bicho de sete cabeças (de Lais Bodansky, 2001).  Com a exclusão social, a pessoa costuma ficar cada vez mais próxima à família (caso a tenha e nela encontre acolhimento). Mas mesmo o cuidado de parentes pode acabar por reverter na criação de um ambiente superprotetor, que mantém uma situação infantilizada. Para a psicanálise, este fechamento no ambiente familiar acaba por reproduzir – e tornar crônicos – elementos da própria constituição de muitas formas de sofrimento que podem ter deflagrado a crise o que, por sua vez, levou ao início do tratamento.
NEM TÃO FELIZES
A terceira questão a ser considerada é a “obrigação” contemporânea de ser livre e feliz, que leva os que não se sentem assim a carregarem o peso de estarem “errados”. Retomemos nossa primeira definição de loucura, aquela na qual louco é alguém cujas ações nos pareçam sem sentido. Em nosso ambiente contemporâneo, fortemente influenciado por um humanismo raso – presente na autoajuda e na intensa disseminação da ideia de que somos livres para sermos o que quisermos – uma figura da loucura é a tristeza, a melancolia. Se compramos a ideia tola de que o gozo está disponível a todos a todo o momento, ele passa a ser imperativo. E é isso que nos vendem a todo o momento as propagandas veiculadas pelos meios de comunicação. A experiência de estar triste assemelha, segundo essa lógica, a uma falha moral que deveria ser corrigida. É fácil percebermos o quanto uma pessoa deprimida, para além daquilo que a deprime, sente-seculpada por seu estado. Além de triste, ela se vê como fraca e fracassada, incapaz de obter a felicidade como bem de consumo alegadamente acessível a todos.
Outra figura contemporânea de loucura é a variedade de formas de dependência com as quais nos defrontamos – de drogas legais ou ilegais, games, redes sociais, comida, relacionamentos etc. Uma vez mais tendo como referência humanista o valor da autonomia e liberdade, como entender e aceitar que alguém opte por ser dependente? Essa pessoa sofre cumulativamente: por depender de algo, pelo que a faz depender e pela recriminação moral que recebe. O dependente é chamado de viciado e, como sabemos, vício é um conceito de natureza moral, oposto à virtude. Há ainda uma sobreposição importante com a qual convivemos hoje no campo da loucura é aquela entre o recurso da medicação e os interesses comerciais da indústria farmacêutica.
As facetas, as implicações, as sobreposições e os impasses do sofrimento mental são muitos. No livro Cadê minha sorte? (Loyola, 2009), de Mario Sergio Limberte, um pai que perdeu um filho de 30 anos, diagnosticado com esquizofrenia escreve: “Na nossa cultura dizer a uma pessoa que ela sofre de esquizofrenia é o mesmo que dizer: ‘você está louco’”. Generoso, o livro reúne grande quantidade de informações sobre a patologia, tratamentos e cuidados possíveis. Uma aproximação corajosa e sem preconceito do espectro da loucura.
Fonte: Scientific American.

Nutriente do cacau ajuda a aprimorar memória e raciocínio


Além de favorecer funcões cognitivas, flavonóides também combatem hipertensão. Um recente estudo feito por cientistas da Universidade de L’Áquila, na Itália, em parceiria com a empresa Mars, Inc., publicou uma descoberta que provavelmente agradará a muitos amantes de chocolate: consumir bebidas que contenham flavonóides, susbtâncias naturais presentes no cacau cru, ajuda a melhorar funções cognitivas, como memória e raciocínio. Os pesquisadores analisaram um grupo de 90 idosos com dano cognitivo brando (MCI), um problema cerebral precursor do Alzheimer, e verificaram notável aumento na fluência verbal e no nível de atenção dos participantes que consumiram o composto todos os dias ao longo de 8 semanas.
O motivo da melhora de funções cognitivas ainda é um mistério entre os pesquisadores, mas eles acreditam que o fato possa estar relacionado a um tipo específico de flavonóide, a (-)-epicatequina. Segundo os cientistas, o nutriente ajuda a aumentar a circulação do sangue e estimular o crescimento de vasos sanguíneos, o que favorece a oxigenação no cérebro, melhorando suas funções.
Os resultados preliminares apontam que o composto também pode ajudar a combater  hipertensão. Entre os índios Kuna das ilhas do Panamá, é comum o hábito de tomar em média cinco copos de bebida de cacau rica em flavanóis. Em comparação com a população Kuna do continente, que não tem o mesmo costume, os primeiros apresentam uma taxa muito menor de hipertensos em sua população.
O nutriente também mostrou resultados promissores relacionados a memória de animais. Em um estudo recente, o neurocientista Fred Gage e sua equipe, do Salk Institute, na Alemanha, administraram o composto em lesmas e descobriram que a substância ajudou a aumentar a capacidade dos moluscos de se lembrarem de comandos ensinados pelos pesquisadoros. Segundo o artigo, publicado no Journal of Experimental Biology, o tempo máximo passou de três horas, sem o uso do flavonóide, para mais de um dia inteiro após sua aplicação.
No entanto, poucos produtos apresentam quantidades significativas de (-)-epicatequina. Além disso, o processo de preparação e armazenamento de alimentos que contêm o composto (além do cacau, também vinhos, maçãs e chás) pode prejudicar a ação do nutriente. Os pesquisadores também apontam que ainda não há um padrão para  consumo. Para ingerir 50mg de flavonóides, por exemplo, a mesma quantidade utilizada pelos cientistas da Universidade de L’Áquila, seria preciso comer entre 10 e 20 barras de chocolate por dia, porção com altos níveis de gordura e açúcar que não compensa os benefícios cerebrais.
Fonte: Scientific American.

Antidepressivos poderão ser mais efetivos


Dois estudos decodificaram a estrutura de dois dos receptores de serotonina do cérebro. Na imagem, um receptor conhecido como 1B, com a droga de enxaqueca ergotamina (cor de rosa) acoplada a um de seus locais de ligação.



Pesquisadores decifraram as estruturas moleculares de dois mecanismos chave-e-fechadura cruciais do cérebro.
As duas moléculas são receptores para o neurotransmissor natural serotonina – que regula atividades como sono, apetite e humor – e poderiam fornecer alvos para medicamentos futuros para combater depressão, enxaquecas ou obesidade.
“Isso é ótimo”, declara Bryan Roth, neurofarmacologista da Escola Médica Chapel Hill da University of North Carolina, e um dos coautores dos dois estudos publicados em 22 de março na Science. “Antes disso não havia estrutura cristalina para nenhum receptor de serotonina. Grande parte do que era teórico agora é conhecido com grande nível de certeza”, observa ele.
Há anos cientistas tentam decifrar os receptores de serotonina. Com informações do nível atômico, eles podem ser capazes de realizar avanços na descoberta de medicamentos e na compreensão de como as estruturas físicas do cérebro produzem a consciência, explica Roth.
Christoph Anacker, neurofarmacologista do King’s College London, concorda que as descobertas são importantes para novos medicamentos. “Esses receptores estão envolvidos em muitas doenças, especialmente a depressão, e conhecer as estruturas moleculares ajudará a desenvolver medicamentos mais específicos e evitar a expressão de efeitos colaterais indesejados”.
Mensageiros químicos
Há 14 tipos diferentes de receptores de serotonina conhecidos.
As moléculas ficam nas membranas exteriores das células nervosas; quando medicamentos ou neurotransmissores se acoplam aos receptores do exterior da célula, eles disparam a liberação de outros compostos químicos dentro da célula.
Esses compostos – que podem ser diferentes dependendo do medicamento ou neurotransmissor que os disparou – ativa mais hormônios e metabólitos, produzindo cascatas de sinalização que são, em última análise, responsáveis por muitos aspectos da maneira como nos sentimos, percebemos e comportamos.
Alguns medicamentos se ligam a mais de um receptor, iniciando reações ainda não totalmente compreendidas que podem produzir efeitos colaterais indesejados. Para evitar isso, pesquisadores querem refinar medicamentos para que eles só ativem a rota de sinalização desejada.
Roth e seus colegas descobriram as estruturas receptoras usando cristalografia de raios-X, em que feixes de raios-X são disparados contra cristais do composto, e a estrutura é deduzida a partir do espalhamento dos feixes. 
As equipes se concentraram em dois receptores, chamados de 1B e 2B. Eles descobriram que as moléculas tinham estruturas muito semelhantes nas áreas onde a serotonina se acopla.
Mas em uma área do receptor 1B, o local de ligação era mais vasto que no receptor 2B. Apesar de a diferença ser de meros 0,3 nanômetros, mais ou menos do tamanho de três átomos de hélio, a diferença é suficiente para explicar porque os dois receptores se ligam de maneira diferente a certos compostos.
Essa distinção pode ser relevante para a segurança de medicamentos: acredita-se que alguns remédios que ativam o receptor 2B provoquem problemas cardíacos, e eles foram retirados do mercado por não serem seguros. A conexão valeu ao 2B o apelido de “receptor da morte”.
Sinalização seletiva
Os pesquisadores também investigaram como diferenças em ligações afetavam cascatas químicas.
Elas dispararam tanto o 1B e o 2B com a poderosa droga psicodélica LSD, e um de seus precursores, um medicamento para enxaquecas chamado de ergotamina. As drogas produziram duas cascatas químicas diferentes – proteína-G e β-arrestina – no receptor 1B, mas apenas uma dela (β-arrestina) no receptor 2B.
De acordo com Roth, aprender a controlar as cascatas provavelmente será crucial para maximizar os efeitos benéficos de medicamentos e minimizar efeitos colaterais. “Em alguns casos, a sinalização de proteína-G é boa e a da arrestina, ruim. Em outros sistemas, ocorre o contrário”, explica ele.  
Anacker, no entanto, aponta que receptores de serotonina podem ter efeitos diferentes dependendo de sua localização no cérebro, além de outros fatores. “Seria simples demais dizer que uma cascata é benéfica e a outra, não”, lembra ele.
Fonte: Nature.

Imagens cerebrais podem prever quais criminosos terão recaída


É apenas um estudo preliminar, ainda sem condições de ser usado nos tribunais, mas os resultados tem chamado atenção da comunidade científica. Pela primeira vez na História, scanners cerebrais estão sendo usados para prever a chance de reincidência de um criminoso.
Pesquisadores do Mind Research Network, que fica no estado norte-americano do Novo México, submeteram 96 detentos de uma prisão a uma série de testes que monitoravam a atividade dos seus cérebros. O funcionamento do experimento não poderia ser mais simples: os participantes ficavam de frente para um tela e deveriam apertar um botão toda vez que vissem a letra X. Acontece que a letra X aparecia em 84% das vezes: de resto, era o K (e sua óbvia semelhança estética com o X) que surgia.
Ao analisar as imagens, o interesse dos pesquisadores estava no córtex cingulado anterior, uma das áreas do cérebro que comanda o controle do nosso impulso. Eis a equação: quanto menor a atividade dessa região, pior o desempenho no teste – logo, mais impulsivo, logo mais propenso a voltar a cometer crimes.
Assumir que a impulsividade é sinônimo de reincidência não é especulação ou preconceito. As estatísticas mostraram que, quatro anos após cumprir a sentença, a chance de um preso de cingulado anterior menos ativo voltar pra cadeia é duas vezes maior que a de um colega seu de atividade cerebral alta.
A eficácia dessa previsão, como dito no início do texto, ainda não é comprovada, principalmente porque ninguém sentou pra calcular se a precisão dessa análise compensa o alto preço da estrutura tecnológica que a técnica demanda. Especialistas apontam que se o prisioneiro balançar a cabeça dentro do scanner ou pensar em coisas aleatórias já seria suficiente para minar a previsão. Talvez, a boa e velha conversa com um psicológico ou o acompanhamento diário da evolução do detento ainda sejam o melhor caminho – essa comparação não foi feita até agora.
Além dos 96 prisioneiros analisados na pesquisa, outros 3 mil cérebros de detentos foram scaneados. Os críticos da técnica dizem que o prosseguimento desses estudos pode abrir um precedente tão fascinante quanto perigoso: através de exercícios cognitivos – ou até mesmo de remédios – cientistas podem estimular a atividade no cingulado anterior de pessoas que cometeram delitos, podendo assim diminuir a taxa de criminalidade na população.
Fonte: Wired.

Por que a temperatura do nosso corpo é 37 °C?


Não é por acaso: a maioria dos animais de sangue quente (aves e mamíferos) também mantêm a temperatura corporal entre 35 e 40 °C. É uma vantagem evolutiva: manter o corpo nessa temperatura nos dá explosão muscular e velocidade de reação em qualquer clima. Se a gente tivesse que esperar se adaptar à temperatura ambiente para se mexer, nosso organismo seria sempre retardatário.
Quem regula nossa temperatura é uma parte do cérebro chamado hipotálamo - ele é uma espécie de termostato do nosso organismo, sempre ajustado entre 36,6 e 37 °C. Se ele não fizesse esse controle, seriam afetadas a velocidade das reações químicas e a atividade das enzimas envolvidas no metabolismo. Ou seja, nosso organismo poderia entrar em pane.
Uma temperatura corporal acima dos 45 °C pode fazer as proteínas cozinhar, alterando sua configuração de forma a lesá-las ou matá-las. Já o frio extremo pode levar à formação de cristais de gelo no corpo, lesando mecanicamente as células e alterando a concentração do líquido restante. Uma consequência é o congelamento das extremidades do corpo (mãos e pés, principalmente) e, em casos extremos, ataque cardíaco.
Para manter a temperatura constante, a evolução nos dotou de alguns truques. Para liberar calor, o principal mecanismo é a transpiração, cujo objetivo é refrescar a pele. Durante uma exposição prolongada ao frio, a estratégia é ficar arrepiado e tremer, tentativas de manter a temperatura.
Fonte: Superinteressante.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Nossa vida exposta na internet


Você já deve ter conhecido alguém que é legal na vida real, mas na internet é inconveniente. Aquela pessoa que posta fotos de cachorro abandonado, do parente no hospital, ou ainda de momentos íntimos. O contrário também é comum. Você conhece uma pessoa pela internet, seja porque ela é engraçada ou porque é amigo de algum amigo e que parece ser legal, mas quando encontra pessoalmente, o charme se vai. Esses desencontros passaram a fazer parte da nossa vida há pouco tempo: nossa identidade virtual foi colada em quem realmente somos socialmente.
Um sábio uma vez falou que “o twitter me fez gostar de pessoas que não conheço e o facebook me fez odiar pessoas que conheço há anos”. Na internet as pessoas se revelam de outra forma, e ainda há muito o que ser equilibrado para que a etiqueta social seja aplicada na vida virtual.
Muito desse descompasso está em poder criar uma persona arbitrariamente editada na internet. Eu escolho qual foto colocar no meu perfil, quais nuances ressaltar da minha personalidade, qual gosto por músicas ou filmes eu divulgarei e quais opiniões sobre os acontecimentos eu darei. Tudo pode ser meticulosamente calculado. Quem não tem noção do perigo que pode ser expor algo íntimo na internet (pelo fato daquilo nunca mais ser apagado), corre o risco de queimar sua imagem para sempre.
Penso que muito desse conflito é causado porque a internet preenche um vazio da solidão do mundo moderno. Ela te acostuma a ter novidades o tempo todo, a se mostrar e ser aceito pelos seus gostos. O like nada mais é que um abraço – e não fui eu que criei esse conceito. Você entra na lógica de se expor e ser aceito e precisa retroalimentar o processo o tempo todo. Viramos “sacos sem fundo” de carência.
Quem tem Instagram pode perceber isso claramente. Há sempre alguém fazendo algo mais legal que você, em uma casa mais bem decorada que a sua, comendo uma comida melhor que o seu jantar. Há até uma síndrome nomeada de ‘Fear Of Missing Out’ para definir esse descompasso: é como se sempre estívessemos deixando de viver uma vida maravilhosa o tempo todo.
Acredito portanto que as pessoas que se expõem erroneamente na internet estão tentando entrar nesse ritmo, criar pessoas interessantes, conviver socialmente numa posição de destaque, mas que estão claramente falhando. E isso é compreensível. É dificílimo se sair bem. São muitas ferramentas, estímulos. Uma hora é legal gostar de uma banda e minutos depois isso foi vencido e já ficou determinado que é ridículo.
Outro dia brinquei: “se você comeu e não tirou foto, essa refeição existiu?”, numa alusão à máxima filosófica “Se uma árvore cai na floresta mas não há ninguém por perto, ela faz barulho?”. Será que só faz sentido ir a um show se ele for instagramável, tuitável ou compartilhável? Quem nunca sentiu ansiedade de estar vivendo um momento e não poder compartilhar com uma dezena de outras pessoas, que atire a primeira pedra. Vivemos em uma lógica de sempre divulgar o que estamos fazendo para sermos admirados. Viramos assessores de imprensa de nós mesmos.
Será que dá para dar um passo atrás? Eu realmente não sei. Gostaria de propor um desafio para nos afastarmos um pouco dessa lógica, sairmos de casa sem câmera, sem smartphone, e viver um pouco, mas me parece tão banal e mais ainda: tão brutal. Será que dá? Não sei.
Texto da colunista Débora Nogueira.

Só um novo amor cura um pé na bunda?


Todo mundo que já levou um fora e procurou a solução para sua angústia nos amigos, no Google ou na mesa do bar sabe do que estamos falando. Você pergunta qual é o remédio para o sofrimento, o vazio, o desespero de ter sido deixado. E a voz do povo garante que o melhor antídoto é dar um trato no visual, sair por aí, conhecer gente e, finalmente, se apaixonar de novo. A fila anda, afinal. Dizendo assim até parece fácil.
Embora os cientistas ainda não tenham encontrado uma solução efetiva para o mal que acomete um coração partido, já mapearam o que acontece na nossa cabeça e no nosso corpo quando um relacionamento termina. Psicólogos e neurocientistas concordam que a recuperação de um coração partido tem duas fases: primeiro, vem o protesto. Ao ouvir dele ou dela que tudo acabou, você não vai acreditar, vai mandar flores, vai acessar o perfil no Facebook uma vez por segundo, vai insistir e se humilhar para que a pessoa volte.
Há quem chame isso de chilique, mas no livro Uma Teoria Geral do Amor, os psiquiatras Thomas Lewis, Fari Amini e Richard Lannon afirmam que o protesto é um mecanismo de defesa dos mamíferos que vivem em grupos, acionado quando qualquer laço afetivo é rompido. Você já viu o que acontece quando um filhote de cachorro é separado da mãe? Ele se debate, tenta subir pelas paredes, late, chora. Tal comportamento estaria associado à elevada produção de dopamina e norepinefrina, dois neurotransmissores que deixam o indivíduo alerta e o estimulam a procurar ajuda - afinal, em termos evolutivos, não era bom ficar sozinho na selva, sem ajuda para conseguir alimento ou para se defender de ameaças.
Nos humanos, esses dois hormônios ficam em alta quando você está apaixonado e causam aquela euforia que só se acalma quando a pessoa está ao lado - é como uma droga mesmo. Quando levamos um fora no auge da paixão, esses hormônios são os culpados por uma crise de abstinência e por esse inconformismo. Os níveis de cortisol, hormônio produzido quando passamos por situações de estresse agudo, também vão aumentar, prolongando a vigília - é por isso que, após um rompimento, você é capaz de passar a noite fitando o teto.
A fase de protesto não dura para sempre - se você está perdido na floresta e sua mãe desapareceu, não parece muito inteligente continuar berrando e chamando a atenção de predadores. Pelo menos, essa é a hipótese dos autores do livro. Depois de um tempo, começa a fase do desânimo. O mau humor dá lugar à letargia, porque a dopamina diminuirá a produção de serotonina, que em desequilíbrio está associada à depressão. Assim como você, os filhotes isolados também não sentem vontade de comer nem de interagir e, caso alguém queira brincar, não dão a menor bola. O cortisol continuará agindo e sua imunidade vai cair. Ou seja, você ainda corre o risco de adoecer e achar que vai morrer.
Claro que é bem mais provável que você sobreviva. Quando o equilíbrio químico se restabelecer no seu cérebro, você será capaz de olhar para o lado de novo. Ou seja: mesmo que tenha saído com outras pessoas na fase deprê, as drogas da paixão - dopamina e norepinefrina -tendem a manter seu vício no ex. O hormônio envolvido no desejo é outro - a testosterona - que não interfere nesse jogo. Só se essa transa fosse fenomenal (o que é mais difícil quando você está na fossa), novos hormônios, como a ocitocina, poderiam te levar a se apaixonar de novo e logo. É o que explica a antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, nos EUA, e autora do livro Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love.
É difícil prever quanto tempo levará para você se recuperar do tombo, pois aí contam o seu histórico de relacionamentos, a imagem que você tem de si etc. O que se sabe é que a recuperação costuma ser mais ligeira do que a gente imagina. Segundo um estudo da Universidade Northwestern, nos EUA, que acompanhou jovens após romperem namoros de 14 meses, o tempo médio até estarem prontos a flertar de novo era de 10 semanas - metade do que os voluntários previram na fase de sofrimento.
O jeito então é esperar? Analisando 105 pessoas que romperam casamentos longos, por 9 meses, psicólogos da Universidade do Arizona descobriram que quem demonstrou mais autocompaixão - ou melhor, não se culpa pelo fim - se recuperou melhor. Outros fatores como autoestima, facilidade para se relacionar ou otimismo não foram tão importantes. A conclusão? Ser resiliente, não achar que fracassou como pessoa e entender que o fora faz parte da experiência humana é a melhor solução para sair logo dessa - e não sair pegando geral.
Ninguém morre de amor
Morre sim. E não estamos falando de Romeu e Julieta, que se matam porque não podem viver juntos. Em artigo publicado em 2011, pesquisadores de Harvard analisaram durante 5 anos dados de pacientes que sofreram ataque cardíaco. Descobriram que a morte do companheiro ou de uma pessoa querida aumenta em 21 vezes o risco de infarto do miocárdio nos 6 meses subsequentes, pois os hormônios liberados com o estresse acelerariam a pressão sanguínea, a frequência cardíaca e a formação de coágulos. Para os cientistas, a rejeição amorosa teria efeito parecido - afinal, provoca reações químicas no corpo semelhantes àquelas desencadeadas pelo luto.

Como dói a dor de amar
Em 2010, pesquisadores da Universidade de Colúmbia usaram um equipamento de ressonância magnética para examinar o cérebro de 40 voluntários que estavam sofrendo por desilusão amorosa. Os participantes tinham que dizer qual a intensidade da dor que sentiam quando os pesquisadores lhes mostravam a foto de um ex e a de um amigo. Tinham também que classificar sua dor em relação a estímulos físicos: seguravam um copo de café quente e, na sequência, uma sonda de temperatura amena era encostada em sua pele. Edward Smith, o psicólogo que coordenou o experimento, constatou que a dor provocada pela queimadura do copo de café e a dor provocada pela foto do ex tinham o mesmo nível de intensidade. Além disso, a ressonância magnética mostrou a ativação dos mesmos circuitos neurais quando os participantes olhavam a foto do ex-amor e quando sua mão era queimada. Ou seja, ao que tudo indica, a famosa dor de amor pode, sim, ser física.
Fonte: Superinteressante.

Polêmica: assuntos que mais dividem opinião são aborto, suicídio assistido e filho fora do casamento


O que fazer quando metade é a favor, e metade é contra? Uma nova pesquisa descobriu os assuntos mais polêmicos entre os americanos: o suicídio assistido por médicos, o aborto e ter um filho fora do casamento.
De acordo com os resultados, 45% dos americanos acham o suicídio assistido por médicos moralmente aceitável, enquanto 48% dizem que é moralmente errado. O aborto foi a segunda questão mais polêmica, com 39% dizendo que a interrupção da gravidez é aceitável e 51% desaprovando. Ter um filho fora do casamento foi o terceiro assunto mais “dividido”, com 54% dizendo que é ok, e 41% dizendo “de jeito nenhum”.
Outras questões controversas têm maior apoio de um lado ou de outro. Os americanos são a favor de vestir casacos de pele, homossexualismo, e testes médicos em animais por uma diferença de 17%, com 55 ou 56% dizendo que essas ações são ok.
Sexo entre homem e mulher solteiros (não casados) é bem aceito, com 60% dos norte-americanos dizendo que é moral, mas 62% afirmam que clonagem é errada. Outros 62% desaprovam pesquisas com embriões humanos.
Cerca de dois terços dos americanos dizem que jogos de azar e pornografia são moralmente errados, enquanto 65% aprovam a pena de morte. 69% dizem que o divórcio é aceitável e 23% desaprovam.
Os americanos rejeitaram fortemente outras questões, como, por exemplo, 80% disseram que suicídio é errado, e 84% desaprovaram a clonagem humana. 86% disseram não a poligamia. E se há algo com que a qual os americanos concordam é traição: 91% disseram que casos entre pessoas casadas são moralmente errados.
E esses resultados e opiniões, têm a ver com o novo mundo ou uma nova cultura? Ainda que as diferenças entre o que é moral ou não permaneçam relativamente estáveis desde 2001, surgiram diferenças entre gerações em alguns casos.
Cerca de 42% dos adultos com idade entre 18 e 34 anos disseram que a pornografia era ok, um número que caiu para 29% entre pessoas com 35 a 54 anos, e para 19% nas pessoas com 55 anos ou mais. Dois terços dos jovens americanos aprovavam relacionamentos gays e lésbicos, em comparação com 56% do grupo de meia idade e apenas 47% das pessoas acima de 55 anos.
Os adultos mais jovens também são mais tolerantes com sexo antes do casamento, bebês nascidos fora do casamento, poligamia, aborto e clonagem humana. Eles são menos propensos a apoiar pena de morte ou aprovar testes médicos em animais.
Fonte: LiveScience.

Políticas anti-bullying nas escolas diminuem frequência de suicídio entre jovens gays


Adolescentes gays, lésbicas ou bissexuais têm cinco vezes mais chances de cometer suicídio do que jovens heterossexuais. Porém, um ambiente favorável na escolas e na comunidade – o que, infelizmente, não acontece sempre – pode fazer a diferença, sugere uma nova pesquisa.
O suicídio é a terceira principal causa de morte de jovens entre 15 a 24 anos – e os adolescentes gays, lésbicas ou bissexuais (LGB) são mais propensos a tentar o suicídio, de acordo com os autores do estudo.
Liderado por Mark Hatzenbuehler, da Universidade de Columbia, Estados Unidos, os pesquisadores entrevistaram mais de 30 mil alunos do Ensino Médio em onze diferentes municípios no estado do Oregon. Os resultados mostraram que cerca de 20% dos adolescentes GLB haviam tentado cometer suicídio nos 12 meses anteriores à pesquisa, enquanto a taxa entre os heterossexuais foi de apenas 4%.
Os autores também analisaram o ambiente em que o aluno está inserido. Eles estudaram as iniciativas por parte da escola – como políticas específicas anti-bullying contra homossexuais ou políticas anti-discriminação -, a união entre gays e heterossexuais – grupos de estudantes que trabalham para aumentar a tolerância entre os jovens homossexuais e heterossexuais, por exemplo -, a presença de casais do mesmo sexo na área e as tendências políticas do município.
Jovens GLB jovens que vivem em um ambiente social mais favorável aos homossexuais – com políticas anti-discriminação, por exemplo – têm 25% menos probabilidade de tentar suicídio do que aqueles que vivem em ambientes desfavorável​​. Surpreendentemente, um ambiente de apoio ao gays também tem consequências positivas aos heterossexuais: jovens héteros possuem 9% menos chances de tentar tirar a própria vida.
“Os resultados deste estudo são bastante atraentes”, avalia Hatzenbuehler. “Quando a comunidade oferece apoio ao jovem gay e as escolas adota medidas anti-bullying e políticas anti-discriminação que, especificamente, protegem esses adolescentes, o risco de tentativa de suicídio cai para todos os jovens, especialmente os GLB”.
Um estudo publicado no ano passado mostrou que o apoio dos pais também pode desempenhar um importante papel no bem-estar de adolescentes gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Publicado no Jornal da Psiquiatria Infantil e Adolescente, o estudo aponta comportamentos específicos dos pais, tais como a defesa de seus filhos quando eles são maltratados devido à sua identidade GLBT e o apoio de sua expressão sexual, estão ligados a um menor risco de depressão, abuso de drogas, pensamentos suicidas e até mesmo tentativas de suicídio na idade adulta.
Segundo os pesquisadores, as escolas devem iniciar e apoiar estes tipos de políticas de apoio e alianças entre gays e heterossexuais. “A boa notícia é que este estudo sugere um roteiro de como podemos reduzir as tentativas de suicídio entre jovens gays, lésbicas e bissexuais”, comemora Hatzenbuehler. “O estudo mostra que a escola que cria um ambiente confortável para os jovens gays acaba ajudando os héteros também. Foram encontrados melhores resultados na saúde de todos os jovens”, completa.
Fonte: LiveScience.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Escolas americanas pagam crianças que vão bem em exames


Quer ganhar dinheiro só pra estudar? Mude-se para Virginia Beach, EUA. Lá, as escolas de ensino médio estão oferecendo incentivos em dinheiro tanto para alunos quanto para professores baseados em boas notas em seus exames de “Colocação Avançada”.
Aparentemente, um tapinha nas costas não é mais suficiente: para estudar, um aluno precisa receber até 100 dólares (cerca de 180 reais) por cada exame em que ele pontue 3, 4 ou 5, numa escala de 5 pontos.
As primeiras escolas a adotar essa nova técnica foram as Escolas de Ensino Médio Salem e Green Run. E da onde vem o dinheiro que as escolas estão usando para isso?
Aparentemente, de uma concessão privada que está ajudando a pagar por todos os prêmios em dinheiro. As Escolas Salem também fizeram uma parceria com a Iniciativa Nacional americana de Matemática e Ciências.
Esses exames avançados são considerados bastante rigorosos, preparando os alunos para o que eles vão enfrentar na faculdade.
E, segundo os professores, os prêmios são apenas uma maneira de incentivar os alunos a terem responsabilidades.
O orçamento da concessão privada também ajuda a melhorar o ensino e a formação dos professores.
Parece uma boa ideia incentivar as crianças a ter um interesse acadêmico sério, mas as implicações de “pagá-las” para estudar, a longo prazo, ainda são desconhecidas. O que você acha?
Fonte: OddityCentral.

Córtex de centenários com memória ótima é mais espesso


Enquanto a maioria dos idosos com mais de 80 anos sofre perdas cognitivas perceptíveis, existe uma “elite” que conserva até perto dos 100 anos memória equivalente à de pessoas de 50. A neurologista Emily Rogalski, da Universidade Northwestern, em Chicago, registrou, por meio de ressonância magnética tridimensional, neuroimagens de 12 super agers, como ela se refere a essa população, e descobriu uma diferença anatômica em seu cérebro: um córtex mais espesso. Essa região é associada à memória, à concentração e a outras habilidades cognitivas sofisticadas.
“O córtex de pessoas com mais de 80 anos é geralmente mais tênue, mas, nos super agers, tem espessura semelhante ao de pessoas de meia-idade”, diz Emily. Em artigo publicado no Journal of Neuropsychological Society, ela explica que identificar os mecanismos envolvidos na aparente proteção contra a perda de matéria cinzenta, natural no processo de envelhecimento, pode ajudar a desenvolver novas intervenções para preservar capacidades cognitivas e combater sintomas de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. “Podemos dizer que a espessura cortical oferece uma medida indireta da saúde do cérebro. Um córtex mais denso sugere que há mais neurônios funcionando”, explica a neurologista, que também identificou outra parte mais espessa no cérebro desses idosos: o córtex cingulado, ligado à concentração. “Isso é surpreendente, pois a atenção suporta a memória – e essa habilidade é ‘afiada’ nos super agers”, observa. 
Fonte: Scientific American.

O amor é cego literalmente


Quem está apaixonado fica em estado de graça: meio aéreo, sem prestar muita atenção no que está se passando a sua volta. Isso todo mundo já sabe. Mas cientistas da Universidade da Flórida acabam de descobrir que a coisa pode ir muito além: o amor torna o cérebro humano literalmente incapaz de prestar atenção em rostos muito bonitos.
Os pesquisadores fizeram um estudo para medir a atenção de 113 homens e mulheres, que foram expostos a fotos de pessoas lindas (e outras não tão bonitas). Metade dos voluntários teve de escrever, antes da experiência, um pequeno texto falando sobre o amor que tinha por seu parceiro. A outra metade fez uma redação genérica, sobre felicidade. Em seguida, as fotos foram exibidas - com os olhos dos voluntários monitorados por um computador. Quem tinha escrito (e pensado) em amor passou a ignorar as imagens de pessoas bonitas - seus olhos simplesmente não se fixavam sobre as fotos. E essa rejeição só acontecia com as fotos de gente linda; com as imagens de pessoas comuns, não havia diferença.
Segundo os cientistas, isso acontece porque, quando as pessoas pensam em amor, seu neocórtex passa a repelir pessoas muito atraentes - que são tentadoras e têm mais chances de levar alguém a praticar adultério. O mais impressionante é que, entre os homens, esse mecanismo antitraição é 4 vezes mais forte do que nas mulheres.
Os cientistas especulam que ele teria se desenvolvido, ao longo da evolução, para ajudar os machos a se manterem monogâmicos. "Há muitos benefícios evolutivos em uma relação monogâmica, e o organismo leva isso em conta", diz o psicólogo Jon Maner.
Fonte: Superinteressante.

Por que sentimos mais dor no frio?


Sabe a diferença entre fatalidade e tragédia? Fatalidade é bater o pé no batente da porta; tragédia é bater em um dia frio. O que torna a dor maior nas temperaturas menores é a contração dos músculos e dos vasos sanguíneos.
A intenção do nosso corpo até que é das melhores: os músculos se contraem involuntariamente para se manterem aquecidos, e o sangue sai das articulações em direção ao tronco para manter nossa temperatura constante. O problema, como qualquer mindinho pode confirmar, é que uma pancada em uma articulação contraída e sem sangue dói muito mais que uma normal. Uma hipótese é que, além disso, o frio tornaria mais sensíveis os receptores livres, os terminais nervosos que levam a sensação de dor para o cérebro.
Segundo a psicologia evolutiva, a intenção é que doa mais mesmo. Parece contraintuitivo, mas a teoria é a seguinte: como no frio a prioridade é se aquecer, não se mexer, ao longo do tempo teriam sido selecionados os indivíduos que sentiam mais dor e, consequentemente, se arriscavam menos baixas temperaturas. Como diz o sociobiólogo Robert Trivers, "a Mãe Natureza prefere seus filhos mais comportados".
Fonte: Superinteressante.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Como o cérebro age na ansiedade


Um estudo feito pela Universidade da Carolina do Norte explica como duas regiões do cérebro interagem para produzir comportamentos relacionados à sentimentos - como ansiedade. As descobertas podem levar ao desenvolvimento de melhores tratamentos para distúrbios como depressão e ansiedade.
A interação acontece quando neurônios de uma parte do cêrebro, conhecida como amídala, ficam hiperativos, estimulados por situações estressantes. Estes neurônios, que controlam emoções como o medo, estimulam a ação de uma outra área do cérebro, a Área Tegumentar Ventral, associada à compensação. Ou seja, uma área associada à ansiedade está diretamente ligada a outra associada a recompensas.
Se cientistas conseguirem entender corretamente a dinâmica dessa interação, será possível fazer com que pessoas não se sintam motivadas pelo seu próprio cérebro a ter atitudes que não lhe fazem bem, como vícios em drogas e o comportamento depressivo por exemplo.
Fonte: ScienceDaily. 

Universitários criam gel que consegue controlar sangramentos instantaneamente


Dois estudantes da Universidade de Nova York (NYU), Joe Landolina e Isaac Miller, criaram uma fórmula que pode facilitar a vida dos profissionais de saúde. A invenção é um gel “mágico” chamado Veti-Gel, que é capaz de parar qualquer tipo de sangramento, inclusive os mais intensos.
A criação é uma versão artificial da matriz extracelular, um ingrediente do tecido conjuntivo que tem a função de sustentar o corpo. É como se fosse uma cola, que dá liga entre os outros tecidos. “É como se o gel dissesse para o seu corpo parar a hemorragia”, diz um dos estudantes.
Além de fechar os cortes, o Veti-Gel também começa a curar feridas graves nos órgãos internos e artérias principais. “Não existe uma maneira rápida para controlar sangramentos, exceto manter muitas gazes sobre a ferida”, disse Landolina. “Pensei que se eu pudesse colocar este gel ali, ele se solidificaria e pararia o fluxo de sangue“.
No vídeo abaixo, é possível ver a ação do gel em um pedaço de carne de porco. Em um primeiro momento, o sangue corre livremente. Mas depois da aplicação do gel e de um líquido que acelera a coagulação, o sangramento para. Veja:

Fonte: Superinteressante.

Preferência sexual não é opção


Na hora do sexo, você gosta de homens ou de mulheres? Acha que isso é uma escolha consciente, que pode ser “certa” ou “errada”, ou uma questão biológica, mera constatação das preferências do seu cérebro, da mesma maneira que se constata a cor da pele ou dos cabelos?
Toda a neurociência indica que a orientação sexual é inata, determinada biologicamente e antes mesmo do nascimento. Aliás, o termo correto para designar a heterossexualidade ou homossexualidade é “preferência” sexual e não “opção” sexual. A razão é simples: interessar-se sexualmente por homens ou mulheres é algo que seu cérebro faz automaticamente, pouco importando o que você pensa a respeito. Opção, isso sim, é o que você faz com a sua preferência: assume publicamente, abraça e curte, ou tenta abafar, esconder, ou mesmo ir contra ela.
Que religiosos e políticos esperneiem à vontade, mas não há qualquer evidência de que o ambiente social influencie a preferência sexual, humana ou de outros bichos. Cerca de 10% dos homens e das mulheres preferem parceiros do mesmo sexo. A estatística não muda entre pessoas criadas por pai e mãe, dois pais, duas mães, com religião ou sem ela. Tentativas sociais de convencer humanos ou outros animais a mudar de preferência sexual nunca deram muito certo.
A preferência sexual está associada à maneira como o hipotálamo responde a feromônios, substâncias pouco voláteis produzidas pelo corpo, mas que ainda assim entram nariz adentro e surtem efeitos sobre o hipotálamo. Um estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, mostrou poucos anos atrás que o hipotálamo de cada pessoa é preferencialmente sensível a um de dois tipos de feromônios: ou o feminino, ou o masculino.
O hipotálamo de homens heterossexuais – e também o das mulheres homossexuais – responde fortemente ao feromônio produzido somente por mulheres, chamado EST. Ao contrário, o hipotálamo de mulheres heterossexuais, e também de homens homossexuais, responde preferencialmente ao feromônio masculino, AND. Com tudo o que se conhece sobre a região envolvida do hipotálamo, deve se seguir uma cascata de eventos em outras áreas do cérebro, como a amígdala, o córtex cerebral e o sistema de recompensa, que provocam excitação sexual e fazem com que se busque o dono, ou a dona, do feromônio que ativou o hipotálamo.
O padrão de resposta do hipotálamo, portanto, concorda não com o sexo de cada pessoa, e sim com sua preferência sexual – e, com base em tudo o que já se sabia antes, provavelmente dita essa preferência. São sexualmente excitáveis por mulheres aqueles proprietários de hipotálamo que responde ao EST, feromônio feminino, e não ao AND; são excitáveis por homens, que por definição produzem o feromônio AND, os donos de hipotálamo sensível ao AND – sejam eles mulheres ou homens.
Revelada quando o cérebro adolescente, sensibilizado pelos hormônios sexuais produzidos sob seu controle, expressa o caminho que tomou ainda na gestação, a preferência sexual não se escolhe: descobre-se. Por isso, ela é exatamente tão “correta” quanto a cor da sua pele. Tentar mudar a preferência sexual é como insistir que uma pessoa troque a cor da pele, se torne mais baixa, ou tenha olhos de outra cor. É como exigir que você, leitor, com 90% de chance de ser heterossexual, agora tenha de se relacionar com pessoas do seu próprio sexo. Gostou da ideia? Aposto que não. É inviável, inútil e injusto.
Fonte: Scientific American.

Dormir pouco pode acabar com seu namoro


Esse negócio de ficar sem dormir acaba com a vida de qualquer um: deixa você mais feio, com cara de acabado, cada vez mais gordo, mau caráter (pois é), e ainda pode colocar um fim no seu relacionamento.
É que quando dormimos pouco, ficamos mais egoístas. E sem tempo (ou paciência) para agradecer ou prestar atenção nos cuidados e carinhos do parceiro. Aí se a chatice for constante e seu amor se sentir desvalorizado, por conta da falta de atenção e reconhecimento, as chances de seu namoro acabar mal e antes do que você desejava são bem grandes.
Foi o que indicou a pesquisa da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos. Eles convidaram 60 casais, de 18 até 56 anos, para participarem de dois testes. No primeiro, cada voluntário teve de listas em um diário, durante alguns dias, 5 atitudes legais do parceiro que mereciam reconhecimento. Eles também relatavam quanto tempo haviam dormido – e se tinha sido uma boa noite de sono. No segundo experimento, os casais tiveram de resolver, juntos, alguns desafios de lógica.
Em geral, nos dois casos, quem dormia pouco se importava e valorizava menos o parceiro – e nem sequer se davam conta disso.
Por via das dúvidas, melhor ir dormir…
Fonte: Superinteressante.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Por que assistimos a reprises


Zapeando com o controle remoto, você descobre um canal que está transmitindo seu seriado preferido – ou melhor, seu programa predileto há mais ou menos dez anos – e fica feliz por poder rever cenas que já assistiu ao menos duas vezes no passado. Segundo Cristel Russo, professora de marketing da Universidade do Arizona, o “reconsumo”, em suas palavras, de filmes, séries de TV e afins é um fenômeno mais complexo do que parece. Além de o cérebro poder antecipar o tipo de recompensa que receberá (riso, surpresa, emoção etc.), “gostamos de com-parar como nossa vida mudou desde a primeira vez em que vimos o filme ou o programa”, diz Cristel.
Em estudo publicado no Journal of Consumer Research, ela entrevistou 23 pessoas que haviam recentemente relido um livro, visto outra vez um filme ou retornado a um local para passar férias. Com perguntas bem abrangentes, ela estimulou os voluntários a falar muito e a fazer  descrições da experiência. A análise das respostas, gravadas pelos pesquisadores, permitiu identificar uma grande motivação para a repetição: a previsibilidade. “É bom saber que algo que nos emociona, anima ou relaxa vai acontecer – e poder degustar a chegada do momento”, afirma a pesquisadora. A oportunidade de reconhecer que algumas emoções ficaram no passado é outro fator importante. “Uma participante que assistiu ao filme Uma carta de amor (Message in a bottle, 1999) disse que o longa a estava ajudando a superar um relacionamento que terminou – cada vez que revia as cenas, descobria novas evidências de que havia tomado a decisão certa”, conta Cristel, que parafraseia o filósofo Heráclito: “Passamos por um mesmo rio para verificar que não somos mais os mesmos”.
Fonte: Scientific American.

A história sangrenta da medicina


A ASSUSTADORA HISTÓRIA DA MEDICINA
Seu medo de ir ao médico tem remédio. Depois de ler esta matéria, você vai dar graças a Deus por ter consulta marcada com um profissional do século 21. Até a alguns séculos, o conhecimento da medicina era mais instintivo do que documentado, os utensílios pareciam saídos de filmes de terror e recursos como esterilização e anestesia eram meras sugestões. Esta é, literalmente, uma história de sangue, suor e lágrimas – e cabia aos pacientes fornecer o primeiro e o último.
BURACO NA CABEÇA
EGITO - 3000 a.C.
Egípcios se especializaram no primeiro tipo de cirurgia de que se tem registro.
1) Praticada desde a Pré-História, a trepanação foi o primeiro tipo de cirurgia conhecido. Era comum na Índia, na China, na África e no Peru. Em torno de 3000 a.C., os egípcios se tornaram experts nesse procedimento porque conheciam bem o cérebro humano graças às mumificações. Ele servia para diminuir a pressão intracraniana, retirar coágulos, curar enxaqueca ou insanidade e até mesmo para “expelir maus espíritos”.
2) O tratamento consistia em furar o crânio, arrancar um pedaço do osso até a altura da membrana que recobre o cérebro, mas sem penetrar na camada chamada dura- máter. O tamanho, a quantidade de buracos e os instrumentos utilizados variaram com o tempo, mas os egípcios gostavam de usar uma broca e uma espátula para fazer de um a três rombos com cerca de 2 cm de diâmetro. E sem anestesia!
3) Depois da cirurgia, o paciente usava uma bandagem de linho, mas os buracos ficavam lá pelo resto da vida. “O couro cabeludo e o cabelo voltam a crescer sobre parte da abertura, mas a pessoa nunca mais volta a ter osso naquele ponto”, diz Lara Frame, antropóloga norte-americana da East Carolina University. Na Roma antiga, o osso era moído e diluído em bebida – considerado um remédio revitalizante.
FURA O ZÓIO
PAÍSES ÁRABES - SÉCULO 12
Muçulmanos faziam operações oftalmológicas com agulhas cegas.
1) Se você tivesse problemas de visão durante a Alta Idade Média, não haveria melhor lugar para se tratar do que nos países árabes. Mestres na fabricação de óculos desde o século 8, “os médicos muçulmanos desenvolveram técnicas de raspagem semelhantes às usadas hoje para tratar a catarata”, afirma Emilie Savage-Smith, professora de história da ciência islâmica.
2) Eles evitavam ao máximo fazer cirurgias, mas, em casos extremos, recorriam a centros hospitalares em Bagdá, em Damasco e no Cairo. Sentado de modo que seu rosto ficasse na altura do rosto do médico, o paciente era imobilizado por três assistentes e recebia pequenos ganchos nas pálpebras para não piscar. Então, o cirurgião usava uma agulha sem ponta para penetrar o globo ocular e raspar o cristalino, a “lente” que regula o foco.
3) Depois, ele retirava a agulha e o paciente avaliava, olhando para a parede, se a visão estava mais nítida. O processo era repetido três ou quatro vezes. Aí, a região era lavada com água salgada e o operado repousava por até uma semana. A técnica pode parecer radical, mas funcionava – textos islâmicos foram traduzidos para o latim, influenciaram a medicina europeia durante o Renascimento e são estudados até hoje.
Os islâmicos foram os primeiros a discordar do grego Hipócrates, que dizia que a imagem se formava no ar e chegava pronta ao olho.
PITANGUY DA RENASCENÇA
ITÁLIA - SÉCULO 16
Cirurgias plásticas não são novidade. Elas já enriqueciam médicos há cerca de 500 anos.
1) Já no século 6 a.C., o indiano Sushruta, primeiro cirurgião conhecido da história, assinou obras descrevendo o processo de reconstituição ou alteração do rosto. Seu método mais famoso era a reconstituição do nariz, que era talhado com uma lâmina e depois recoberto com pele do queixo. Mas foi na itália do século 16 que a técnica atingiu uma sofisticação inédita.
2) Em geral, quem exigia o serviço eram homens vítimas de agressão, facada ou tiro e também quem tinha sífilis avançada (a doença desfigurava o rosto, expondo a pessoa à vergonha pública). O médico começava “refazendo” o nariz antigo (ou o que havia sobrado dele) com um bisturi rudimentar. E, claro, tudo sem anestesia. No máximo, ele recomendava uma dose forte de bebida.
3) Com o novo órgão esculpido em carne viva, o cirurgião desenhava um prisma, no tamanho certo, na parte interna do braço do paciente. Com uma faca afiada, ele cortava a figura, exceto em uma das pontas. Como era preciso levar junto com esse enxerto os vasos sanguíneos, restava um buraco profundo no braço do paciente, que era preenchido com ataduras.
4) Gaspare Tagliacozzi, que inventou a técnica, batizou o pedaço de pele cortada de pendículo. Ele era usado para cobrir o nariz, devidamente afixado com suturas nas laterais. Como ainda estava ligado ao organismo (na extremidade não cortada no braço), ele recebia circulação de sangue normalmente e, assim, podia cicatrizar lentamente sobre o rosto, sem necrosar.
5) O problema é que, durante a regeneração, o paciente tinha de ficar com o braço “colado” à face, sem movê-lo. Para isso, ele recebia um curioso corselete de couro, com tiras desenhadas sob medida. Passadas duas semanas, Tagliacozzi cortava o pendículo. A essa altura, o enxerto já exalava um cheiro horrível e o paciente mal sentia o braço, que havia atrofiado.
6) O doutor finalizava a napa com sua faca, criava novas ataduras e escorava tudo com talas. Só após mais três meses ele permitia que o paciente se olhasse no espelho. A não ser que a camada de pele tivesse infeccionado (nesse caso, estaria toda preta), o resultado costumava ser satisfatório – o que acabou garantindo uma bela fortuna para Tagliacozzi ao longo dos anos.
ARRANCADO À FORÇA
INGLATERRA - SÉCULO 17
O primeiro método para facilitar o parto, o fórceps, era um perigo para o bebê.
1) Mesmo com o avanço da medicina, demorou séculos até que o nascimento virasse um processo cirúrgico. Antes, a mãe costumava ser acompanhada só por parteiras ou sacerdotisas. Se algo desse errado, quase sempre ela morria com o sofrimento. Na Antiguidade, a barriga da mãe só era cortada se ela falecesse – o bebê podia sair dali vivo ou morto.
2) Até o século 17, a gravidez era assunto exclusivo das mulheres. Foi só então que os médicos começaram a acompanhar a gestação. Ainda assim, era quase impossível determinar o estado e o tamanho do feto ou em qual semana de gravidez a mulher estava. Portanto, o parto ocorria de surpresa. O doutor era chamado às pressas para conduzi-lo, geralmente no quarto da parturiente.
3) Foi para facilitar a observação clínica que as mulheres passaram a dar à luz deitadas – antes, o comum era fazerem-no sentadas ou de cócoras! E o primeiro procedimento para facilitar o parto só surgiu em 1600, com a invenção do fórceps. Criado pelo francês Peter Chamberlen, o utensílio nada mais era que uma tesoura enorme, adaptada para puxar a criança pela cabeça.
4) O fórceps só era usado quando algo impedia a passagem do bebê ou a mãe estava cansada, doente ou com sangramentos. Mas, com frequência, machucava gravemente a criança ou o útero e a bexiga da mãe. “A técnica evoluiu muito pouco desde que foi criada. É útil, mas costuma provocar lacerações na cabeça do bebê”, diz Fidelma O’Mahony, do Hospital Universitário de North Staffordshire, na Inglaterra.
5) Vale lembrar: a mulher passava pela dor do nascimento sem anestesia. Um dos primeiros usos desse recurso foi com a rainha Vitória, da Inglaterra. Em 1853, ela aceitou a sugestão do médico John Snow e deu à luz ao príncipe Leopoldo com a ajuda de uma máscara de tecido embebida com clorofórmio. Ela repetiria a experiência em 1857, quando teve a filha Beatriz.
SANGUE DO SEU SANGUE
Primeira transfusão, também na Inglaterra do século 17, foi entre um homem e um animal
A primeira transfusão de sangue bem-sucedida envolveu um jovem de 15 anos com anemia... e uma ovelha! O garoto só sobreviveu à rejeição ao sangue do bicho porque deve ter recebido uma baixa quantidade dele, já que os tubos e as agulhas usados provocaram muita perda do líquido durante o processo.
O médico responsável, Richard Lower, repetiu o procedimento com um adulto e também foi bem-sucedido. A partir daí, fez várias tentativas, mas a maioria dos pacientes morreu. Em 1670, a técnica foi proibida pelo governo britânico e depois banida pela Igreja. Só voltaria a ser realizada 150 anos depois, com os pacientes humanos lado a lado sobre duas macas.
OSSO DURO DE SERRAR
INGLATERRA - SÉCULO 19
Escocês ultraveloz revolucionou as amputações – mas a operação ainda era hardcore.
1) Desde que existem guerras, existem amputações. Nos campos de batalha, médicos usavam o que tinham às mãos para decepar o membro e salvar o resto do corpo. No século 19, ainda era um dos procedimentos médicos mais comuns em hospitais. Só se tornou mais rápida e segura graças a novas técnicas introduzidas pelo médico escocês Robert Liston.
2) Nas mãos de Liston, a amputação tornou-se uma arte. Tanto que sua sala de cirurgia no University College, de Londres, era um anfiteatro, onde o procedimento podia ser assistido. Ela ficava no fundo do hospital ao lado do necrotério e do cemitério, já que era para lá que iam muitos dos pacientes de cirurgias.
3) Liston foi um dos pioneiros em tentar esterilizar o processo. Em uma época em que os médicos se orgulhavam da quantidade de manchas de sangue no sobretudo, ele usava avental e valorizava a limpeza dos objetos cirúrgicos. Ainda assim, a sala só era varrida uma vez por dia e, para driblar o frio, havia uma lareira, que empesteava o ambiente com fumaça.
4) O paciente tinha os braços e as pernas presos por correias de couro. Quatro pessoas ficavam à disposição para segurá-lo, caso se debatesse de dor (a anestesia ainda dava os primeiros passos e Liston não era adepto). Uma placa de madeira era colocada entre seus dentes. E o membro a ser cortado era preso por um torniquete, inventado pelo francês Jean-Louis Petit no século 18.
5) Com um único golpe, ele cortava a carne até a altura do osso. Aí, fazia duas marcas, nas partes superior e inferior do osso, para apoiar a serra. Enquanto o assistente mantinha o torniquete apertado e puxava a carne, para haver uma “sobra” de músculo e pele, o cirurgião serrava o osso. Tudo isso em cerca de 30 segundos!
6) Sentiu na pele? Calma que não acabou. Para evitar hemorragias fatais, a coagulação do sangue era acelerada com uma cauterização: uma chapa fervendo colocada rapidamente sobre o ferimento. A rebarba de carne era ajustada sobre a área cortada e costurada com uma sutura em forma de U. A taxa de eficiência de Liston era alta: de cada seis pacientes, só um morria!
NAVALHA NA CARNE
Para agilizar, Liston deixava os utensílios bem afiados e na ordem que os utilizaria
- Faca
Com 30 cm e cabo de ébano, usada para abrir a carne até o osso.
- Serra
Muito afiada, para romper o osso da perna ou do braço.
- Fórceps
Extraía pedaços de ossos que ficassem presos na carne após a amputação.
- Esponjas
Usada pelos assistentes para absorver o sangue enquanto o médico operava.
CORAÇÃO GELADO
EUA - 1953
Cirurgias cardíacas sempre foram difíceis. Uma das técnicas era uma verdadeira fria.
1) A cirurgia do coração só evoluiu de fato a partir do final do século 19. Afinal, imagine como era difícil mexer num órgão que bombeia sangue e está sempre encharcado dele, pulsando. O primeiro a operá-lo com sucesso foi o norueguês Axel Cappelen. Em 1895, ele conseguiu ligar uma artéria coronária rompida.
2) Em 1953, nos EUA, surgiu um artifício: resfriar o corpo do paciente a até 28 oC e retirar seu sangue, deixando-o em circulação numa máquina. Para isso, a pessoa era colocada numa banheira de gelo, que diminuía os batimentos. Outra opção era sedá-lo com anestesia e relaxante muscular e cobri-lo com um cobertor com tubos de borracha, pelo qual passava água gelada
3) O sangue circulava por um aparelho inventado pelo norte-americano John H. Gibbon Jr., que fazia o processo de troca de gases em nível celular. Enquanto isso, com o coração sem sangue e quase parado, o médico podia operar. Depois, o líquido voltava a circular e o paciente recuperava a temperatura normal. Esse equipamento de circulação extracorpórea deu origem aos aparelhos de diálise.
Fonte: Mundo Estranho.