Na hora do sexo, você gosta de homens ou de mulheres? Acha que isso é
uma escolha consciente, que pode ser “certa” ou “errada”, ou uma questão
biológica, mera constatação das preferências do seu cérebro, da mesma maneira
que se constata a cor da pele ou dos cabelos?
Toda a neurociência indica que a orientação sexual é inata,
determinada biologicamente e antes mesmo do nascimento. Aliás, o termo correto
para designar a heterossexualidade ou homossexualidade é “preferência” sexual e
não “opção” sexual. A razão é simples: interessar-se sexualmente por homens ou
mulheres é algo que seu cérebro faz automaticamente, pouco importando o que
você pensa a respeito. Opção, isso sim, é o que você faz com a sua preferência:
assume publicamente, abraça e curte, ou tenta abafar, esconder, ou mesmo ir
contra ela.
Que religiosos e políticos esperneiem à vontade, mas não há qualquer
evidência de que o ambiente social influencie a preferência sexual, humana ou
de outros bichos. Cerca de 10% dos homens e das mulheres preferem parceiros do
mesmo sexo. A estatística não muda entre pessoas criadas por pai e mãe, dois
pais, duas mães, com religião ou sem ela. Tentativas sociais de convencer
humanos ou outros animais a mudar de preferência sexual nunca deram muito
certo.
A preferência sexual está associada à maneira como o hipotálamo
responde a feromônios, substâncias pouco voláteis produzidas pelo corpo, mas
que ainda assim entram nariz adentro e surtem efeitos sobre o hipotálamo. Um
estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, mostrou poucos anos atrás que o
hipotálamo de cada pessoa é preferencialmente sensível a um de dois tipos de
feromônios: ou o feminino, ou o masculino.
O hipotálamo de homens heterossexuais – e também o das mulheres
homossexuais – responde fortemente ao feromônio produzido somente por mulheres,
chamado EST. Ao contrário, o hipotálamo de mulheres heterossexuais, e também de
homens homossexuais, responde preferencialmente ao feromônio masculino, AND.
Com tudo o que se conhece sobre a região envolvida do hipotálamo, deve se
seguir uma cascata de eventos em outras áreas do cérebro, como a amígdala, o
córtex cerebral e o sistema de recompensa, que provocam excitação sexual e
fazem com que se busque o dono, ou a dona, do feromônio que ativou o
hipotálamo.
O padrão de resposta do hipotálamo, portanto, concorda não com o sexo
de cada pessoa, e sim com sua preferência sexual – e, com base em tudo o que já
se sabia antes, provavelmente dita essa preferência. São sexualmente excitáveis
por mulheres aqueles proprietários de hipotálamo que responde ao EST, feromônio
feminino, e não ao AND; são excitáveis por homens, que por definição produzem o
feromônio AND, os donos de hipotálamo sensível ao AND – sejam eles mulheres ou
homens.
Revelada quando o cérebro adolescente, sensibilizado pelos hormônios
sexuais produzidos sob seu controle, expressa o caminho que tomou ainda na
gestação, a preferência sexual não se escolhe: descobre-se. Por isso, ela é
exatamente tão “correta” quanto a cor da sua pele. Tentar mudar a preferência
sexual é como insistir que uma pessoa troque a cor da pele, se torne mais
baixa, ou tenha olhos de outra cor. É como exigir que você, leitor, com 90% de
chance de ser heterossexual, agora tenha de se relacionar com pessoas do seu
próprio sexo. Gostou da ideia? Aposto que não. É inviável, inútil e injusto.
Fonte: Scientific American.
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