De acordo com um novo estudo da Universidade Harvard (EUA), hospitais
ganham mais dinheiro quando cometem erros durante uma cirurgia do que quando
ela é um sucesso.
Os pesquisadores sugerem que reduzir essas complicações poderia
diminuir os lucros de um hospital, portanto, se novas medidas não forem
tomadas, estabelecimentos cirúrgicos têm pouco incentivo para mudar o quadro
atual.
O estudo
Os pesquisadores analisaram os prontuários médicos de mais de 34.000
cirurgias feitas nos EUA.
A inspiração para o estudo veio em parte de pesquisas anteriores que
mostraram que uma simples lista de verificação poderia reduzir drasticamente
erros cirúrgicos. Apesar de tais evidências, poucos hospitais tentaram adotar
tal lista de verificação. “Nós nos perguntamos se o motivo para tanto não
poderia ser financeiro”, disse Atul Gawande, professor de medicina e cirurgia
na Universidade Harvard (EUA).
Os cientistas descobriram que, em média, uma cirurgia com complicação
rende a um hospital US$ 1.749 (R$ 3.507) para cada paciente do Medicare (nome
do sistema de seguros de saúde gerido pelo governo dos EUA, de certa forma
semelhante ao SUS brasileiro), ou mais US$ 39.017 (R$ 78.247) para um paciente
com plano de saúde privado, em comparação com um procedimento livre de
complicações.
A ideia é que pacientes com complicações precisam de mais
procedimentos e tratamentos pós-cirúrgicos, e, portanto, dão mais lucro.
Um paciente de cirurgia com complicações que tem plano de saúde
privado vale uma margem de US$ 55.953 (R$ 112.212) de contribuição, em
comparação com US$ 16.936 (R$ 33.964) para o paciente que recebeu apenas a
cirurgia inicial. Para um paciente Medicare, a diferença é de US$ 3.629 (R$
7.277) contra US$ 1.880 (R$ 3.770).
Mais do que 5% dos 34.256 pacientes de cirurgia estudados tiveram pelo
menos uma complicação. Os pacientes que necessitaram de tratamentos adicionais
após a cirurgia gastaram uma média de 14 dias no hospital, em comparação com
três dias para aqueles que não tiveram problemas.
O estudo analisou operações como substituições de quadril,
histerectomias, cirurgias cardíacas, e complicações como infecções, choque
séptico e ataque cardíaco.
Proposital?
Segundo David Sadoff, um dos autores do estudo e diretor-gerente do
Boston Consulting Group, tais descobertas não significam que os cirurgiões
deliberadamente cometem erros para arrecadar dinheiro para hospitais. “Nós não
acreditamos que é isso que está acontecendo”, disse. Mas isso realmente
significa que, sem uma mudança, há pouco incentivo para melhorar.
“Se você fizer todo esse trabalho duro e reduzir a taxa de complicação
cirúrgica de seu hospital, o prêmio que você recebe no final é menor rentabilidade”,
disse Barry Rosenberg, também do Boston Consulting Group. “Isso é loucura.
Preferimos um sistema que, de alguma forma, recompense esse hospital por ser
bem sucedido”.
Os pesquisadores (do Boston Consulting Group, da Universidade Harvard
e do Texas Health Resources) possuem algumas sugestões para correções. Eles
recomendam que as seguradoras não paguem os hospitais por mau atendimento, mas
deem bônus para procedimentos sem complicações. Eles também sugerem que os
hospitais sejam obrigados a postar suas taxas de complicações cirúrgicas
publicamente, de modo que as pessoas possam optar por evitar um hospital com
mau desempenho geral, forçando esses lugares a mudar ou até mesmo fechar.
Fonte: Hypescience.
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