Quando é que um macaco recusa uma banana? Aparentemente, quando ela é
oferecida por uma pessoa egoísta.
Quando recebem a opção de aceitar guloseimas de pessoas prestativas,
neutras, ou egoístas, macacos capuchinhos (Cebus apella) tendem a evitar
indivíduos que recusam ajudar outros, de acordo com um estudo publicado em 5 de
março na Nature Communications.
“Humanos podem construir uma impressão a respeito de alguém
simplesmente com base no que veem”, explica o autor do estudo, James Anderson,
psicólogo comparativo da University of Stirling, no Reino Unido. Os resultados
dos capuchinhos sugerem que essa habilidade “provavelmente se estende a outras
espécies”, observa ele.
Anderson decidiu estudar capuchinhos devido a seus instintos altamente
sociais e cooperativos. Macacos do estudo observavam enquanto uma pessoa
concordava ou se recusava a ajudar outra pessoa a abrir um pote contendo um
brinquedo. Depois disso, as duas pessoas ofereciam comida ao animal. O macaco
só podia aceitar comida de uma delas.
Quando a ajuda era concedida, os capuchinhos praticamente não
mostravam preferência entre a pessoa que pedia ajuda e a pessoa que ajudava.
Mas quando a ajuda era recusada, os sete macacos tendiam a aceitar comida da
pessoa egoísta com menos frequência.
Escolhendo parceiros
Para tentar entender as motivações dos macacos, Anderson e sua equipe
testaram cenários diferentes. Os animais não apresentavam preconceito contra
pessoas que não conseguiram ajudar porque estavam ocupadas demais tentando
abrir seu próprio pote. Mas eles tendiam a evitar pessoas que podiam ajudar,
mas que não o faziam.
“A recusa explícita de ajudar é um sinal de que você é perigoso,
negativo”, explica Kiley Hamlim, psicóloga do desenvolvimento da University of
British Columbia, em Vancouver, no Canadá. Tendências semelhantes foram
apresentadas por chimpanzés e por humanos com três meses de idade. Hamlin
acredita que o estudo dos capuchinhos sugere que a capacidade de identificar
parceiros sociais indesejáveis tem raízes evolutivas ancestrais.
Sarah Brosnan, etóloga da Georgia State University em Atlanta, declara
que esse tipo de estudo normalmente é realizado com grandes primatas, e que “de
fato é muito interessante ver isso em um macaco”. As descobertas sugerem que a
inferência social pode ocorrer em animais com diferentes tamanhos de cérebro e
habilidade cognitiva, explica ela.
Mas Jennifer Vonk, psicóloga comparativa da Oakland University em
Rochester, Michigan, e autora do estudo com chimpanzés, alerta contra
suposições de que os macacos compreendam muito sobre o caráter humano.
“Você realmente não sabe o que eles estão inferindo”, aponta ela. Em
condições em que as duas pessoas recebiam potes, as tendências contra pessoas
egoístas eram mais fracas, explica ela, então são necessários testes mais detalhados
para eliminar possíveis preferências por pessoas que detenham objetos de
interesse, como brinquedos.
Mesmo assim, Vonk diz estar interessada em descobrir se outros animais
– cães, por exemplo – e até mesmo espécies não-sociais, como ursos, guiam seu
comportamento ao observar interações sociais.
Fonte: Scientific American.
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