Um estudo sugere que, atualmente, temperaturas médias globais estão
mais altas do que estiveram por aproximadamente 75% dos últimos 11.300 anos. E
se modelos climáticos servem de qualquer indicação, até o fim deste século elas
serão as mais altas desde o fim da era glacial mais recente.
Registros instrumentais do clima só chegam até o fim do século 19.
Para antes disso, cientistas dependem de análises de crônicas naturais como
anéis de árvores e proporções de isótopos em formações de cavernas.
Mas mesmo esses arquivos têm seus limites: muitas reconstruções
detalhadas do clima, particularmente da temperatura, só se aplicam a regiões
limitadas ou no máximo se estendem alguns milênios, declara Shaun Marcott,
cientista climático da Oregon State University em Corvallis.
Marcott e seus colegas decidiram reconstruir tendências climáticas
globais até 11.300 anos atrás, quando o Hemisfério Norte estava saindo da mais
recente era do gelo. Para fazer isso, eles coletaram e analisaram dados reunidos
por outras equipes. Os 73 registros climáticos sobrepostos que eles
consideraram incluíam núcleos de sedimentos perfurados de fundos de lagos e
mares ao redor do mundo, além de um punhado de núcleos de gelo coletados na
Antártica e na Groenlândia.
Cada uma dessas crônicas tinha pelo menos 6.500 anos, e cada uma delas
incluía um período de base começando em meados do período pós-era-glacial, em
3550 a.C.
Para alguns registros, os pesquisadores inferiram temperaturas
passadas a partir da proporção de íons de magnésio e cálcio nas cascas de
criaturas microscópicas que morreram e foram parar no fundo do mar; para
outros, eles mediram as distâncias de moléculas orgânicas de cadeia longa
chamadas de alquenonas que ficaram presas nos sedimentos.
Depois da era do gelo, descobriram eles, as temperaturas globais
médias subiram até atingirem um platô entre 7550 e 3550 a.C. Então uma
tendência de resfriamento de longo prazo se estabeleceu, atingindo sua
temperatura extrema mais baixa entre 1450 e 1850.
Desde então, temperaturas vêm aumentando a uma taxa dramática: da
primeira década do século 20 até o presente, temperaturas globais médias
variaram praticamente de seu ponto mais frio desde a era do gelo até seu mais quente, relataram Marcott e sua
equipe na Science de 7 de março.
Contexto climático
As tendências de temperatura que a equipe identificou nos últimos dois
mil anos são estatisticamente indistinguíveis de resultados obtidos por outros
pesquisadores em um estudo anterior, observa Marcott. “Isso aumenta nossa
confiança no resto de nosso registro”, adiciona ele.
Marcott e seus colegas “reuniram um conjunto bastante impressionante
de representantes climáticos”, elogia Gavin Schmidt, cientista climático do
Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, em Nova York.“O quadro
climático geral já está claro há muito tempo, em sua maioria para o Hemisfério
Norte, mas essa compilação realmente põe o resto do mundo em contexto”,
adiciona ele.
“Antes desse estudo, pesquisadores só podiam imaginar se temperaturas
globais haviam excedido a parte mais quente do atual período interglacial”,
explica Darrell Kaufman, geólogo da Northern Arizona University em Flagstaff.
As novas descobertas mostram que as recentes temperaturas altas não são
necessariamente as mais quentes, mas são incomumemente altas, aponta ele.
As tendências de temperatura durante grande parte do período
pós-era-glacial se adequa às esperadas de fatores naturais como a variação de
longo prazo no eixo da Terra, aponta Marcott. Mas nos últimos 150 anos,
emissões industriais do gás dióxido de carbono aumentaram – o que ajuda a
explicar porque temperaturas globais subiram tão rápido em décadas recentes,
sugere ele.
Modelos climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas sugerem que até o fim deste século, independentemente de emissões
futuras de dióxido de carbono, temperaturas atingirão seu ponto mais alto desde
o fim da era glacial mais recente, concluem os pesquisadores.
Fonte: Nature.
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