Se a visão de um colchão com pulgas provoca coceira alheia e um
acidente de trânsito gera dor alheia, natural que testemunhar uma situação
embaraçosa cause a famosa vergonha alheia. Por trás dessas sensações solidárias
estão as estrelas da neurologia contemporânea: os neurônios-espelho. Essas
células são especialistas em copiar: simulam no nosso cérebro o que está
acontecendo com outra pessoa. E isso vale para movimentos e emoções. Foi o que
mostrou uma pesquisa do Institut de Neurosciences Physiologiques et Cognitives
de la Mediterranée, na França, que escaneou o cérebro de voluntários enquanto
sentiam um odor desagradável e enquanto apenas assistiam a um vídeo de outras
pessoas sentindo nojo. Em ambas as situações, as áreas ativadas no cérebro
foram as mesmas.
O resultado é que, ao ver alguém experimentando uma emoção, nossa
tendência é simular em nós mesmos o mesmo medo, tesão, alegria e, claro, a
mesma vergonha. Isso vale inclusive para aquelas vezes em que aquela que
consideramos a vítima não está nem aí, mas você está. "É como se nosso
cérebro, ao identificar uma situação desafiadora, nos desse uma provinha para
degustação", diz Renata Pereira Lima, pesquisadora do Laboratório de
Neurociência e Comportamento da USP. Ou seja, se você vê alguém pagando mico em
um reality show e sente vergonha alheia, é seu inconsciente avisando: "não
é pra você".
Fonte: Superinteressante.
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