Essa é a pergunta que não sai da cabeça deles, brincadeira meninos. Atendendo aos pedidos, vamos falar sobre a calvície masculina.
Para alguns homens vaidosos, acompanhar no espelho o desaparecimento dos cabelos pode ser uma experiência desesperadora. Apesar da pouca utilidade, os fios que emolduram o rosto adquiriram o status de ingredientes fundamentais da beleza. Essa valorização vem impulsionando a ciência a trabalhar a serviço da estética. Os especialistas em Tricologia, a área da Dermatologia que estuda pêlos e cabelos, se empenham na investigação da calvície, buscando tratamentos eficazes, embora ainda desconheçam a cura definitiva do problema.
Desde a Antigüidade já se tentava resolver a questão dos carecas. Papiros egípcios de 4000 a.C. recomendavam que se aplicasse no couro cabeludo a mistura de partes iguais de gordura de leão, hipopótamo, jacaré, cabrito e cobra. O imperador romano Júlio César (100-44 a.C.) sonhava recuperar seus cabelos apelando para outra fórmula exótica, cuja receita incluía ratos domésticos queimados, dentes de cavalo, gordura de urso e vísceras de veado. Calcula-se que aos 65 anos, oito em cada dez homens de cor clara sejam calvos.
Em geral, a redução dos cabelos se inicia ao redor dos 20 anos de idade. No final do processo, que pode acontecer em poucos meses ou se estender por vários anos, notam-se desde discretas entradas, no alto da testa, até a cabeça toda lisa, quando resta apenas um tímido rodapé de cabelos, sobre as orelhas e a nuca — existem, enfim, casos de calvície em graus variados. Segundo o médico José Marcos Pereira, no caso da calvície normal ou clássica, o primeiro sintoma que se pode perceber é o afinamento dos cabelos no alto do cabeça. Eles também vão ficando mais claros", descreve. "Como, nessa região, a quantidade de fios em fase de crescimento é menor, a pessoa muitas vezes se dá conta, com certo espanto, que só precisa cortar os cabelos nas laterais." Para entender o que está se passando, na cabeça desses homens calvos, é preciso conhecer a estrutura de um fio de cabelo. Ela se inicia na chamada raiz, fincada na derme. A raiz engloba uma estrutura em formato de taça, conhecida por matriz, que contém um punhado de células epidérmicas em seu interior — a papila dérmica. Esta funciona como uma espécie de mestre-de-obras, ordenando a construção de um fio, o qual vai deslizando para fora da pele, à medida que vai crescendo. Os fios são elásticos e têm diâmetro entre 0,05 e 0,5 milímetro.
No caso da calvície, o ciclo biológico sai do compasso: em outras palavras, muda a duração das fases. Os principais culpados são os hormônios sexuais masculinos, que agem num solo fértil de predisposição genética. "No passado, acusou-se a circulação sangüínea, a oleosidade, fungos, bactérias e uma infinidade de outros fatores. Mas nenhuma dessas teorias conseguiu se sustentar", comenta Pereira. Atualmente, os médicos sabem que a verdadeira responsável é uma enzima chamada alfa-redutase, presente nas células em maior ou menor quantidade, conforme a bagagem genética. Essa enzima transforma a testosterona, hormônio masculino carregado até ali pela circulação sangüínea, em uma substância de nome complicado — a deidrotestosterona, cuja ação é fatal para os cabelos. Graças a ela, os fios em plena fase de crescimento se tornam precoces fios telógenos. Para conhecer a proporção entre um e outro tipo de cabelo, os médicos realizam o tricograma: eles arrancam aproximadamente 100 fios de cabelos para examiná-los ao microscópio. O aumento na proporção de telógenos diagnostica a calvície. A qualidade dos cabelos anágenos também se torna diferente. Curiosamente, apenas os cabelos do topo da cabeça são acometidos pelo problema. "Nas raízes dos cabelos das regiões laterais e próximas da nuca há uma menor concentração da alfa-redutase. Portanto, ali, os fios sofrem menos com a ação dos hormônios masculinos", explica o médico Munir Cury vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em São Paulo. O fato de o problema só afligir os homens também se explica pela Genética. “O gene da calvície é dominante no sexo masculino. ou seja, ele se manifesta mesmo quando herdado somente do pai ou só da mãe", conta o geneticista Décio Cassiani Altimari, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Assim, por exemplo, o filho de um pai cabeludo pode se tornar careca porque o avô materno era calvo. Teoricamente, para prevenir a calvície bastaria inibir a ação da testosterona, o que seria desastroso. A falta do hormônio tornaria o organismo do homem efeminado, além de causar impotência. Os cientistas, porém, buscam soluções alternativas: "Nos últimos anos, temos aplicado loções de uma substância chamada espironolactona nos pacientes", conta o dermatologista José Marcos Pereira. "Trata-se de um diurético que, curiosamente, inibe a ação da testosterona, mas seu efeito é apenas local. Na opinião do cirurgião plástico César Isaac, da Beneficência Portuguesa em São Paulo para se voltar a ter cabelos é preciso recorrer ao bisturi: “O procedimento mais popular, hoje em dia, é o micro implante" revela. “Os cabelos são retirados da porção posterior da cabeça e implantados um a um na área nua”. O dermatologista Albert Kligman da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, Estados Unidos, defende fervorosamente a idéia de que os cerca de 200 000 fios de cabelos de uma pessoa não deveriam ser considerados um produto supérfluo da natureza. Para justificar seu ponto de vista, revela dados surpreendentes de que homens carecas vivem menos: em um estudo estatístico, ele verificou que a saúde das pessoas que se consideram bonitas e atraentes anda muito melhor do que a de quem fica remoendo os seus complexos diante do espelho.
Vários tipos de causas
Vinte ou trinta dias podem ser suficientes para o desastre: os cabelos começam a cair, até não restar nem sequer um único fio. Existem os chamados carecas totais — que os médicos preferem chamar de alopecias totais — não são determinados pelos genes. Netos e filhos de pessoas cabeludas podem exibir a cabeça inteira lisa, por causa de algumas doenças infecciosas, radiações ou certos médios para câncer, que costumam destruir a raiz dos cabelos. Existem ainda pessoas totalmente carecas devido a fatores emocionais: os cientistas garantem que situações estressantes provocam a perda de cabelos. Eles observam que, muitas vezes, tudo não passa do que chamam de eflúvio, a queda esporádica dos cabelos, percebida quando, por exemplo, a pessoa arrisca passar o pente. No entanto, há estressados que ficam completamente carecas — e o problema poderá não ter volta se a matriz do cabelo estiver morta. Resta aos pesquisadores detectar quais substâncias, secretadas no organismo em situações de tensão, são capazes de matá-la.
Fonte: Superinteressante e Sociedade Brasileira de Dermatologia.
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