Você já deve ter percebido a essa altura, mas nossa percepção de tempo
não é um sentido tão exato quanto o olfato, a visão ou a audição. A prova são
aqueles dias que parecem durar uma eternidade, ou aquele período da sua vida em
que um ano ou dois parecem ter sido condensados em umas duas semanas, no
máximo, e tudo pareceu passar tão rápido.
É claro que você esteve fazendo
um milhão de coisas durante esse ano do qual você se lembra muito pouco. Mas
porque será que sua memória parece guardar tão pouco daquilo que você fez e te
convence que aquele tempo passou tão rápido?
De acordo com o neurocientista David Eagleman, do Baylor College of
Medicine, em Houston, no Texas, o "tempo do cérebro" é subjetivo. Em
um de seus ensaios, ele sugere um exercício pra te provar que seu cérebro às
vezes "apaga" coisas que ele desconsidera importante: vá em frente a
um espelho e mova os olhos de um lado para o outro, de modo que você olhe
alternadamente pro seu olho esquerdo, depois pro direito, e assim por diante.
É claro que seus olhos levam um tempo para mover-se da esquerda à
direita. Mas você não os vê fazendo isso. Seu cérebro edita esses momentos
intermediários e só te mostra o resultado final - você olhando pro espelho.
Se uma árvore desabar no meio
da floresta, e ninguém estiver lá para ouvi-la caindo, essa queda provoca algum
barulho?
Tá, você pensa. Mas e como isso se relaciona com nossa percepção de
tempo? É simples. Nosso cérebro recebe todas a informação transmitida por
nossos sentidos e as organiza da maneira que ele acha mais conveniente, um
jeito que faz sentido pra nós, antes mesmo que a gente repare nas informações
recebidas por esses sentidos. O mundo que percebemos é fruto de como nossos
sentidos interpretam esse mundo (e a resposta à pergunta do subtítulo,
portanto, é não), explica Dave Eagleman. Quando a informação recebida e
processada é familiar ao cérebro, ela é feita muito rapidamente. Informações e
estímulos novos, no entanto, demoram mais, e geram a sensação de tempo
alongado.
No cérebro, existem áreas responsáveis pela percepção de cada sentido
tradicional. Mas para processar e perceber o tempo, não há uma área específica,
e acontece em várias partes diferentes do cérebro.
A conclusão é a seguinte: quando recebemos um fluxo muito grande de
informações novas, o cérebro demora um tempo para para processá-las. Quando mais
tempo ele demorar, mais longo o tempo nos parecerá. E é por isso que meses
preenchidos com rotina parecem passar voando, enquanto momentos de stress ou de
emoção intensa, na sua memória, tem ares de terem durado minutos, quando não
passaram de milésimos de segundos.
Isso explica, inclusive, aquela sensação de que a vida passa mais
rápido depois que envelhecemos. É porque, ao crescer, percebemos um mundo novo
quase o tempo todo, e isso garante a sensação de que o tempo passou mais
devagar.
Quem precisa de Stephen
Hawking?
Agora que o mecanismo de manipulação do tempo pelo nosso cérebro está
compreendido, fica fácil apontar o que a gente precisa fazer pra fazer nosso
tempo durar mais: basta dar ao nosso cérebro um fluxo constante de informações
novas. A pesquisa do neurologista David Eagleman concluiu a mesma coisa. E daí
é preciso sair da rotina: conheça lugares novos (nem precisa viajar - pode
começar pela sua cidade), conheça gente nova, nunca pare de aprender, seja
espontâneo, faça coisas novas. Talvez seja a hora de colocar em prática aquela
lista de coisas que você quer fazer antes de morrer - até porque, se você as
fizer, a morte vai demorar mais pra chegar.
Fonte: Galileu.
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