Nesse caso, o pressuposto é de que a mente e o
corpo são separados, uma postura filosófica conhecida como dualismo. Em
contraste, o ponto de vista científico é de que a mente é controlada pelo
cérebro. Todos os dados da neurociência apontam para este caminho. Os
pensamentos podem ser controlados conscientemente e, portanto, podem
influenciar o que acontecem no corpo.
A dúvida é se, de alguma forma, isso é suficiente
para ter uma influência significativa sobre qualquer processo de doença.
É importante notar que não estamos falando de
qualidade de vida, mas em saber se o curso real de uma doença pode ser alterado
pelo esforço puramente mental.
É senso comum (e apoiado por diversos estudos
positivos) que a qualidade de vida das pessoas doentes pode ser melhorada
quando se tem uma perspectiva positiva. O consenso é que pessoas otimistas são
mais propensas a buscar maneiras mais engenhosas para obter o melhor resultado
possível de um tratamento. No entanto, curiosamente, o pessimismo pode ser mais
preditivo de um resultado ruim do que o otimismo de um bom.
Pensamento positivo pode deixar as pessoas
efetivamente melhores?
É difícil saber se o pensamento positivo pode de
fato mudar o curso de uma doença, porque não existem estudos com grupos de
controle para avaliarmos – nos que foram feitos até hoje, os pesquisadores
geralmente apenas traçaram dados para uma correlação. Se links são encontrados,
o que nem sempre é o caso, um comunicado de imprensa é emitido e todos ficam
maravilhados com quão incrível a conexão mente-corpo é.
Mas, mesmo se uma pesquisa encontra uma correlação
robusta e reproduzível, não pode se dizer automaticamente que essa ligação é
causal. Isto é especialmente verdadeiro se o estudo não foi especificamente
criado para mostrar o link exato que está sendo divulgado, com todos os
preconceitos e as distrações potenciais removidos.
De fato, não custa nada ser positivo. Mas não
existem estudos que foram criados para analisar o efeito de tornar-se mais
otimista, ou a mudança do pessimismo para o otimismo sobre a doença de uma
pessoa.
Mais: ignorar os problemas e ser muito positivo
pode ser um problema para quem sofre com alguma condição. Segundo o pesquisador
norte-americano James Coyne, impor uma expectativa cultural de positividade
deixa muitos pacientes com câncer com medo de reduzirem suas chances de
sobrevivência cada vez que estiverem deprimidos ou com raiva sobre a sua
doença, o que pode ser um grande fardo para eles.
Pacientes com câncer devem ter certeza de que sua
doença não foi causada por fatores emocionais ou de personalidade. Se há pouca
evidência de que apenas ser uma pessoa otimista é bom para sua saúde, há ainda
menos evidências de que forçar-se a usar o pensamento positivo pode bater sua
doença.
Intervenções psicológicas positivas só têm
realmente sido estudadas em doenças mentais, como depressão. Já se você for
confrontado com uma doença grave, é provável que você tenha uma melhor
qualidade de vida se tiver bons apoios sociais e evitar ceder ao pessimismo por
completo.
Ninguém pode dizer a fórmula perfeita para lidar
com o impacto de um diagnóstico sério. Mas também não é preciso que o paciente
sinta que deve estar completamente positivo 100% do tempo, porque não só é
muito difícil que isso aconteça, como também não é saudável.
Fonte: MedicalXpress.
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