“Um dos maiores desafios da contemporaneidade é reverter o cenário
atual: antes de sermos formados para a cidadania, somos treinados a consumir de
forma desenfreada”. Este é um dos trechos da cartilha “Consumismo Infantil: na
contramão da sustentabilidade”, lançada no dia 31 de outubro pelo Ministério do
Meio Ambiente. O material é destinado a crianças, pais, professores e
educadores, e traz informações importantes para a reflexão sobre os valores que
a sociedade passa a quem vai enxergar e conduzir o mundo no futuro.
A cartilha oferece uma série de argumentos e dados para explicar por
que criança e consumismo não combinam. Primeiro, como é destacado, “ninguém
nasce consumista. O consumismo é um hábito que se forma a partir de valores
materialistas”.
Depois, as crianças não estão preparadas para lidar com relações de
consumo. “A criança não deve ser alvo do mercado nem iniciada no mundo do
consumo sem que seja educada para isso”. Ou seja, a educação não é o consumo.
Ela vem antes, justamente para que o consumo se transforme em um ato consciente
e crítico.
A responsabilidade por uma boa educação deve ser de todos,
compartilhada por uma sociedade que, se for mais saudável, forma pessoas
melhores. “Essa nova realidade exige reflexões profundas. Muitas vezes
encontramos respostas na educação – conceito amplo e de responsabilidade
compartilhada, que não se dá só em casa ou na escola, mas também nas ruas e nas
diversas mídias”.
A mídia
Um dos pontos de destaque da cartilha é sobre a publicidade voltada
para o público infantil – alvo preferencial de apelos comerciais e ações de
marketing. “Como explicar a um pequeno que a embalagem de plástico daquele bolo
que traz a divertida figura de seu personagem favorito da TV, somada às
embalagens consumidas por seus coleguinhas e todas as crianças do mundo, gera
um impacto acumulado no meio ambiente? Como levá-lo a compreender que seu
brinquedo pode ter sido produzido em condições de desrespeito ao meio ambiente
e à saúde dos trabalhadores?”. São muitos pontos envolvidos na produção de bens
de consumo que formam a lógica da sociedade em que vivemos - capitalista e,
portanto, materialista – e que estão fora do alcance do entendimento infantil.
Aumento exacerbado do consumo, aumento da geração de resíduos,
obesidade infantil, “adultização” da infância e erotização precoce, consumo
precoce de álcool e tabaco, diminuição das brincadeiras criativas, violência e
estresse familiar são alguns dos problemas citados na cartilha que são
potencializados “em decorrência da alta exposição de crianças a mensagens
mercadológicas”.
Algumas dessas consequências são facilmente identificáveis em uma
sociedade como a brasileira, em que as crianças assistem, em média, mais de 5
horas de televisão por dia, segundo dados do Ibope 2011 – um dos maiores
índices do mundo. “Essa exposição excessiva contribui para o consumismo, já que
a televisão é o principal canal de veiculação de campanhas comerciais que falam
diretamente com as crianças”, argumenta a cartilha.
A obesidade infantil já atinge 15% da população infantil no Brasil. “O
aumento está vinculado ao aumento do consumo de alimentos industrializados,
amplamente divulgados pelo mercado produtor e distribuidor”. E menos de 40% das
crianças entre 5 e 10 anos consumem frutas, legumes e verduras na dieta
alimentar, segundo o Ministério da Saúde. “Os alimentos industrializados
carregados nas lancheiras e oferecidas nas cantinas, os brinquedos eletrônicos
produzidos sem respeito às legislações ambientais e de trabalho e a preocupação
excessiva com o acesso a bens materiais são apenas alguns dos fatores que
contradizem todo o esforço de uma educação para a sustentabilidade”.
A cartilha também oferece dicas para a abordagem do assunto “consumo”
com as crianças e propostas para tornar as brincadeiras infantis mais
saudáveis, lúdicas e criativas, sem tantos aparatos tecnológicos que muitas
vezes mediam o olhar da criança para o mundo.
Fonte: Superinteressante.
Link da
cartilha: http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/Arquivos/downloads/ebooks/caderno.pdf
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