Praticamente todo mundo já passou por isso: ficar o dia todo com uma
música na cabeça, cantando repetidamente apenas uma parte dela, odiando-a cada
vez mais.
Sejam canções de rock, funk ou música clássica, é fácil ter fragmentos
grudados na mente, tocando incessantemente por algum período determinado, mesmo
que a música não seja do seu agrado.
Essa repetição “chiclete” é conhecida pelo termo “earworm” (algo como
“verme de ouvido”), expressão utilizada pela primeira vez em 1980, em tradução
literal do alemão “ohrwurm”.
Em um estudo recente da Universidade Western Washington (EUA),
pesquisadores analisaram o que torna as músicas mais propensas a “grudar na
nossa mente”, expondo centenas de participantes inocentes a canções populares
e, em seguida, pedindo-lhes para completar várias tarefas.
Pesquisas anteriores haviam mostrado que as pessoas são capazes de
recordar o primeiro verso de uma música que elas gostam, mas depois do refrão,
começam a tropeçar na letra. Neste ponto, a música torna-se “incompleta” (você
não “consegue” encerrá-la), e isso se torna um pensamento intrusivo.
“Chega-se ao refrão, e então você trava bem ali, e fica ‘condenado’ a
esse ponto da música”, explica Ira Hyman Jr, principal autor do novo estudo.
A pesquisa descobriu que as canções se “intrometeram” nas mentes das
pessoas tipicamente durante as tarefas muito difíceis, o que fez com que a
mente vagasse, ou muito fáceis, o que criou uma abertura mental para
pensamentos repetitivos.
Mais: a pesquisa sugere que as músicas de que gostamos, e não aquelas
que desprezamos, são mais propensas a formar pensamentos intrusivos – os quais
vão se “intrometer” na nossa mente quando nos deparamos com tarefas mais fáceis
ou mais difíceis.
O truque para afugentar um “earworm”, segundo o Dr. Hyman, é encontrar
uma tarefa envolvente que exija os componentes auditivos e verbais de sua
memória de trabalho – como a leitura de um bom livro ou assistir a seu programa
favorito.[NYTimes]
Espontaneamente chata
Outras pesquisas sobre o assunto já foram feitas. A Dra. Vicky
Williamson, da Universidade Goldsmith (Reino Unido), por exemplo, sugere que a
nossa memória processa certas músicas de uma forma que faz com que nossos
cérebros sejam particularmente propensos a recuperá-las espontaneamente.
Ou seja, uma canção pode ser desencadeada em nossa mente por uma
palavra encontrada nas letras, ou por sentimentos como estresse ou surpresa,
que correspondem a uma memória particular que ocorreu enquanto você estava
ouvindo a música. Por exemplo, ler a palavra “Delícia” em uma marca de
margarina faz você lembrar da música do Michel Teló a ponto de cantá-la o dia
todo.
Surpreendentemente, a Dra. Vicky descobriu que a composição da música
(por exemplo, se é uma música que “pega” por ter rimas fáceis) não é
especialmente importante para determinar se lembraremos dela ou não.
Mas essa habilidade de certas músicas de “surgirem” em nossas memórias
de forma completamente espontânea, sem que procuremos nos lembrar dela, pode
fazer com que fiquemos com canções que não gostamos, como “Rebolation”, na
mente por muito tempo.
Os pesquisadores acreditam que isso acontece porque estruturas
rítmicas e intervalos no timbre são parecidos nessas músicas – receita que
torna mais fácil para nosso cérebro recordá-las.
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