O efeito placebo é um dos fenômenos mais estranhos e menos
compreendidos da fisiologia e psicologia humanas. A maioria de nós já
experimentou ou ouviu falar nele: é a ideia de que podemos, essencialmente, nos
curar de doenças simplesmente porque acreditamos que estamos sendo curados. A
ideia de nós mesmos nos enganarmos a ter saúde prova que o cérebro é realmente
uma entidade extremamente poderosa. Embora faça sentido, de uma forma estranha,
que sejamos capazes de fazer isso, há certos aspectos do efeito placebo que até
mesmo cientistas e médicos não conseguem explicar. Veja 10 exemplos notáveis do
efeito placebo:
9. Efeito placebo também ocorre
entre cães e outros animais
Empresas farmacêuticas empregam os mesmos procedimentos (testes duplos
e cegos) em cães ao testar medicamentos para animais, como para humanos. Em um
estudo em particular, cães com epilepsia receberam ou uma medicação, ou um
placebo. O grupo do placebo reagiu de forma extremamente positiva.
Novos estudos com hamsters também revelam que a maioria dos animais
tem algo semelhante ao efeito placebo, que entra em ação dependendo do ambiente
e da energia corporal disponível. Quando hamsters foram levados a acreditar que
era inverno, seu sistema imunológico entrou em um estado mais dormente para
preservar energia. Esse mecanismo ajuda a explicar por que não podemos
simplesmente nos recuperar, mas precisamos tomar uma pílula, seja qual for. Em
essência, nós precisamos de algum tipo de influência externa para iniciar a
sequência de eventos que levam ao efeito placebo.
8. Embriaguez placebo
Mulheres geralmente ficam bêbadas mais facilmente que os homens,
requerendo menos álcool. Na verdade, para ficar embriagado não é necessário
nenhum álcool. Isso porque podemos simplesmente enganar-nos a pensar que
estamos bêbados. Pesquisas diferentes já descobriram que aqueles que acreditam
ter bebido álcool (mesmo que a bebida fosse não alcoólica) se sentem bêbados e
têm realmente o julgamento prejudicado. Ou seja, se saem pior em testes simples
e seu QI torna-se menor, como se estivessem realmente embriagados.
7. Onde você mora afeta o
efeito placebo
Americanos tendem a exibir hipocondria mais do que qualquer outra
cultura na Terra, já que a propaganda de saúde e medicamentos lá é extensa. Por
alguma razão, tendem a atribuir muito poder aos medicamentos que podem ser
injetados na veia (provavelmente porque foram condicionados a respeitar o poder
de injeções desde o nascimento). Europeus, por outro lado, reagem de forma mais
positiva a comprimidos de placebo do que injeções.
Ou seja, fatores culturais influenciam fortemente a maneira pela qual
o efeito placebo se manifesta. Drogas de placebo utilizadas em um estudo para o
tratamento de úlceras funcionaram muito melhor na Alemanha do que no Brasil. Um
teste de drogas para hipertensão foi o menos reativo para as pílulas de placebo
na Alemanha. Esses fatores culturais são poderosos na formação das nossas
esperanças, medos e expectativas, de maneira que o efeito placebo se transforma
quando atravessa fronteiras.
6. Placebo ainda funciona mesmo
que você sabe que é placebo
Toda a premissa do efeito placebo é que os pacientes acreditam que
estão recebendo medicamento verdadeiro e são curados. Mas, mesmo quando os
pacientes descobrem que estão recebendo uma droga falsa, ela ainda funciona de
forma eficaz, o que não faz nenhum sentido. Em testes nos quais os doentes
recebem medicamentos simulados, eles são eventualmente informados de que
tomaram placebo. Depois de saber disso, cientistas esperam que os benefícios
positivos do remédio diminuam ou pelo menos enfraqueçam nos pacientes. Mas,
pelo contrário, os efeitos positivos permanecem e muitos querem continuar a
tomar a droga. No futuro, isso poderia significar que médicos prescreverão
pílulas de açúcar para pacientes com pleno conhecimento que estão tomando
placebo.
5. É possível derivar efeito
placebo através de infecções falsas de doenças não relacionadas
Um grupo de médicos queria ver se as pessoas que sofriam de asma que
fossem infectadas com amarelão iriam sentir alívio nos seus sintomas. Eles
dividiram o grupo de doentes asmáticos em dois, infectaram um com ancilóstomo,
e fizeram o segundo pensar que também tinha sido infectado.
O grupo que tinha realmente sido infectado viu uma melhora. O segundo
grupo, incrivelmente, também. Isso demonstrou que as melhorias de ambos os
grupos foram resultado do efeito placebo. A maior parte do grupo que tinha sido
infectado escolheu manter as infecções após terminar o estudo, por causa das
vantagens percebidas.
4. Placebo tem um gêmeo malvado
chamado de “nocebo”
Assim como as nossas expectativas sobre a eficácia de uma droga podem
influenciar a nossa reação a um placebo, uma expectativa de efeitos colaterais
pode levar-nos a experimentá-los também. Isso tem se manifestado em uma
infinidade de formas, às vezes extremas, e ficou conhecido como “nocebo”.
Um estudo notável documentou os efeitos do nocebo na Itália, onde
pessoas com ou sem intolerância à lactose tomaram o que pensaram ser lactose
(não era). 44% das pessoas com intolerância e 26% sem intolerância
desenvolveram sintomas de desconforto gastrointestinal.
Como se ter diarreia e estômago sem motivo algum não fosse ruim o
suficiente, imagine perder a fé em seu pênis normal por causa do que o seu
médico lhe disse. O efeito nocebo lamentavelmente funciona em pessoas que tomam
medicamentos reais, como foi revelado por um estudo realizado em homens que
tomaram a droga finasterida para próstatas aumentadas. Metade foi informada
pelo médico que disfunção erétil era um possível efeito colateral, e a outra
metade não. Do grupo que ouviu sobre o efeito, 44% relataram disfunção erétil,
em comparação com apenas 15% do grupo que não tinha sido informado.
Em outro estudo, um paciente participando de um teste para medicação
antidepressiva engoliu 26 pílulas de placebo em uma tentativa de suicídio.
Mesmo sendo completamente inofensivas, sua pressão arterial de alguma forma
caiu perigosamente.
3. Cor e tamanho afetam o
efeito placebo
Nossa percepção de quão bem funciona uma pílula muitas vezes determina
o quão bem ela realmente acaba funcionando. Esta eficácia percebida é baseada
em grande parte no tamanho, forma e cor da pílula.
Pesquisadores descobriram que pílulas de placebo amarelas são as mais
eficazes no tratamento da depressão, enquanto pílulas vermelhas levam o
paciente a ficar mais alerta e acordado. Comprimidos verdes ajudam a aliviar a
ansiedade, enquanto pílulas brancas aliviam problemas estomacais, como úlceras.
Quanto mais pílulas de placebo as pessoas tomam, melhor, com as tomadas quatro
vezes por dia sendo mais eficazes do que as tomadas duas vezes por dia.
Comprimidos que têm uma “marca” carimbada sobre eles também funcionam
melhor do que pílulas que não têm nada escrito sobre elas. Parece que nós somos
superficiais até quando se trata de medicamentos falsos.
2. Cirurgias placebo também são
eficazes
Imagine sofrer uma lesão que exige cirurgia e ser submetido ao
procedimento, o que resulta em um membro sem dor. Agora imagine o médico lhe
dizendo, um mês depois, que não reparou nada durante a cirurgia, apenas lhe
cortou e lhe fez acreditar que um procedimento tinha ocorrido.
Isso é essencialmente o que vem acontecendo em testes médicos, e os
resultados mostram que as cirurgias falsas podem ser tão eficazes quanto as
reais. A melhor parte é, obviamente, que a cirurgia falsa é bem mais barata.
1. O efeito placebo ficou mais
poderoso ao longo dos anos
O efeito placebo foi observado pela primeira vez no final de 1700, mas
suas verdadeiras implicações fisiológicas não foram realmente compreendias até
a década de 1970. Ainda assim, parece que, quanto mais os médicos conduzem
testes, mais poderoso o efeito placebo se torna.
Isso pode ser resultado de nosso condicionamento social. Humanos
colocam muita fé em profissionais médicos. Conforme a tecnologia médica
melhora, a mortalidade diminui e a nossa fé na medicina se torna mais forte.
Tomamos conforto na rotina de ir ao médico, ser examinado, ir à farmácia e
começar a tomar pílulas. Esperamos nos curar e, ao longo do tempo, essa
expectativa tornou-se ainda mais pronunciada, conforme nossa fé na ciência se
fortaleceu. Na Idade Média, teria havido pouca razão para ter fé nos
procedimentos médicos, já que a maioria das pessoas morria. Hoje, nossa
confiança nas drogas só deve crescer. Com isto, o efeito placebo cresce também.
Fonte: Hypescience.
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