A capacidade de sentir nojo tem um papel importante para nossa própria
saúde: ela nos leva a evitar coisas sujas que poderiam provocar doenças ou até
nos matar. Afinal, imagine como seria se não tivéssemos nenhum pudor em comer
coisas que caíram no chão imundo ou, sei lá, lamber maçanetas de banheiro (até
existe gente que curte, mas é um caso à parte).
No entanto, um estudo recente sugere que, além de nos fazer evitar a
sujeira, o nojo também nos ajuda a identificá-la melhor. Expliquemos. De acordo
com muitas pesquisas, temos a tendência de associar o branco à limpeza – o que
explica por que várias culturas dão tanto valor a ter dentes brancos e preferem
pias e vasos sanitários de cores claras para o banheiro.
Levando isso em conta, o pesquisador em psicologia Gary Sherman, da
Universidade de Harvard, realizou três estudos cujos resultados sugerem que o
nojo não só motiva as pessoas a criar ou manter ambientes limpos, mas também
pode levá-las a ter uma visão bem mais apurada para detectar variações de cor
que poderiam denunciar pequenas sujeiras.
Para isso, Sherman e seus colegas testaram a habilidade de voluntários
para detectar variações de cor em uma escala de tons de cinza. Em um primeiro
estudo, 123 estudantes universitários analisaram conjuntos com quatro
retângulos cada um – e, em todos eles, um dos retângulos era ligeiramente mais
escuro ou mais claro que os outros. Os participantes tiveram, então, de indicar
qual era o elemento diferente. No fim, a maioria achou mais fácil identificar
quando o retângulo era mais escuro.
Depois de completar a tarefa, eles responderam um questionário que
mediu a sua sensibilidade geral para o nojo. Resultado: as pessoas que sentiam
nojo com mais facilidade apresentaram melhor desempenho na hora de identificar
o triângulo levemente mais escuro.
Esses achados foram confirmados em um segundo estudo, mostrando que os
estudantes que relataram sensibilidade maior ao nojo eram melhores em
distinguir um número em tom claro escondido contra um fundo de um tom quase
idêntico.
No terceiro estudo, os participantes viram uma apresentação de slides
de imagens projetadas para provocar nojo (como baratas, lixo) ou medo (um
revólver, alguém com uma cara muito brava). Em seguida, eles tiveram de
completar outra tarefa que envolvia perceber variações sutis de cores.
Resultado: induzir o nojo nas pessoas mais sensíveis aumentou
significativamente a sua capacidade de percepção de tons. O mesmo nao aconteceu
com a indução de medo, nem com aqueles que não sentiam nojo facilmente (o que
faz sentido, já que as imagens não funcionaram tão bem para eles).
“Está muito claro que essa influência [a do nojo] promove o aumento da
percepção”, concluem os pesquisadores. E isso, é claro, também vai nos ajudar a
detectar e evitar os germes, toxinas e outras contaminações.
O trabalho está na publicação Psychological Science.
Fonte: Medical Xpress.
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