Viver para sempre não é sonho assim tão distante. Já tem muito
cientista ambicionando a imortalidade - e com resultados significativos.
Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha injetaram
uma enzima em ratos que, ao melhorar a eficácia da divisão celular, aumentou em
50% a expectativa de vida das cobaias. Outros investigam as células-tronco e
têm esperança de que elas ajudarão na renovação eterna das células. Mas, não importa
por qual caminho vier, assim que o remédio da imortalidade estiver
desenvolvido, ele será privilégio de gente milionária. Já existem remédios que
custam R$ 1 milhão ao ano (como o que trata uma síndrome rara, em que o sistema
imunológico destrói os glóbulos vermelhos do doente durante a noite), e talvez
uma pílula da vida eterna não saísse por menos dinheiro. Ainda assim, uma parte
dos 9 milhões de milionários do mundo toparia comprar o medicamento. E, daqui a
20 anos, quando a patente do remédio expirasse, o genérico da pílula da
imortalidade ficaria acessível a todos. Isso quer dizer que, em poucas décadas,
mais da metade das pessoas que morrem todos os anos de doenças cardíacas ou
câncer - males que serão evitados com o remédio da imortalidade - deixariam de
bater as botas. São 32 milhões de pes-soas ao ano que continuarão vivinhas - e
superpovoando o planeta. Com tanta gente, dificilmente escaparíamos do controle
de natalidade, da legalização do aborto, da crise ambiental e da escassez de
alimentos. Mas nem tudo seria desgraça. Num planeta de imortais, à beira de um
colapso ecológico, é possível que as soluções ambientais surgissem mais
rapidamente. Afinal, quando a ameaça de destruição deixar de ser um problema só
para as gerações futuras, todos vão ter de se mexer. Ninguém vai querer estar
vivo quando o mundo acabar, certo?
Tudo novo de novo
Os imortais vão encarar um planeta lotado e trabalho duro para sempre
1. Remedinho mágico
Nos primeiros anos, só os ricos vão usufruir da pílula da vida eterna.
Sem mortes por doenças cardíacas ou cânceres, males diretamente ligados ao
envelhecimento, o planeta deixaria de perder anualmente 32 milhões de pessoas -
e ainda receberia os 150 milhões que já vêm naturalmente ao mundo todos os
anos.
2. Bilhões de vizinhos
Se hoje já exploramos o planeta além da sua capacidade de renovação,
com os imortais, o jeito seria controlar a natalidade e liberar o aborto. Assim
como nos países populosos, cada casal só poderia ter um filho. Irmãos, tios e
primos seriam extintos. Mas as famílias aumentariam: conviveríamos até o fim da
vida com avós, bisavós e tetravós.
3. Mão na consciência
Com o acréscimo dos imortais, o desastre ecológico será inevitável.
Mas a ameaça pode ser boa. Se todo mundo estiver vivo quando o planeta entrar
em colapso - ou seja, quando o futuro distante se tornar realidade -, é
possível que a cons-ciência ambiental e a preservação do planeta sejam levados
a sério.
4. Vai trabalhar
A previdência, que sustenta os velhos com o trabalho dos jovens, já
está em crise com o envelhecimento da população. "Se todo mundo viver 100
anos com aposentadoria, vai ficar caro", diz o professor de economia da
PUC-SP, Antonio dos Santos. Ou seja, as pessoas vão viver para sempre - mas
também vão passar o resto da eternidade trabalhando.
5. Uma mente sem lembranças
O cérebro humano tem limite de armazenamento. "Hoje já esquecemos
de informações que não usamos quando aprendemos coisas novas", explica o
gerontologista Aubrey de Grey. Nos imortais, aconteceria o mesmo: séculos
inteiros seriam apagados da memória limitada. Vão viver, mas não vão lembrar
para contar a história.
6. Adeus, deus
"Há tempo de nascer e tempo de morrer", diz a Bíblia. A
Igreja não aprovaria uma droga que prolongasse a vida por tempo indeterminado.
E não espere manifestações só dos católicos. Sem a ameaça de morte, para muita
gente não faria sentido se manter religioso - até porque as religiões se
baseiam na ideia de recompensar o ser humano no pós-morte.
7. Reinvenção constante
Com tanto tempo nas mãos, os humanos vão querer novas experiências.
Engenheiros se tornarão médicos, que se tornarão bombeiros, que vão ser
astronautas. O mesmo vai acontecer com os casamentos. O "até que a morte
os separe" não vai fazer sentido. Ex-mulheres e ex-maridos vão pipocar por
aí - e haja pensão para pagar todo mundo.
8. Cansei dessa vida
Depois de séculos, ser imortal será um fardo. Quem já viu de tudo não
terá motivo para continuar vivo. Sem essa motivação, o ciclo natural da vida
será tentador. O suicídio seria uma alternativa. Mas o mais provável é que as
pessoas simplesmente parassem de tomar o remédio da juventude e voltassem a
envelhecer.
Fonte: Superinteressante.
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