Para que serve o apêndice?
Muita gente tem a resposta na ponta da língua: serve só para inflamar.
Tanto que sua retirada não compromete a saúde de ninguém. Até pouco tempo
atrás, os cientistas achavam que esse pequeno tubo ligado ao intestino grosso
era um órgão vestigial - ou seja, um resquício da evolução. Sua função original
teria se perdido com algum de nossos antepassados. Em 2007, contudo, houve uma
reviravolta. Cientistas da Universidade Duke, nos EUA, publicaram um estudo
sugerindo que o apêndice serve de abrigo para bactérias que ajudam na digestão.
A estrutura promoveria a proliferação da flora intestinal (o playground dos
micro-organismos "do bem" que vivem em nosso aparelho digestivo),
ajudando, assim, a repor os desfalques causados por uma eventual infecção. Outra
teoria sugere que o apêndice contribui para as defesas do corpo, já que nele se
aglomeram células linfoides, produtoras de anticorpos. Essa seria sua principal
função num passado remoto. Hoje, no entanto, o que esse órgão realmente promove
é a apendicite. Ela atinge 0,25% da população e pode até matar. É por isso que,
em caso de inflamação, o melhor mesmo é remover o dito-cujo.
Por que apenas metade das
fertilizações in vitro resulta em gravidez?
Meses atrás, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a classificar
infertilidade como doença. Não é para menos: de cada 100 casais em idade
reprodutiva, 15 não conseguem ter filhos. No caso de mulheres acima de 36 anos,
a incidência é ainda maior por causa do envelhecimento dos óvulos - as células
sexuais femininas. Para solucionar o problema, muita gente recorre à
fertilização in vitro (FIV). O tratamento funciona assim: primeiro, o médico
estimula a ovulação múltipla controlada na mulher (em vez de liberar um óvulo
no mês, ela vai liberar vários); em seguida, ele induz o amadurecimento dessas
células, colhe as melhores e injeta nelas o sêmen do marido; depois, verifica
quantos óvulos foram fertilizados e acompanha o desenvolvimento dos embriões em
laboratório (daí o nome in vitro); por último, o médico transfere para o útero
alguns desses embriões (no máximo 4). E toda a família faz figa. É justamente
aí que começa o mistério. "A taxa de gravidez com a FIV não passa de
50%", afirma o especialista em fertilidade Selmo Geber, professor da UFMG
e diretor da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida. Segundo Geber, o
grande enigma é a implantação - o momento em que os embriões "grudam"
no útero. Ela só ocorre em metade das mulheres, quando o esperado, por se
tratar de um processo controlado, seria ocorrer em todas. Para uma mulher de
até 35 anos que tenta engravidar normalmente, por meio de uma relação sexual, a
chance de sucesso não passa de 20%. O motivo é simples: a concepção natural
está sujeita a muitas variáveis. Pode ser que a mulher não tenha ovulado
naquele mês ou que o folículo (bolsa que guarda o óvulo) esteja vazio. Pode
acontecer também de o espermatozoide não chegar a tempo até o óvulo, ou chegar
e não fecundá-lo. Mesmo que a fecundação ocorra, é possível ainda que não se
forme um embrião. E, por último, existe a possibilidade de o embrião, apesar de
formado, acabar não "grudando" no útero. "Já na fertilização in vitro,
só existe essa última variável", diz Geber. Mesmo assim, a gravidez só
ocorre em metade dos casos. E olha que são transferidos até 4 embriões para o
útero! Por que isso acontece? Ninguém faz a mínima ideia. Certeza, só há uma: é
preciso insistir quando a primeira tentativa de engravidar com FIV não dá
certo. Segundo o especialista, 85% das mulheres engravidam após 3 tentativas.
Pensamento positivo: ele é capaz de curar?
Para o nadador holandês Maarten van der Weijden, que se livrou de um
câncer recentemente, pensamento positivo não cura doença alguma. "Acho até
perigosa essa ideia. Ela sugere que você vai perder se não pensar
positivamente. Foram os médicos que me salvaram, sou apenas um sujeito
sortudo", afirma o campeão de natação. Diversos estudos, no entanto,
indicam que ver o copo "meio cheio" ajuda mais que vê-lo "meio
vazio". Um deles, produzido por pesquisadores da Universidade de
Pittsburgh, nos EUA, acompanhou 100 mil mulheres acima dos 50 durante 8 anos. E
concluiu que as otimistas tinham risco 9% menor de ter problemas cardíacos e
14% menor de morrer por qualquer causa relacionada à idade (câncer e ataque
cardíaco, por exemplo). Segundo outra pesquisa, desta vez levada a cabo na
Universidade Ben Gurion, em Israel, mulheres que passam por situações muito
difíceis, como a perda de familiares ou um divórcio, têm mais risco de
desenvolver câncer de mama. O estudo israelense verificou que essas mulheres
tendem a relatar problemas de depressão e ansiedade antes do diagnóstico.
"Esses dados sugerem que o otimismo é protetor e que o pessimismo é
prejudicial quando se fala em desenvolvimento de várias doenças, especialmente
as do coração", diz a médica americana Laura Kubzansky, da Universidade
Harvard. "Mas ainda falta descobrir muita coisa sobre os mecanismos
envolvidos nessa proteção."
Estamos longe da cura?
AIDS
Debilita o sistema imune de sua vítima, deixando-a vulnerável a uma série
de infecções oportunistas.
1981 - A doença é descrita pela primeira vez. No ano seguinte, seriam
confirmados os primeiros casos no Brasil.
1984 - Cientistas descobrem o retrovírus considerado agente causador
da doença - mais tarde batizado de HIV.
1986 - Os EUA aprovam o uso do medicamento AZT, primeiro a dar
resultados positivos no tratamento da aids.
2009 - O número de contaminados pelo HIV chega a 33,4 milhões no
mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
PESQUISAS MAIS PROMISSORAS - Duas investigam as células CD-8 e o
receptor celular CCR-5 nos sobreviventes de longo prazo (leia mais na pág. 41).
Uma terceira se concentra nas células dentríticas plasmacitoides, que produzem
uma proteína - a IFN-a - capaz de bloquear o vírus.
ALZHEIMER
Doença degenerativa do cérebro que afeta a memória, compromete o raciocínio
e acaba levando à morte.
1906 - A origem da doença (acúmulos de proteína no córtex cerebral) é
descrita pelo neurologista alemão Alois Alzheimer.
Anos 60 - Os cientistas reconhecem que Alzheimer é uma doença. Até
então, achavam que era parte do envelhecimento.
1993 - Identificado um gene mutante da apolipoproteína, que
responderia por até 25% dos casos de Alzheimer
2009 - Mais 4 genes ligados ao Alzheimer são identificados, ampliando
as possibilidades de combate à doença.
PESQUISAS MAIS PROMISSORAS - Cientistas japoneses estudam a proteína
"humanina", produzida no cérebro. No futuro, ela poderá ser usada
para frear a morte de células nervosas nos doentes. Outra esperança vem de
pesquisadores suecos, que testam drogas capazes de estimular células-tronco a
substituir os neurônios destruídos pela doença.
PARKINSON
Também ataca o sistema nervoso - comprometendo movimentos, mas sem afetar
a capacidade intelectual.
1817 - O cientista britânico James Parkinson descreve a desordem
neurológica pela primeira vez.
1961 - A substância Levodopa começa a ser usada em doentes de
Parkinson. Ela não cura, mas alivia os sintomas.
1984 - Mohamed Ali anuncia que sofre da doença. Especula-se que os
golpes recebidos durante a carreira sejam a causa.
2006 - Pesquisadores de Harvard, nos EUA, sugerem que longa exposição
a pesticidas aumenta o risco de Parkinson.
PESQUISAS MAIS PROMISSORAS - Cientistas da Universidade do Colorado,
nos EUA, descobriram que o gene DJ-1 pode evitar a morte das células nervosas
atacadas pela doença, e trabalham no desenvolvimento de uma droga que estimule
seu bom funcionamento. Tratamentos neuroprotetores também são pesquisados por
outras instituições.
CÂNCER
Mais de 100 doenças caracterizadas pelo desenvolvimento de células
tumorais.
1873 - O inglês Campbell de Morgan descobre que o câncer surge localmente
e se espalha pelo corpo (metástase).
1910-1920 - A polonesa Marie Curie coordena os primeiros estudos para
tratamento de tumores usando radioatividade.
1991 - Mutações do gene p53 são associadas a vários tipos de câncer
(hoje, sabe-se que ele está ligado a 50% dos casos).
1993 - Estudo feito nos EUA prova que fumaça de cigarro causa câncer e
põe fim à controvérsia sobre fumantes passivos.
PESQUISAS MAIS PROMISSORAS - Depois de descobrir que o bloqueio de um
gene causador da doença - o Skp2 - força células tumorais a envelhecer e
morrer, pesquisadores de Harvard desenvolveram uma droga que já está na fase de
testes. A partir dela, acredita-se ser possível criar medicamentos capazes de
extirpar células cancerígenas.
O que provoca a gagueira?
Quase 2 milhões de brasileiros (aproximadamente 1% da população)
apresentam alguma forma desse distúrbio. Uns repetem sons e sílabas
("E-e-era uma vez" ou "Era uma ve-vez"). Outros prolongam
os sons ("Era uma vvvvez"). E há também os que sofrem bloqueios na
hora de pronunciar as palavras ("Era uma... ....vez"). Ao contrário
do que diz a sabedoria popular, gagueira não é contagiosa nem é fruto de
nervosismo - embora muitos gagos fiquem ansiosos em função de sua dificuldade.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), ela provavelmente é
causada pelo mau funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pela
automatização da fala. São os chamados "núcleos de base", que não
conseguem ajustar bem o tempo de duração dos sons e das sílabas. De acordo com o
especialista britânico David Ward, diretor do Laboratório de Ciências da
Linguagem da Universidade de Reading, na Inglaterra, crianças com parentes de
1o grau que sejam gagos têm 3 vezes mais risco de gaguejar também. Essa
concentração em famílias indica, segundo Ward, que a gagueira pode ter um
componente genético em sua origem. No entanto, mesmo quem tem predisposição só
desenvolve o distúrbio ao interagir com o ambiente. Outras causas estariam
ligadas a lesões na estrutura do cérebro durante a gestação - falta de
oxigênio, prematuridade ou traumatismos, por exemplo.
Qual seria a causa do
sonambulismo?
Em crianças, ninguém sabe ao certo. Cansaço, poucas horas dormidas e
ansiedade são apenas candidatos a explicar por que cerca de 30% delas
apresentam essa desordem do sono. Os especialistas também suspeitam de um fator
hereditário. Os episódios começam uma ou duas horas depois que a criança dorme,
geralmente antes da fase REM (a do movimento rápido dos olhos, período no qual
é mais comum a manifestação dos sonhos). As funções motoras despertam, enquanto
a consciência continua dormindo. Assim, o sonâmbulo pode sentar na cama, ficar
de pé, fazer movimentos repetitivos e até perambular pela casa, mas não sabe o
que está acontecendo. Os eventos podem durar de poucos segundos a vários
minutos, e se repetir durante a noite. À medida que a criança cresce, o
sonambulismo tende a desaparecer sem deixar vestígios. Por isso, é considerado
um distúrbio benigno. Já nos adultos, a prevalência é bem menor (4%) e pode
estar relacionada a transtornos mentais, reações a drogas ou álcool, estresse,
problemas de respiração no sono, refluxos gástricos ou esquizofrenia, entre
outros fatores não totalmente conhecidos.
O que provoca a esquizofrenia?
Esquizofrenia é um problema sério, que atinge 1% da população mundial
(2 milhões de pessoas apenas no Brasil). Durante as crises, os doentes costumam
perder o contato com a realidade: têm alucinações, escutam vozes, deliram. Já
no dia a dia, podem apresentar déficit de memória, ansiedade acima do normal e
depressão. Embora permaneça sem cura, já se sabe muita coisa sobre a doença.
Mas sua origem continua sendo mistério. Estudos indicam que ela tem um componente
genético e neurodesenvolvimental - ou seja: ainda no útero, o feto começa a
sofrer uma alteração em seu sistema nervoso. Esse quadro vai progredindo na
infância e na adolescência, até aparecerem os sintomas. A maioria dos
especialistas acredita que os surtos acontecem justamente por causa desse
desenvolvimento cerebral anormal. Ele geraria um desequilíbrio na produção de
substâncias que regulam a troca de informações entre os neurônios, como a
dopamina e o glutamato. "Acreditamos que ocorra um excesso dessas
substâncias em certas regiões do cérebro, e uma diminuição em outras", diz
o psiquiatra Jaime Hallak, professor da Faculdade de Medicina da USP. Mas o que
provoca esse desequilíbrio? Ninguém arrisca cravar uma resposta. Parte do
mistério pode ser elucidada com uma explicação genética. Quando o pai é
esquizofrênico, o risco de seu filho também ser chega a 10%. Já quando pai e
mãe sofrem da doença, essa probabilidade salta para 25%. O problema é que a
matemática dos genes ainda não resolve a equação por completo. "Mesmo
conhecendo o padrão genético, não sabemos quais genes atuam na
esquizofrenia", afirma o psiquiatra. Pesquisas recentes sugerem que
fatores ambientais também estão ligados ao desenvolvimento da doença. Mudanças
drásticas na vida de uma pessoa podem resultar num estado de estresse incomum,
levando-a a um penoso processo de reorganização. Nessa fase de adaptação, a
esquizofrenia tenderia a se manifestar entre os que apresentam propensão
genética. Segundo os defensores dessa tese, perder uma pessoa amada ou ir morar
no exterior elevaria o risco de 1% para 3%. E quem fumou muita maconha na
adolescência estaria 10 vezes mais sujeito a virar esquizofrênico na fase
adulta - desde que também apresente predisposição.
Qual é a origem do autismo?
Eis uma das perguntas que mais desafiam a medicina. E não é a única
envolvendo essa doença. Pergunte a qualquer médico: por que o autismo é 4 vezes
mais comum em meninos que em meninas? Ele não será capaz de responder. São
tantos os mistérios relacionados à disfunção que, para muitos especialistas,
ela não é apenas uma, mas várias doenças. A Sociedade Americana de Autismo, por
exemplo, define-a como um conjunto de transtornos que afetam suas vítimas -
sempre até os 3 anos de idade - com diferentes graus de intensidade. Estudos de
gêmeos idênticos indicam que a desordem pode ser, pelo menos em parte, de
natureza genética - quando ocorre em um dos irmãos, tende a ocorrer no outro
também. Mas há evidências, por outro lado, de que a origem do autismo esteja
associada a infecções virais, como a rubéola congênita. As especulações não
param por aí. Alguns pesquisadores acreditam que o desenvolvimento do autismo
pode estar ligado também à fenilcetonúria - uma doença herdada, que decorre da
falta ou ausência total de uma enzima chamada fenilalanina hidroxilase. E
certos trabalhos científicos sugerem ainda uma relação entre o autismo e a
síndrome do X frágil (assim chamada por ser resultado de uma alteração no
cromossomo X). Certo mesmo é que os autistas geralmente apresentam uma tremenda
dificuldade para interagir e se comunicar com o mundo ao seu redor. É por isso
que, no passado, acreditava-se que o transtorno tivesse origem psicológica.
Hoje, não se cogita mais essa hipótese.
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