Vocês trocaram mensagens bobas pelo celular, dividiram brigadeiros de
panela, assistiram TV juntos largados na poltrona e dormiram de conchinha.
Foram, enfim, o centro da vida um do outro. Mas agora é cada um para o seu
lado. E sempre fica um enorme ponto de interrogação: se era tão bom, por que
acabou? Para entender, é preciso voltar no tempo e fazer um passeio pelas
savanas africanas, 3 milhões de anos atrás. O homem caçava e protegia a
família. A mulher cuidava dos filhotes. Mas, em determinado momento, os casais
se separavam. O objetivo da família nuclear - nome técnico que os antropólogos dão
ao conjunto de pai, mãe e filhos - era garantir que o homem ficasse por perto
tempo suficiente para criar o filhote. Somente isso. Quando o filhote já estava
crescidinho e não exigia atenção integral da mãe (que por isso podia voltar a
se virar sozinha), o pai estava livre para ir embora e procurar outras fêmeas
para procriar.
É daí que vem a chamada crise dos 7 anos. Esse é o período necessário
para que uma criança se torne minimamente independente. Um estudo da ONU
revelou que o número de separações vai aumentando a partir do 3o ano dos
relacionamentos e atinge o pico no 7o ano - quando começa a declinar. Ou seja:
o 7o ano realmente é a hora da verdade da relação. No filme O Pecado Mora ao
Lado, de 1955, Marilyn Monroe faz o papel de uma mulher que se relaciona com um
homem casado. Sabe qual é o nome original do filme, em inglês? The Seven Year
Itch, ou "A Coceira dos 7 Anos". Porque é justamente nesse momento
que a relação está mais ameaçada - pela comichão de trair.
As estatísticas variam, mas entre 50 e 60% dos homens têm sexo fora do
casamento, contra 45 a 55% das mulheres. O aumento da infidelidade tem a ver
com a independência delas, que já são quase metade da força de trabalho e estão
diminuindo rapidamente a distância financeira para os homens (nos EUA, 22% das
esposas já ganham mais do que os maridos). Mas as raízes disso estão dentro do
cérebro. Lembra-se de quando dissemos, na primeira reportagem desta série, que
os sistemas cerebrais (luxúria, paixão/amor e ligação) eram independentes? Isso
tem um motivo - e não é complicar os relacionamentos. Pelo contrário: surgiu
para que nossos ancestrais pudessem buscar estratégias reprodutivas diferentes.
A mulher poderia ter um parceiro para protegê-la enquanto gerava os filhos de
outro, enquanto o homem poderia espalhar seus genes alegremente por aí, com
outras mulheres. A natureza não queria o ideal romântico de amor eterno. Ela
queria que tivéssemos um backup reprodutivo, um plano B genético, e nos meteu
nessa confusão.
E as circunstâncias também influem: na hora de decidir trair ou não, a
relação do casal, a insatisfação com o parceiro, a oportunidade, tudo isso
pesa.
Mas muita gente tem os genes, os hormônios, todas as oportunidades do
mundo, e não trai. Nós não somos robôs biológicos. É possível resistir ao
desejo de trair. Mas é muito mais difícil resistir a outro fenômeno, igualmente
destrutivo para os relacionamentos: o ciúme. O mais engraçado é que esse
monstro de olhos verdes, como chamou Shakespeare, surgiu com o objetivo oposto
- preservar a relação monogâmica. Ao primeiro sinal de infidelidade, soa o
alarme e a pessoa fica atenta. E, como homens e mulheres desenvolveram
estratégias distintas de reprodução, também sentem ciúmes de coisas diferentes.
Como para o homem é muito dispendioso criar o filho de outro homem,
ele sente mais ciúmes da infidelidade sexual. Já para a mulher, não faria tanta
diferença se o homem distribuísse apenas esperma para as moças por aí; a grande
ameaça é o envolvimento emocional, que coloca em risco a proteção e o cuidado
que o homem dá a ela e aos filhos.
Em 2006, o neurologista japonês Hidehiko Takahashi fez exames de
ressonância magnética no cérebro de homens e mulheres que comprovaram essas
diferenças. Quando sente ciúmes, o homem usa partes do cérebro ligadas a
comportamentos agressivos e sexuais, como a amígdala e o hipotálamo. Já nas
mulheres, a área mais ativada durante as crises de ciúme é o sulco temporal
posterior superior, associado à percepção de emoções nas outras pessoas.
E a internet está piorando o ciúme. Uma pesquisa feita por psicólogos
canadenses com 308 voluntários descobriu que as redes sociais, como Orkut e
Facebook, alimentam o ciúme. Sabe por quê? Nada menos do que 74,6% das pessoas
adicionam ex-namorados ou rolos como amigos nessas redes - que depois o cônjuge
atual vai fuçar atrás de indícios.
Com ou sem ciúme, a verdade é que boa parte dos relacionamentos está
destinada a acabar. E esse momento pode ser muito difícil. "A natureza
realmente exagerou no que diz respeito ao fim dos relaciomentos", diz
Helen Fisher. Quando uma pessoa é abandonada, sua reação se divide em duas
fases. A 1a é o protesto. É quando a a pessoa fica fazendo promessas, doida
para reatar. Isso pode ser muito inconveniente. Mas ela não tem culpa. É o
corpo agindo. "O cérebro estava acostumado com aquela recompensa [a pessoa
amada], então faz você insistir mais e mais para tentar consegui-la de
novo", explica a neurologista Suzana Herculano-Houzel. O pânico de ver que
não está dando certo pode acionar o sistema de estresse do organismo, que por
sua vez estimula novamente a produção de dopamina - ironicamente, fazendo a
pessoa se sentir ainda mais apaixonada.
Depois vem a 2a fase: aceitação. Depois de ver que o amado não irá
mesmo voltar, muita coisa pode passar pela cabeça da pessoa - depressão,
confusão, frustração. Até mesmo ódio. Mas por que sentir algo tão ruim por
alguém que se amou? É que o ódio e o amor passam pelas mesmas partes do cérebro
- a ínsula e o putâmen. "A diferença entre os dois é que, no ódio, existe
mais capacidade de planejar as ações. No amor, o julgamento está
prejudicado", diz o neurologista Semir Zeki, da University College London.
Então o ódio é mais racional que o amor? Não necessariamente. Mas ele tem sua
função: é uma defesa do organismo para nos fazer seguir em frente. Em vez de
ficarmos remoendo eternamente as dores, passamos a não querer mais ver a
pessoa. "Assim como o cérebro associava coisas positivas a uma pessoa, ele
pode passar a associar só sentimentos ruins, negativos", diz Suzana
Herculano-Houzel. Todos nós sofremos e fazemos sofrer. E, se isso servir de
consolo, as celebridades também se separam e sofrem, talvez até mais do que as
pessoas comuns. Já ficou famosa a chamada "maldição do Oscar", que
atingiria as vencedoras do Oscar de melhor atriz. Nos últimos 12 anos, apenas
duas atrizes não se divorciaram após ganhar o Oscar. E logo após o prêmio deste
ano, o marido da vencedora, Sandra Bullock, foi pego tendo um caso
extraconjugal.
Tem gente que mata (e se mata) por amor. Mas a maioria das pessoas
supera as dores emocionais da separação. Um estudo feito pela Universidade
Northwestern mostrou que terminar uma relação não é tão ruim quanto pensamos
que vai ser - geralmente leva metade do tempo que achamos. Isso acontece porque
a mente tende a voltar a seu estado inicial: cientistas da Universidade de
Massachusetts provaram que, após um ano, as pessoas que ganham na loteria apresentam
os mesmos níveis de felicidade que as que se tornam tetraplégicas. Ambas voltam
aos níveis de felicidade que tinham antes do fato extraordinário. E a melhor
coisa para curar um coração partido é começar outro relacionamento. Disso você
já sabe.
Fonte: Superinteressante.
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