Nos Estados Unidos, os ateus são um dos grupos menos queridos: apenas 45% dos americanos dizem que votariam em um candidato à presidência que se declarasse ateu. Além disso, a falta de crenças religiosas faz com que essas pessoas não sejam consideradas, geralmente, um genro ou uma nora em potencial. Will Gervais, da University of British Columbia , publicou recentemente estudos que analisam por que os ateus são tão mal-vistos. De acordo com essas pesquisas, o motivo, essencialmente, é confiança. Durante os experimentos, Gervais e seus colegas apresentaram a voluntários uma história sobre um motorista que, acidentalmente, bate em um carro estacionado e não deixa informações para que o outro motorista possa acionar o seguro. Em seguida, os participantes foram convidados a escolher a probabilidade de que o personagem em questão fosse cristão, muçulmano, estuprador ou ateu. Os voluntários julgaram igualmente provável que o culpado fosse ateu ou estuprador e improvável que fosse muçulmano ou cristão.
Em um estudo distinto, Gervais examinou como o ateísmo influencia na contratação de funcionários. Durante a pesquisa, alguns voluntários precisavam “empregar” dois funcionários, um ateu e um religioso, em duas vagas distintas: uma para um cargo que exigia alto grau de confiança e outra baixo. Para o posto de alta confiança, em uma creche, os participantes se revelaram mais propensas a preferir o candidato religioso. Para a vaga de garçonete, no entanto, os ateus se saíram muito melhor. Não foram apenas os voluntários extremamente religiosos que expressaram desconfiança em relação aos ateus. Pessoas que declararam não ter afiliação religiosa manifestaram opiniões semelhantes. Os pesquisadores descobriram que ateus não costumam confiar em quem também não tem crenças religiosas por julgar que as pessoas se comportam melhor quando acreditam que Deus as está observando. Essa convicção pode conter alguma verdade: Gervais e seu colega Ara perceberam que lembrar as pessoas sobre a presença de Deus tem o mesmo efeito que dizer que elas estão sendo observadas por alguém. Isso intensifica sentimentos de autoconsciência e as leva a se comportarem de maneiras socialmente mais aceitáveis
Quando sabemos que alguém acredita na possibilidade de punição divina, é como se assumíssemos que ficam menos propensas a fazer algo antiético.
Do ponto de vista psicológico, Deus e figuras de autoridade seculares podem ser, em certa medida, intercambiáveis. A existência de Deus ou de figuras de autoridade seculares nos ajuda a sentirmos mais confiança.
As conclusões a que Gervais e Ara chegaram podem lançar luz sobre um enigma interessante: por que a aceitação do ateísmo tem crescido rapidamente em alguns países, mas não em outros? Em muitos países escandinavos, como a Noruega e a Suécia, o número de pessoas que declararam acreditar em Deus atingiu um mínimo histórico. Isso pode estar relacionado com a forma como esses países estabeleceram governos que asseguram um nível elevado de segurança social a todos os seus cidadãos.
Pesquisadores realizaram um estudo no Canadá que constatou que insegurança política pode levar-nos a crer em Deus. Eles deram aos participantes duas versões de uma notícia fictícia: uma descrevendo a atual situação política do Canadá como estável e outra descrevendo-a como potencialmente instável. Após terem lido um dos artigos, as crenças das pessoas em Deus foram mensuradas. Os que leram o artigo que descreve o governo como potencialmente instável revelaram maior probabilidade de concordar que Deus, ou algum outro tipo de entidade não humana, está no controle do universo. Uma crença comum no divino pode ajudar as pessoas a se sentirem mais seguras. Mas, quando a segurança é obtida por meios mais seculares, isso pode subtrair algum peso da fé.
As conclusões sobre por que não confiamos em ateus também apontam para outra possível maneira de reduzirmos o preconceito: lembrar as pessoas sobre atos de caridade e altruísmo praticados em nome do ateísmo. Nos últimos anos, tem havido um número crescente de comunidades virtuais dedicadas aos interessados em ateísmo.
Fonte: Scientific american
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