A conquista poderá gerar rins substitutos sem falta de doadores ou
problemas imunológicos. Cientistas do Hospital Geral de Massachusetts, em
Boston, implantaram rins produzidos em laboratório a partir de estruturas
renais básicas em ratos. Quando transplantados, esses órgãos ‘bioengenhados’
começaram a filtrar o sangue dos roedores e a produzir urina.
A equipe, conduzida por Harald Ott, especialista em regeneração de
órgãos, começou trabalhando com rins de ratos logo depois de sua morte e usaram
detergente para remover as células, deixando para trás a estrutura subjacente
de tecidos conectivos como os componentes estruturais de vasos sanguíneos.
Eles então regeneraram o órgão ao semear essa estrutura com dois tipos
de células: células de veias umbilicais humanas para forrar a estrutura com
vasos sanguíneos, e células renais de ratos recém-nascidos para produzir os
outros tecidos que compõem o órgão. O trabalho foi descrito em 14 de abril na
Nature Medicine.
Ott e seus colegas desenvolveram o método em 2008, e desde então
usam-no para produzir corações e pulmões.
“Esse estudo relata marcos importantes para o transplante de rins
artificiais e mostra o potencial dessa estratégia”, declara o urologista
Anthony Atala, que dirige o I Institute for Regenerative Medicine at Wake
Forest School of Medicine in Winston-Salem na Carolina do Norte.
“Se o trabalho puder ser reproduzido, os cientistas envolvidos
claramente realizaram um feito extraordinário e merecem louvores”, adiciona
William Fissell, nefrologista da University of California, em San Francisco.
Atualmente, pacientes que desenvolvem as formas mais severas de
doenças renais podem continuar vivos com diálise, mas somente um transplante
pode curá-los. E, apenos nos Estados Unidos, 100 mil pessoas estão esperando
uma doação de rim.
Outros grupos de pesquisa usaram técnicas de engenharia de tecidos
para desenvolver dispositivos externos de auxílio renal usando células humanas,
e alguns já passaram por testes clínicos iniciais. Mas Ott argumenta que seus
rins produzidos por bioengenharia, apesar de muito atrasados em
desenvolvimento, tem o benefício de serem implantáveis, da mesma maneira que um
órgão doado.
Órgãos em demanda
Se a equipe conseguir escalonar a técnica para produzir rins humanos,
eles poderiam fornecer órgãos prontos, geneticamente adaptados, que teriam uma
probabilidade muito menor de serem rejeitados pelo sistema imunológico de um
paciente. As estruturas viriam de doadores já existentes – sem necessidade de
paridade genética – ou talvez até de animais, como porcos. Em alguns casos,
bioengenheiros poderiam ser capazes de remover o rim do próprio paciente e
reconstruí-lo.
“Em um mundo ideal, se alguém entrasse em um hospital e pedisse para
que um rim fosse produzido, não haveria falta de doadores e nem problemas
imunológicos”, observa Ott.
O método de Ott preserva a arquitetura tridimensional do rim, a
estrutura dos vasos sanguíneos e moléculas que ajudam a guiar e organizar a
produção de células. Por exemplo, a equipe viu que células chamadas de
podócitos normalmente acabavam no lugar certo nos órgãos produzidos – ao redor
de estruturas que filtram o sangue, chamadas de glomérulos.
No entanto, os órgãos resultantes estão longe de ficar prontos para
aplicação. Quando transplantados em ratos, eles só produziram um terço da urina
de rins normais, e eliminavam creatinina – um subproduto de músculos que é
usado para avaliar a saúde dos rins – 36 vezes mais devagar que o normal.
Ott põe a atribui esse fraco desempenho à imaturidade de órgãos
artificiais e na possivel ausência da gama de completa de tipos celulares
encontrados em rins adultos. Mas ele aponta que muitos pacientes com doença
renal só começam a diálise quando sua função renal fica abaixo de 15%. “Se
pudermos fazer um transplante que funcione a 20%, isso já tornaria os pacientes
independentes da hemodiálise”, aponta ele.
Agora a equipe está testando a mesma técnica usando rins humanos e
suínos. Eles também estão desenvolvendo maneiras mais sofisticados de conduzir
o desenvolvimento das células semeadas, e Ott espera que sua última publicação
atraia o interesse de outros biólogos. “Precisaremos de colaboradores, e de
muito mais cérebros contribuindo”, declara ele.
Um rim regenerado que possa ser implantado em humanos “continua muito,
muito distante”, lembra Fissell. “Em quase todas as áreas da medicina, o salto
de roedores para humanos é extraordinariamente difícil, e esse também parece
ser o caso com estruturas de órgãos”. No entanto, de acordo com ele, o trabalho
da equipe ainda fornece uma plataforma para compreender como rins se
desenvolvem e se reparam. “Essa pode acabar sendo a área em que o artigo terá o
maior impacto”, conclui Fissell.
Fonte: Scientific American.

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