Disfunção cerebral pode explicar alguns casos e aspectos do transtorno
sexual hipoativo. Quem experimenta falta ou perda total do apetite sexual, sem
que sejam identificadas causas médicas, sofre de transtorno do desejo sexual
hipoativo. Algumas pessoas sempre foram assim, outras perdem o desejo
repentinamente. Muitas vezes, os sintomas
permanecem durante meses ou anos e têm consequências graves para os
relacionamentos íntimos, para as relações de casais e para a autoestima de quem
enfrenta a situação. Entre os homens que passam por isso, aproximadamente
metade relata sofrer também de disfunção erétil.
Quando não há um mal físico ou outro distúrbio psíquico, como
depressão, é comum que as pessoas procurem uma explicação. A maioria dos
sexólogos relaciona como possíveis causas psíquicas problemas no relacionamento
e temor do contato sexual, por exemplo, por medo do fracasso ou mesmo como
consequência de experiências traumáticas. A psiquiatra especializada em terapia
sexual Helen Kaplan, da Universidade Estadual de Nova York, porém, acredita que
aqueles que apresentam o transtorno tendem a dirigir, inconscientemente, sua
atenção para aspectos físicos negativos ou traços de caráter que não aprovam em
seu parceiro potencial – o que faz com que o próprio desejo sexual diminua ou
desapareça. Helen também considera ser possível que,nesses casos, os processos
cerebrais que controlam o desejo estejam prejudicados.
Para testar essa hipótese, comparamos, com a ajuda de tomografia por
emissão de pósitrons (PET), sete indivíduos que apresentavam o transtorno com
oito saudáveis – apenas homens, heterossexuais, entre 20 e 50 anos, que não
tomavam medicamentos nem drogas e não sofriam de nenhum outro distúrbio
psíquico. Queríamos saber se o cérebro desses voluntários reagiria de forma
diferente a estímulos sexuais.
De modo sequencial, apresentamos a cada participante três tomadas de
vídeo: um homem e uma mulher durante o ato sexual, uma situação neutra do dia a
dia e, por último, uma cena humorística. Em uma nova rodada, mostramos três
tipos de fotografia: mulheres trajadas como executivas, modelos vestidas
normalmente e jovens seminuas. Ao mesmo tempo, registramos a atividade cerebral
e medimos a excitação física com um pletismógrafo penil – anel elástico que
mede o grau da ereção de acordo com a circunferência do pênis. Além disso, os
próprios indivíduos avaliavam, após cada exibição, quanto os filmes ou as
imagens os tinham excitado sexualmente.
Resultado: quando os homens
saudáveis viam um video ou uma foto com conteúdo sexual, a circulação sanguínea
em uma parte do lobo frontal imediatamente acima do globo ocular diminuía.
Naqueles com desejo sexual hipoativo, isso não ocorreu. Portanto, a região em
questão, o giro reto, ao ser ativada, poderia ter participação no controle do
desejo e da excitação.
Quando esses homens tinham diante de si uma imagem erótica, o giro
reto esquerdo reduzia sua atividade – uma “desinibição”, no sentido real da
palavra. Se essa região é lesada em consequência de um trauma cerebral, o
sujeito perde a contenção, a vergonha ou o senso de moral, buscando prazeres de
forma excessiva – principalmente os de caráter sexual. Se, por outro lado, essa
região é hiperativa, a contenção se torna tão forte que o apetite sexual desaparece.
Em outras quatro regiões, o cérebro se comporta de maneira oposta: ali, as
tomografias do grupo de controle saudável mostraram maior atividade. Três
dessas regiões, as chamadas áreas pré-motoras, como o giro do cíngulo, preparam
os movimentos. A quarta região, localizada no lobo parietal inferior esquerdo,
torna-se ativa quando a pessoa imagina uma ação, sem colocá-la em prática, como
em uma fantasia sexual. De fato, os indivíduos com desejo sexual hipoativo
relataram que, durante a apresentação dos estímulos eróticos, não pensaram no
próprio corpo ou em atividades sexuais.
Com base nisso, detectamos duas disfunções no cérebro que
aparentemente estão associadas à falta de apetite sexual: de um lado, contenção
excessiva partindo do cérebro frontal inferior; de outro, falta de imaginação
erótica, perceptível pela reduzida atividade no lobo parietal inferior e nas
áreas pré-motoras.
Pesquisadores consideram, porém, que isso não significa
necessariamente que tais disfunções causaram a falta de apetite sexual nem que
o transtorno possa ser tratado apenas com medicamentos; a psicoterapia está
igualmente associada a mudanças no cérebro. Também na área da sexualidade,
corpo e psique devem ser compreendidos como os dois lados da mesma moeda.
Fonte: Scientific American.
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