Quando você está passando por um mau momento, você se sente sozinho?
Saber que outras pessoas estão passando pela mesma coisa faria você se sentir
melhor? Desabafar poderia te aliviar?
Segundo o psicólogo social e professor da Universidade Stanford (EUA)
Gregory Walton, criador da “intervenção do pertencer”, sim. Saber que você não
está sozinho e que outros passam pela mesma coisa tem o poder de fazer as
pessoas acreditarem no melhor.
Essa técnica tem o objetivo de transformar os eventos negativos na
vida de uma pessoa ao transformar a “culpa” que ela acha que tem (de que o
problema é culpa dela, ou só acontece com ela) em um sentimento de
pertencimento (de que ela faz parte de um grupo de pessoas que passou pelo
mesmo problema e o superou).
Desde 2007, pesquisadores estudam a eficácia da “intervenção do
pertencer” nas pessoas. Os cientistas explicam que a vontade de pertencer a um
grupo social é um desejo inerente ao ser humano, primordial, fundamental para a
nossa sensação de felicidade e bem-estar.
Como teorizou o sociólogo Max Weber, a sensação de “pertencimento”
significa que precisamos sentir que “pertencemos” a tal lugar, e ao mesmo tempo
sentir que esse tal lugar nos pertence, pois só assim acreditamos que podemos
interferir e, mais do que tudo, que vale a pena interferir na rotina e nos
rumos desse tal lugar. O que isso significa?
Que nós não queremos ficar sozinhos. Que temos mais vontade de viver e
fazer algo na vida quando “pertencemos”.
Ter o sentimento de que “pertencemos” a algo (compartilhamos
interesses e aspirações com outras pessoas) é uma grande alavanca psicológica
que nos torna mais motivados.
O contrário também é válido: pessoas que se sentem sozinhas podem ser
totalmente desestimuladas. Estudos indicam a solidão afeta até mesmo o
desempenho em testes. A falta de companhia humana pode tão fazer mal a uma
pessoa, que não afeta apenas a saúde mental, mas a física.
Por exemplo, sentir-se isolado e desconectado das pessoas ao seu redor
pode impedir que você tenha uma boa noite de sono. Também, pesquisadores da
Universidade de Chicago (EUA) descobriram que existe uma relação direta e
biológica entre a solidão e a queda da qualidade nos indicadores de saúde,
aumentando risco de morte. Outro estudo indicou que a solidão é mais perigosa
para a saúde do que estar acima do peso ou fumar.
Você é mais do que apenas uma
pessoa no mundo
E como a intervenção do pertencer funciona? Basicamente incentivando
as pessoas a contarem suas histórias.
“Ao colocar essas experiências em uma ‘caixa’, com um começo, um meio
e um fim, o significado da experiência negativa é limitado, e as pessoas
entendem que quando coisas ruins acontecem, não é só com elas, elas não estão
sozinhas, e que é algo que passa”, explica Rajita Sinha, chefe do Centro de
Estresse da Universidade Yale (EUA).
Em dois estudos, Gregory Walton e outros pesquisadores apresentaram
estatísticas, citações e histórias de pessoas com experiências similares (das
dificuldades que tiveram no começo, mas acabaram superando) aos participantes
da pesquisa, que tiveram que usar essas informações para escrever sobre suas
próprias dificuldades e como elas poderiam melhorar.
Como esses estudos foram feitos em um ambiente universitário, os
participantes acreditavam que estavam lendo histórias de seus veteranos, e que
escreveriam para os próximos calouros, um público com quem eles podiam se
relacionar e se preocupar.
A ideia era de que eles se envolvessem com o material e o usassem para
refletir sobre suas próprias experiências, finalmente chegando à conclusão de
que não importa o quão ruim elas sejam, eles não estão sozinhos.
A intervenção foi de apenas 45 minutos, mas os resultados foram
significativos e duradouros: aumentou a felicidade dos indivíduos, melhorou sua
saúde e reduziu a ativação cognitiva de estereótipos negativos durante vários
anos após a intervenção inicial. Também impediu que as pessoas tomassem as
adversidades diárias pessoalmente, interpretando as como um sentimento de “não
pertencer” (“é minha culpa e só acontece comigo”).
A pesquisa teve um efeito particularmente dramático no desempenho dos
alunos, especialmente estudantes de minorias, e mulheres em cursos
esmagadoramente dominados por homens. A disparidade de desempenho acadêmico
entre eles diminuiu.
As minorias podem se sentir tradicionalmente marginalizadas e menos
valorizadas, o que pode levar a uma sensação de não pertencer. A intervenção
fez com que eles melhorassem sua autoestima, e em consequência, seu desempenho
acadêmico.
Um dos estudos envolveu calouros afro-americanos e brancos em uma
universidade predominantemente branca. Os estudantes minoritários, depois da
intervenção, constantemente melhoraram suas notas até o fim do último ano.
O segundo estudo envolveu mulheres em um ambiente de engenharia
predominantemente masculino. A intervenção aumentou a capacidade das mulheres
de lidar com estressores diários, e elas desenvolveram uma melhor autoestima e
mais amizades com seus colegas do sexo masculino.
Então, como se sentir menos solitário? É só parar de pensar nas suas
experiências apenas “do lado de dentro”. A gente costuma “guardar” para gente as
coisas ruins, e não sabemos que muitos estão passando pela mesma situação.
É nessas horas que vale a pena pegar um papel e uma caneta e “por isso
para fora”, refletir. Ao contar sua história, você vai entender que existem
muitos outros por aí com o mesmo problema. Você não está sozinho.
Fonte: Hypescience.
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