É universal: quando vamos mostrar algo muito importante ou complicado
a alguém, pedimos para essa pessoa “prestar atenção”. Geralmente, fazemos isso
porque acreditamos que manter um foco mais intenso ou um contato visual mais
cuidadoso vai nos ajudar a perceber o mundo de uma forma mais precisa. Mas tome
cuidado com essa ideia: a ciência acabou de descobrir que não é bem assim que a
coisa funciona. Um novo estudo da Universidade de Yale, que será publicado em
breve no periódico Psychological Science, mostrou que manter um foco muito
intenso em algo pode é provocar o efeito contrário e distorcer a nossa
percepção espacial. A pesquisa, conduzida pelos psicólogos cognitivos Brandon
Liverance e Brian Scholl, é surpreendente porque mostra que mesmo algo
relativamente simples, como perceber onde um objeto está em relação a outros,
pode ser distorcido pela nossa mente.
Em três experimentos, 10 voluntários foram orientados a focar sua
atenção em alguns objetos, mas não em outros.
No teste com os resultados mais reveladores, havia quatro círculos se
movendo em uma tela de computador enquanto mudavam rapidamente de cor. Dois
deles podiam ser ignorados, mas os outros dois deviam receber atenção especial
e os voluntários tinham de pressionar uma tecla sempre que ficassem com a cor
vermelha ou azul. Depois de alguns segundos de movimento, todos os círculos
desapareciam e os participantes precisavam clicar com o mouse sobre os locais
onde os dois círculos-alvos haviam aparecido pela última vez. E foi aí que se
evidenciaram as distorções. Uma delas já era esperada: como pesquisas anteriores
já haviam mostrado, os círculos eram sempre indicados como se estivessem
comprimidos em direção ao centro da tela – como se a representação que nossa
mente faz do mundo fosse ligeiramente reduzida.
A outra distorção foi a que surpreendeu os cientistas: os voluntários
relataram ter visto os círculos-alvos como se estivessem mais próximos uns dos
outros do que realmente estavam e observaram os outros dois círculos (nos quais
não haviam focado sua atenção) mais afastados do que a realidade.
Esses resultados fortalecem um campo crescente da psicologia cognitiva
que desestabiliza nossa confiança na ideia de que sabemos algo com certeza – e
coloca em xeque nossos métodos para compreender o mundo com mais exatidão. “A
atenção é a forma como as nossas mentes se conectam com as coisas no ambiente”,
explicou para a MedicalXpress o pesquisador Liverence, um dos autores do
estudo. “Nós tendemos a pensar que a atenção esclarece o que está lá fora. Mas
ela também distorce”. Não confie tanto no que seus olhos dizem: eles também
podem ser enganados pela sua mente.
Fonte: Superinteressante.
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