quarta-feira, 6 de março de 2013

Por que algumas pessoas não conseguem parar de mentir?



A mentira compulsiva pode ser uma doença? Em 1891, o alemão Anton Delbrück afirmou que sim. Hoje, a psiquiatria não reconhece mais a mentira como um transtorno em si. Porém, combinada com outros sintomas, a mitomania ajuda a diagnosticar uma série de distúrbios, segundo o professor Charles Dike, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Yale. Um dos mais surpreendentes é o factício. Seu portador faz de tudo para parecer que tem alguma doença. E não é que ele queira folgar na sexta ou tente aposentadoria por invalidez. Seu objetivo é exatamente ser tratado como doente. Em casos extremos, a condição vira síndrome de Munchausen. Nesse transtorno, a vida do portador se torna uma peregrinação por diferentes médicos - entre 0,5% e 2% de quem vai para hospitais gerais apresenta a síndrome. Ao chegar ao doutor, já vão ter pesquisado tudo sobre a doença que decidiram simular e conseguem ser tão convincentes que muitos chegam à mesa de cirurgia. Se forem descobertos, partem para o próximo hospital.
As estratégias mais simples são fabricar queixas físicas subjetivas - como dores abdominais agudas que não existem - e falsificar sinais objetivos. Vale esquentar o termômetro para parecer que tem febre, ingerir substâncias que alteram a cor da urina, simular convulsões...
Mas, nos casos mais graves, ele parte para a indução de sintomas reais: feridas criadas com injeção de saliva na pele, febre causada por injeção de alguma bactéria, e outros sintomas obtidos com medicamentos desnecessários.
De onde vem isso?
No livro Lies! Lies! Lies!, o psiquiatra Charles V. Ford defende que o comportamento do mentiroso patológico está associado à criação em família desestruturada, a abusos na infância e ao uso excessivo de álcool e drogas.
Yaling Yang e Adrian Raine, da Universidade da Califórnia do Sul, resolveram olhar não só para o passado, mas também para o cérebro desses mentirosos. Separaram os pacientes em 3 grupos: mentirosos compulsivos; sociopatas que não mentem de forma doentia; e pessoas normais. Depois, examinaram o que havia dentro da cabeça deles com imagens de ressonância magnética. Finalmente, os cientistas concluíram que os mentirosos tinham 22% mais massa branca nas regiões pré-frontais, que governam as tomadas de decisão e julgamento, do que as pessoas normais. Mas a amostragem do estudo, publicado na revista Science, é bastante restrita - 108 voluntários -, e não está claro se os resultados refletem a causa ou o efeito da mentira.

Transtornados e mentirosos
Estes são os distúrbios psiquiátricos que fazem da mentira uma compulsão
BORDERLINES
COMO SÃO? - Vão de um extremo a outro muito rápido. Em um dia, são o melhor amigo; no outro, o pior inimigo. O transtorno é mais comum em adolescentes.
POR QUE MENTEM? - Buscam ocultar as consequências dos atos de sua identidade instável.
ANTISSOCIAIS
COMO SÃO? - Não sentem remorso, não internalizam regras sociais ou legais nem zelam pela própria segurança e a dos outros.
POR QUE MENTEM? - Assim sentem prazer, tiram vantagem pessoal e também fogem de obrigações.
HISTRIÔNICOS
COMO SÃO? - Precisam estar sempre no centro das atenções. Para isso, usam artimanhas sedutoras. Quando rejeitados, partem para o drama.
POR QUE MENTEM? - Isso atrai a atenção dos outros em relatos dramáticos (e inventados).
NARCISISTAS
COMO SÃO? - Acham que são superiores e usam de todos os meios para parecer os maiorais.
POR QUE MENTEM? - Aumentando suas realizações, os narcisistas garantem a fama, a glória e a admiração que eles acreditam merecer.


18 características de um bom mentiroso

1- São manipuladores. Segundo o artigo, manipuladores mentem frequentemente e não têm escrúpulos morais – por isso, sentem menos culpa. Eles também não têm medo de que as pessoas desconfiem e não precisam de muito esforço cognitivo para fazer isso. A coisa meio que acontece naturalmente.
2- São bons atores. Quem sabe atuar tem mais facilidade em mentir e se sente confiante ao fazer isso, pois sabe que é capaz de fingir muito bem. (Antes que comece a polêmica, não estamos dizendo aqui que bons atores são necessariamente mentirosos. A lógica é oposta: bons mentirosos é que são, geralmente, bons atores)
3- Conseguem se expressar bem. “Pessoas expressivas geralmente são benquistas”, dizem os pesquisadores.  Elas dão uma impressão de honestidade porque seu comportamento sedutor desarma suspeitas logo de início, além de conseguirem distrair os outros facilmente.
4- Têm boa aparência. Pesquisas já mostraram que pessoas bonitas tendem a ser mais queridas e vistas como honestas, o que ajuda quem curte enganar os outros.
5- São espontâneos. Para acreditarmos num discurso, ele precisa parecer natural. Quem não tem a capacidade de ser espontâneo acaba parecendo artificial – e fica difícil convencer alguém desse jeito.
6- São confiantes enquanto mentem. Bons mentirosos geralmente sentem menos medo de serem desmascarados do que as outras pessoas. Então, mantêm uma atitude confiante em relação à sua habilidade de mentir.
7- Têm bastante experiência em mentir. Assim como nas outras coisas, o treino também leva à perfeição quando se trata de mentir. Quem está acostumado a isso já sabe bem o que é necessário para convencer as pessoas e conseguem lidar mais facilmente com suas próprias emoções.
8- Conseguem esconder facilmente as emoções. Em algumas situações mais arriscadas, mesmo um mentiroso veterano pode sentir medo e insegurança. Nesse caso, é fundamental conseguir camuflar bem essas emoções. Além disso, já dissemos que mentirosos geralmente são pessoas expressivas, né? Pois é: eles costumam ser bons em fingir sentimentos que não estão realmente sentindo, mas também tendem a manifestar seus verdadeiros sentimentos espontaneamente. Por isso, é necessário ter habilidade em mascará-los para que não venham à tona.
9- São eloquentes. Pessoas eloquentes conseguem confundir mais facilmente as pessoas com jogos de palavras e conseguem enrolar mais nas respostas caso lhe perguntem algo que exija outras mentiras.
10- São bem preparados. Mentirosos planejam com antecedência o que vão fazer ou dizer para evitar contradições.
11- Improvisam bem. Mesmo estando preparado, é preciso estar pronto a improvisar caso alguém comece a desconfiar da história que ele inventou ou as coisas não saiam como esperava.
12- Pensam rápido. Para improvisar bem, é preciso pensar rápido. Quando imprevistos acontecem, e fica fácil desconfiar quando a pessoa fica sem resposta ou tenta ganhar tempo dizendo “ahhn” ou “eee”. Bons mentirosos não têm esse problema e conseguem pensar em uma saída rapidamente.
13- São bons em interpretar sinais não verbais. Um bom mentiroso está sempre atento à linguagem corporal do seu ouvinte e consegue interpretar sinais não-verbais que possam indicar desconfiança. Caso identifique indícios de suspeitas, ele muda de atitude ou melhora a história.
14- Afirmam coisas que são impossíveis de se verificar. Por motivos óbvios, bons mentirosos costumam fazer afirmações sobre fatos que sejam impossíveis de se provar e evitam inventar histórias mirabolantes que poderiam ser facilmente desmascaradas.
15- Falam o mínimo possível. Quando é impossível falar algo que não pode ser verificado, o mentiroso simplesmente não diz nada. Se a peguete pergunta ao mentiroso onde estava naquela noite em que não atendeu ao telefone, ele vai preferir responder algo como “honestamente, eu não me lembro”. Melhor do que inventar que teve de levar a avó ao médico. Quanto menos informação fornecer, menos oportunidade ele terá de ser desmascarado.
16- Têm boa memória. Quem quer desmascarar um mentiroso procura por contradições no seu discurso, porque muitas vezes eles podem simplesmente se confundir ou esquecer detalhes que inventaram. Mas não se impressione se a pessoa conseguir se lembrar e repetir cada vírgula do que lhe contou anteriormente. Bons mentirosos geralmente têm ótima memória.
17- São criativos. Eles conseguem pensar em saídas e estratégias que você nunca imaginaria. Mas não se deixe levar pelo seu brilhantismo – afinal, é isso o que eles querem.
18- Imitam pessoas honestas. Mentirosos procuram imitar o comportamento que, no imaginário das pessoas em geral, são típicos de quem só diz a verdade – e evitam se parecer com a imagem que se tem dos mentirosos.

Dizer a verdade faz bem à saúde
Contar mentiras estressa o corpo, aumenta pressão sanguínea e acelera coração. Deixar de contar pelo menos três mentiras por semana ajuda a evitar sintomas físicos e psíquicos relacionados ao estresse, sugere um estudo da Universidade de Notre Dame, em Indiana. A psicóloga Anita Kelly  dividiu 110 pessoas entre 18 e 71 anos em dois grupos: instruiu o primeiro a evitar mentiras, inclusive as mais “inocentes”, como criar desculpas para faltar a compromissos. A cada sete dias, todos os voluntários responderam a um questionário de avaliação de sua saúde física e mental e foram submetidos a testes com detector de mentiras, o que ofereceu uma média de quantas vezes mentiram na semana.
Os resultados mostraram que, entre os participantes orientados a falar a verdade, três mentiras a menos equivaleram a quatro menos reclamações sobre tensão e melancolia e a três sobre dores de cabeça e de garganta. O interessante é que as pessoas do grupo de controle, que não sabiam o que os pesquisadores estavam analisando, também relatavam melhora na saúde geral – três mentiras a menos eliminavam duas reclamações de desconforto psíquico e uma de dores físicas. Segundo Anita, cada vez que mentimos, há aumento do nível de estresse: a glândula suprarrenal secreta hormônios, o coração acelera e a pressão sanguínea sobe. A frequência desse estímulo de “alerta” pode sobrecarregar o organismo e desencadear sinais de estresse.
Fonte: Scientific American e Superinteressante.

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