A mentira compulsiva pode ser uma doença? Em 1891, o alemão Anton
Delbrück afirmou que sim. Hoje, a psiquiatria não reconhece mais a mentira como
um transtorno em si. Porém, combinada com outros sintomas, a mitomania ajuda a
diagnosticar uma série de distúrbios, segundo o professor Charles Dike, do
Departamento de Psiquiatria da Universidade de Yale. Um dos mais surpreendentes
é o factício. Seu portador faz de tudo para parecer que tem alguma doença. E
não é que ele queira folgar na sexta ou tente aposentadoria por invalidez. Seu
objetivo é exatamente ser tratado como doente. Em casos extremos, a condição
vira síndrome de Munchausen. Nesse transtorno, a vida do portador se torna uma
peregrinação por diferentes médicos - entre 0,5% e 2% de quem vai para
hospitais gerais apresenta a síndrome. Ao chegar ao doutor, já vão ter
pesquisado tudo sobre a doença que decidiram simular e conseguem ser tão
convincentes que muitos chegam à mesa de cirurgia. Se forem descobertos, partem
para o próximo hospital.
As estratégias mais simples são fabricar queixas físicas subjetivas -
como dores abdominais agudas que não existem - e falsificar sinais objetivos.
Vale esquentar o termômetro para parecer que tem febre, ingerir substâncias que
alteram a cor da urina, simular convulsões...
Mas, nos casos mais graves, ele parte para a indução de sintomas
reais: feridas criadas com injeção de saliva na pele, febre causada por injeção
de alguma bactéria, e outros sintomas obtidos com medicamentos desnecessários.
De onde vem isso?
No livro Lies! Lies! Lies!, o psiquiatra Charles V. Ford defende que o
comportamento do mentiroso patológico está associado à criação em família
desestruturada, a abusos na infância e ao uso excessivo de álcool e drogas.
Yaling Yang e Adrian Raine, da Universidade da Califórnia do Sul,
resolveram olhar não só para o passado, mas também para o cérebro desses
mentirosos. Separaram os pacientes em 3 grupos: mentirosos compulsivos;
sociopatas que não mentem de forma doentia; e pessoas normais. Depois,
examinaram o que havia dentro da cabeça deles com imagens de ressonância
magnética. Finalmente, os cientistas concluíram que os mentirosos tinham 22%
mais massa branca nas regiões pré-frontais, que governam as tomadas de decisão
e julgamento, do que as pessoas normais. Mas a amostragem do estudo, publicado
na revista Science, é bastante restrita - 108 voluntários -, e não está claro
se os resultados refletem a causa ou o efeito da mentira.
Transtornados e mentirosos
Estes são os distúrbios psiquiátricos que fazem da mentira uma
compulsão
BORDERLINES
COMO SÃO? - Vão de um extremo a outro muito rápido. Em um dia, são o
melhor amigo; no outro, o pior inimigo. O transtorno é mais comum em
adolescentes.
POR QUE MENTEM? - Buscam ocultar as consequências dos atos de sua
identidade instável.
ANTISSOCIAIS
COMO SÃO? - Não sentem remorso, não internalizam regras sociais ou
legais nem zelam pela própria segurança e a dos outros.
POR QUE MENTEM? - Assim sentem prazer, tiram vantagem pessoal e também
fogem de obrigações.
HISTRIÔNICOS
COMO SÃO? - Precisam estar sempre no centro das atenções. Para isso,
usam artimanhas sedutoras. Quando rejeitados, partem para o drama.
POR QUE MENTEM? - Isso atrai a atenção dos outros em relatos
dramáticos (e inventados).
NARCISISTAS
COMO SÃO? - Acham que são superiores e usam de todos os meios para
parecer os maiorais.
POR QUE MENTEM? - Aumentando suas realizações, os narcisistas garantem
a fama, a glória e a admiração que eles acreditam merecer.
18 características de um bom
mentiroso
1- São manipuladores.
Segundo o artigo, manipuladores mentem frequentemente e não têm escrúpulos
morais – por isso, sentem menos culpa. Eles também não têm medo de que as
pessoas desconfiem e não precisam de muito esforço cognitivo para fazer isso. A
coisa meio que acontece naturalmente.
2- São bons atores. Quem
sabe atuar tem mais facilidade em mentir e se sente confiante ao fazer isso,
pois sabe que é capaz de fingir muito bem. (Antes que comece a polêmica, não
estamos dizendo aqui que bons atores são necessariamente mentirosos. A lógica é
oposta: bons mentirosos é que são, geralmente, bons atores)
3- Conseguem se expressar bem.
“Pessoas expressivas geralmente são benquistas”, dizem os pesquisadores. Elas dão uma impressão de honestidade porque
seu comportamento sedutor desarma suspeitas logo de início, além de conseguirem
distrair os outros facilmente.
4- Têm boa aparência.
Pesquisas já mostraram que pessoas bonitas tendem a ser mais queridas e vistas
como honestas, o que ajuda quem curte enganar os outros.
5- São espontâneos. Para
acreditarmos num discurso, ele precisa parecer natural. Quem não tem a
capacidade de ser espontâneo acaba parecendo artificial – e fica difícil
convencer alguém desse jeito.
6- São confiantes enquanto
mentem. Bons mentirosos geralmente sentem menos medo de serem desmascarados
do que as outras pessoas. Então, mantêm uma atitude confiante em relação à sua
habilidade de mentir.
7- Têm bastante experiência em
mentir. Assim como nas outras coisas, o treino também leva à perfeição
quando se trata de mentir. Quem está acostumado a isso já sabe bem o que é
necessário para convencer as pessoas e conseguem lidar mais facilmente com suas
próprias emoções.
8- Conseguem esconder
facilmente as emoções. Em algumas situações mais arriscadas, mesmo um
mentiroso veterano pode sentir medo e insegurança. Nesse caso, é fundamental
conseguir camuflar bem essas emoções. Além disso, já dissemos que mentirosos
geralmente são pessoas expressivas, né? Pois é: eles costumam ser bons em
fingir sentimentos que não estão realmente sentindo, mas também tendem a
manifestar seus verdadeiros sentimentos espontaneamente. Por isso, é necessário
ter habilidade em mascará-los para que não venham à tona.
9- São eloquentes. Pessoas
eloquentes conseguem confundir mais facilmente as pessoas com jogos de palavras
e conseguem enrolar mais nas respostas caso lhe perguntem algo que exija outras
mentiras.
10- São bem preparados.
Mentirosos planejam com antecedência o que vão fazer ou dizer para evitar
contradições.
11- Improvisam bem. Mesmo
estando preparado, é preciso estar pronto a improvisar caso alguém comece a
desconfiar da história que ele inventou ou as coisas não saiam como esperava.
12- Pensam rápido. Para
improvisar bem, é preciso pensar rápido. Quando imprevistos acontecem, e fica
fácil desconfiar quando a pessoa fica sem resposta ou tenta ganhar tempo
dizendo “ahhn” ou “eee”. Bons mentirosos não têm esse problema e conseguem
pensar em uma saída rapidamente.
13- São bons em interpretar
sinais não verbais. Um bom mentiroso está sempre atento à linguagem
corporal do seu ouvinte e consegue interpretar sinais não-verbais que possam
indicar desconfiança. Caso identifique indícios de suspeitas, ele muda de
atitude ou melhora a história.
14- Afirmam coisas que são
impossíveis de se verificar. Por motivos óbvios, bons mentirosos costumam
fazer afirmações sobre fatos que sejam impossíveis de se provar e evitam
inventar histórias mirabolantes que poderiam ser facilmente desmascaradas.
15- Falam o mínimo possível.
Quando é impossível falar algo que não pode ser verificado, o mentiroso
simplesmente não diz nada. Se a peguete pergunta ao mentiroso onde estava
naquela noite em que não atendeu ao telefone, ele vai preferir responder algo
como “honestamente, eu não me lembro”. Melhor do que inventar que teve de levar
a avó ao médico. Quanto menos informação fornecer, menos oportunidade ele terá
de ser desmascarado.
16- Têm boa memória. Quem
quer desmascarar um mentiroso procura por contradições no seu discurso, porque
muitas vezes eles podem simplesmente se confundir ou esquecer detalhes que
inventaram. Mas não se impressione se a pessoa conseguir se lembrar e repetir
cada vírgula do que lhe contou anteriormente. Bons mentirosos geralmente têm
ótima memória.
17- São criativos. Eles
conseguem pensar em saídas e estratégias que você nunca imaginaria. Mas não se
deixe levar pelo seu brilhantismo – afinal, é isso o que eles querem.
18- Imitam pessoas honestas.
Mentirosos procuram imitar o comportamento que, no imaginário das pessoas em
geral, são típicos de quem só diz a verdade – e evitam se parecer com a imagem
que se tem dos mentirosos.
Dizer a verdade faz bem à saúde
Contar mentiras estressa o corpo, aumenta pressão sanguínea e acelera
coração. Deixar de contar pelo menos três mentiras por semana ajuda a evitar
sintomas físicos e psíquicos relacionados ao estresse, sugere um estudo da
Universidade de Notre Dame, em Indiana. A psicóloga Anita Kelly dividiu 110 pessoas entre 18 e 71 anos em
dois grupos: instruiu o primeiro a evitar mentiras, inclusive as mais
“inocentes”, como criar desculpas para faltar a compromissos. A cada sete dias,
todos os voluntários responderam a um questionário de avaliação de sua saúde
física e mental e foram submetidos a testes com detector de mentiras, o que
ofereceu uma média de quantas vezes mentiram na semana.
Os resultados mostraram que, entre os participantes orientados a falar
a verdade, três mentiras a menos equivaleram a quatro menos reclamações sobre
tensão e melancolia e a três sobre dores de cabeça e de garganta. O
interessante é que as pessoas do grupo de controle, que não sabiam o que os
pesquisadores estavam analisando, também relatavam melhora na saúde geral –
três mentiras a menos eliminavam duas reclamações de desconforto psíquico e uma
de dores físicas. Segundo Anita, cada vez que mentimos, há aumento do nível de
estresse: a glândula suprarrenal secreta hormônios, o coração acelera e a
pressão sanguínea sobe. A frequência desse estímulo de “alerta” pode sobrecarregar
o organismo e desencadear sinais de estresse.
Fonte: Scientific American e Superinteressante.
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