sábado, 22 de dezembro de 2012

Segredos perdidos no tempo


Já faz um bom tempo que eu não escrevia, mas pouco antes do fim do ano eu não poderia deixar de escrever algo. Então decidi falar sobre a história de todos nós, nossas alegrias, nossas tristezas, os arrependimentos, as grandes viradas, os grandes retornos, nossas certezas, nossas dúvidas, nossas lembranças e as coisas que gostaríamos de esquecer.
Quando chegamos ao mundo, não sabemos de onde viemos e nem para onde vamos, e ainda assim vivemos como se nunca fossemos morrer.
Na infância nossos sonhos são mais simples, queremos brincar, ter amigos, tirar boas notas, comer coisas gostosas, ganhar um animalzinho, e temos algo maravilhoso, um presente da infância: a inocência. Mas a vida vai seguindo seu curso e a inocência vai nos abandonando aos poucos. Um pouco dela se perde em cada trajeto da vida. Cada vez em que observamos uma ação desonesta, cada vez que descobrimos que nem tudo é o que parece, cada vez que nos surpreendemos com os acontecimentos próprios da nossa existência.
Na fase adulta da vida nós nos deparamos com o choque de realidade: sonhos custam dinheiro, dinheiro segregam pessoas, pessoas podem destruir nossas vidas. Talvez nessa fase você descubra que não se tornou tudo aquilo que você acreditava que poderia ser, talvez aquela pessoa especial tenha se transformado num pesadelo ou talvez ela nunca tenha aparecido. Então você descobre que muito daquilo que seus pais te ensinaram não acontece no mundo real, e que talvez nem mesmo eles consigam ser tão bons quanto eles gostariam de ser. Quantas vezes eles olharam nos olhos brilhantes de seus filhos e mentiram, mentiram para preservar, para não causar dor, para enfeitar os caminhos deles, e talvez em algum momento de sua vida, você também tenha que mentir para seus filhos. Assim como mentiram para os seus pais.
É também na fase adulta que nós descobrimos que o tempo é curto, e a matemática da vida entra em ação com força total.  Temos que trabalhar (no mínimo 8 horas por dia), dormir (médicos recomendam oito horas de sono), ir e voltar do trabalho (cerca de duas horas), tomar banho, café da manhã, almoçar e jantar (todo esse processo leva cerca de 3 horas no total). E a conta chega a esse resultado: 8+8+2+3=21 horas. Então temos a infeliz descoberta de que sobra pouco tempo para fazermos as coisas de que gostamos.
Ainda na fase adulta descobrimos algumas das maiores tristezas da vida, a morte de pessoas que amamos. Nessa fase algumas das pessoas que amamos começam a nos deixar, e nós começamos a entender que um dia será a nossa vez. Nossos pais começam a envelhecer e a hierarquia das gerações começa a se refazer, empurrando quem estava abaixo para cima.
Junto com a idade adulta chegam as preocupações, preocupação com o futuro, com o pagamento das contas, com os familiares, com nossas metas, com nosso trabalho, com a falta de tempo, com a nossa aparência, com a nossa saúde, com o sentido da vida, com a existência de Deus, enfim, preocupações não faltam.
Por fim chegamos à terceira idade, isso se tivermos essa sorte. Um belo dia olhamos no espelho e vemos que o tempo levou quase tudo de nós. O tempo leva a beleza, as pessoas, a saúde... e começamos a nos tornar um pouco mais tristes e amargos. Afinal até chegar aqui trilhamos um longo caminho, onde assistimos e passamos por muitas coisas. O idoso já viu algumas das pessoas mais importantes de sua vida morrer, já teve muitas decepções, sua saúde já esta frágil e ele sabe que seu fim esta próximo.
Depois de refletirmos sobre todo lado prático da vida, pensamos então: afinal o que é a vida?
A vida é uma somatória de sentimentos, sejam eles bons ou ruins. É um conjunto de experiências, bem sucedidas ou não. É uma história contada, que fala sobre o amor, a luta, a força, a fé, a superação, a dor, é uma história de vida.
Dentro das partes que compõem esta história esta cada momento vivido, cada pequena coisa, cada olhar, cada sorriso, cada recusa, cada lágrima, cada emoção, cada segundo de expectativa e cada eternidade da espera.
Então feche os olhos por um instante e lembre-se da primeira vez que você viu aquela pessoa especial, lembre-se da ansiedade de revê-la, da expectativa à espera de um telefonema, lembre-se dos olhares trocados, dos beijos cheios de emoção, do toque suave da pele, e da tristeza do adeus. Lembre-se da expectativa da possibilidade do reencontro, como você passava horas imaginando o dia que reencontrasse essa pessoa, talvez você desejasse a reencontrar, talvez não, mas com certeza em algum momento você imaginou isso.
Lembre-se do conforto que o abraço da sua mãe trazia para o seu corpo, lembre-se de todas as vezes que ela te consolou e te deu força. Lembre-se da alegria de passar as tardes brincando na casa de sua avó, da sua alegria ao ganhar seu primeiro bichinho.  Lembre-se de seus amigos do colegial e das horas que vocês passaram rindo a toa e falando bobagens e como isso era legal. Lembre-se da dúvida da escolha de profissão, e do quanto você estudou para chegar lá, das horas de dedicação para se destacar. Lembre-se do seu primeiro emprego e no tanto que você se esforçava para aprender e desenvolver o melhor que podia. Da primeira festa que você foi sozinho e na bronca que levou por chegar tarde. Lembre-se da sua primeira amizade desfeita e em como você ficou aborrecido com isso. Do seu primeiro porre e em como você disse para você mesmo que nunca mais beberia. Lembre-se do quanto você não se importava com a sua aparência quando era criança, e no quanto você se importa hoje. Lembre-se da primeira vez que você disse eu te amo, e em como isso foi libertador. Lembre-se da saudade que você sentiu do seu pai enquanto ele estava trabalhando num dia chuvoso. Da primeira briga com seus irmãos e em como vocês relevavam tudo com uma facilidade incrível e num tempo recorde. Lembre-se de como você ficou chateado quando seu amigo começou a namorar e não tinha mais tempo para você, e lembre-se também de quando você fez isso com seus amigos. Lembre-se do medo que você sentiu quando saiu de casa e da primeira vez que sua família foi te visitar em sua casa nova. Lembre-se do orgulho de sua primeira promoção. Da primeira briga que você se arrependeu de ter tido e de como você se sentiu bobo por ter brigado. Lembre-se da primeira vez que você se maravilhou com uma fogueira numa noite estrelada. De sua primeira espinha e da vergonha que você sentiu. Da sua primeira viagem, das musicas que você cantou no caminho e a euforia que você ficou até chegar ao destino final. Lembre-se da primeira vez que você disse não quando na verdade queria dizer sim, e de como você teve que aprender a disfarçar seus sentimentos reais. Lembre-se da primeira justificativa que você teve que dar para alguma atitude que você teve. Da primeira vez que você “lavou as mãos” sobre algum acontecimento. Lembre-se da vez em que você se sentiu sozinho e triste, e em como surgiu alguém para te tirar do desalento. Olhe para o rosto de seus filhos e veja a maravilha que você fez, pense que eles não existiriam se não fosse você. Agora abrace seus pais, porque você não existiria se não fossem eles. Lembre-se de quando você viu sua vida na vida de outra pessoa, do quanto você se sentiu abençoado por ter alguém tão especial em sua vida e em todas as promessas de amor que vocês trocaram. O resultado da soma de todas as emoções que você sentiu em cada um dos momentos em que você viveu é a sua história de vida, como você reagiu a cada momento é o resultado do caráter que você formou, o que você fez com cada momento é o legado que você um dia vai deixar para trás.
Agora olhe para os seus avós e tente imaginar a história deles; eles foram crianças, tiverem suas grandes “missões” no parquinho, ficavam felizes em tomar sorvete de chocolate. Cresceram, foram para o mundo cheios de sonhos e alguns desses sonhos viraram realidade e outros não. Pense nos sacrifícios que eles tiveram que fazer em prol de um bem maior. Pense no quanto eles trabalharam, nas vezes em que foram humilhados e nas outras em que foram elogiados. Pense nos amores que eles viveram, nas amizades que construíram. Pense em tudo o que eles sabiam e tentaram transmitir para seus filhos e netos, e pense que aos poucos tudo o que eles conheciam foi se transformando e em algum momento seus netos começaram a os ensinar. Pense na troca de papéis, depois de uma vida inteira cuidando dos outros, agora eles são cuidados. Por tudo isso eu sugiro que vocês olhem para seus avós, que ouçam as suas histórias, que sejam gentis com eles e que os amem. Você tem sua história de vida e eles tiveram as deles.
Dedico este post para minha amada vozinha, ela nos deixou há pouco tempo, mas sua história de vida estará sempre em nós, afinal somos o resultado da vida dela.

Texto por Sarah de Andrade.

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