Você se lembra do “paciente de Berlim”? Em 2007, um americano chamado Timothy Brown, que estava morando na Alemanha, recebeu um transplante de medula óssea como tratamento para leucemia mieloide aguda (um tipo de câncer de sangue) e acabou sendo curado do vírus HIV, da Aids.
Em 2010, ainda sem nenhum sintoma da doença grave que afeta cerca de 34 milhões de pessoas no mundo todo, Timothy foi confirmado como a primeira pessoa no globo a ser curada da Aids.
O que aconteceu foi que a medula óssea que ele recebeu veio de um doador com resistência natural à infecção por HIV.
Pouquíssimas pessoas no mundo todo são resistentes à Aids, ou seja, não podem pegar a doença sexualmente transmissível. A mutação, chamada de delta 32, aparece em apenas cerca de 1% das pessoas descendentes de europeus do norte – o percentual é ainda muito menor em pessoas de outras “raças” -, sendo que os suecos são os candidatos mais prováveis.
Pessoas com mutação de delta 32 não tem o coreceptor CCR5. A variedade mais comum da Aids usa o CCR5 como “entrada” no corpo, para que o vírus comece a infectar as células do paciente. Sendo assim, as pessoas que não tem o CCR5 são quase completamente protegidas contra o HIV.
Então, temos a cura da Aids?
A cirurgia foi um sucesso para Timothy, mas os médicos não podiam bradar em todos os cantos que tinham descoberto a cura da Aids. Isso porque o procedimento que curou o paciente de Berlim não pode ser usado em larga escala para curar todos os doentes do mundo. Para encontrar um compatível para ele, por exemplo, os médicos testaram 70 doadores de medula óssea.
Se já é difícil encontrar um doador de medula óssea compatível com o paciente que a vai receber, imagine então encontrar um que também seja resistente à Aids (o que, já vimos, são poucas pessoas).
Mas existem algumas esperanças. Por exemplo, o Dr. Lawrence Petz diz que essa “compatibilidade” entre doador e receptor em transplantes de cordão umbilical não precisa ser tão próxima.
O transplante de Brown foi mais complicado porque as células estaminais do sangue vieram de um doador adulto. “Quando você faz transplantes de células-tronco, você tem que ter uma compatibilidade muito estreita entre doador e receptor. Com o sangue do cordão umbilical, não precisamos de uma compatibilidade tão grande. É muito mais fácil encontrar doadores”, explica Petz.
Mesmo assim, não jorram doadores. De 17.000 amostras de sangue de cordão umbilical, Petz e seus colegas encontraram somente 102 com a mutação genética resistente à Aids. Um banco de dados está sendo formado, mas isso vai demorar um tempo.
Petz acredita no transplante de sangue de cordão umbilical, e já realizou um em um paciente aidético na Holanda, há algumas semanas. Outro transplante deve ser feito em um paciente na Espanha no final deste mês. Esses pacientes também tinham alguma condição subjacente que requer o transplante.
Apenas daqui alguns meses a equipe vai saber se o transplante funcionou, ou seja, se fez alguma diferença no HIV dos pacientes, mas Petz está esperançoso.
A vacina contra a Aids
Ainda assim, muitos pesquisadores acreditam que o melhor jeito de combater a doença seria estudar as pessoas resistentes ao vírus para desenvolver uma vacina que pudesse tratar a Aids de forma geral.
E tal vacina parece estar mais perto de se tornar real. Cientistas dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Alemanha descobriram uma cepa de linfócitos T citotóxicos (CTLs) – células capazes de combater o vírus da Aids – que tem moléculas chamadas receptores, que podem identificar células sanguíneas infectadas pelo HIV e atacá-las.
As pessoas resistentes à Aids (uma em cada 300, mais ou menos) conseguem combater o vírus usando essas células. E, ao analisar a forma como elas funcionam, os pesquisadores acreditam que podem desenvolver uma vacina para tratar a doença.
Os cientistas explicaram que as vacinas produzidas até agora não estavam funcionando porque não continham o tipo certo de células “assassinas” do vírus. Eles sabiam que as pessoas com Aids possuíam CTLs, o problema era porque elas não estavam ajudando a combater a doença; agora, eles descobriram que é porque elas precisam ser de um tipo em especial, que é melhor em matar o HIV.
Então, essa é a boa notícia. A ruim é que, apesar dos cientistas terem encontrado e identificado as células assassinas “boas”, eles ainda não sabem como gerá-las, que é o próximo passo da pesquisa.
Fonte: Hypescience.
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