terça-feira, 20 de março de 2012

Obras de arte ou falsificações?

A vida de Tony Tetro hoje é completamente diferente da que foi um dia. Ele era um falsificador de arte capaz de imitações praticamente insuspeitas de mestres da pintura como Salvador Dalí, Chagall e Miró, a ponto de serem vendidas como originais. Sua habilidade para enganar até os mais experientes comerciantes de arte o fez rico. Até que cometeu um erro fatal. Um negociante de arte lhe encomendou uma série de aquarelas no estilo de Hiro Yamagata. Mas, infelizmente para Tetro, conhecido apenas como T, seus “originais” foram vendidos para uma galeria em Beverly Hills bem ao lado de outra que possuía um acordo exclusivo de revenda com o verdadeiro Yamagata. Quando o artista passou por ali, viu as falsificações, e a confusão estava armada.
Em 1989, após um processo judicial que se arrastou por quatro anos e meio, Tetro foi condenado por falsificação de arte. Os carros e apartamento foram vendidos para pagar seus advogados, e ele foi para a cadeia, onde ficou até 1994. “Eu sinto que nunca vitimei ninguém”, diz. “Durante o meu julgamento, espalharam anúncios em jornais tentando encontrar alguma vítima e não encontraram uma sequer. Ninguém nunca reclamou, pois nem desconfiavam que houvessem adquirido uma cópia.” Até hoje, muitos dos seus compradores são completamente alheios ao fato de que na verdade é um Tetro Tony que exibem com orgulho em suas galerias, em lugar de, por exemplo, um legítimo Salvador Dalí.
Negociantes de arte e historiadores são geralmente muito hábeis em detectar falsificações - afinal, um erro pode custar milhões. Mas Tetro, cuja carreira como falsificador de arte durou 30 anos, mostra que mesmo os olhos mais treinados podem ser falíveis. Hoje, porém, as coisas podem estar prestes a mudar. Análises computadorizadas cada vez mais sofisticadas se mostram extremamente eficazes em extirpar as falsificações, oferecendo aos negociantes de arte um bom instrumento de defesa.
Um dos líderes no campo da análise de arte em computador é C. Richard Johnson, professor de Engenharia na Universidade de Cornell, em Nova York. Ele está desenvolvendo um software que não analisa a pintura, mas a tela pintada, caracterizando o padrão dos fios. Alguns pintores, como Vincent van Gogh, compravam suas telas em rolo, o que significa que os quadros de um mesmo período em sua obra devem ter um único padrão de filamento. Se não houver qualquer correspondência, o sistema indica que algo pode estar errado. O único problema é que a frente de qualquer pintura é, logicamente, coberta de tinta, e, em muitas obras antigas, o avesso é frequentemente coberto com outra tela que serve como reforço, modificando a original. Felizmente, existe uma solução. Muitas telas datadas entre os séculos 16 e 20 eram cobertas com tinta de chumbo branco barato para suavizá-las antes de o artista iniciar a pintura. Radiografar essas telas revela o padrão dos fios. Raios X foram usados por museus durante anos para analisar as diferentes camadas de uma pintura, revelando como os artistas mudaram de ideia enquanto trabalhavam. “Eu não posso entrar nos museus e galerias com uma nova câmera de milhões de dólares afirmando que ela vai fazer todo tipo de coisas inimagináveis e que basta tirar tudo das paredes e me deixar fotografar. Obviamente, isso não vai acontecer. Mas eles já possuem os raios X das obras!”, lembra Johnson. Supostamente, os museus deveriam ficar felizes em entregar as suas radiografias.
Mais felizes, ao menos, do que sendo obrigados a entregar imagens de alta qualidade das pinturas em si. “Eles não querem essas imagens aparecendo por aí estampadas em camisetas, roupas íntimas e coisas do tipo. Não sem fazer algum dinheiro com isso. É uma forma simples de dizer o que efetivamente ocorre, mas dá para entender por que eles precisam ser precavidos”, explica o professor.
Falsários em alerta
As técnicas desenvolvidas podem se mostrar efetivas; mas garantem que os falsificadores não dedicarão esforços para superar as novas tecnologias?
“Temos um sistema que pode detectar falsificações, mas sabemos que o conhecimento adquirido pode ser aplicado em sentido inverso, para criar falsificações ainda melhores. Por isso, é como uma corrida”, explica. Mas Johnson acredita que os cientistas vencerão a disputa. “Grande parte das cópias descobertas em meados do século 20 foram acusadas por utilizarem pigmentos que ainda não existiam na época em que o original foi criado. Os falsários não cometem mais esse erro. Mas, ao atingirmos um nível tão elaborado de técnicas, acreditamos que ninguém será capaz de dar conta de todas elas sem cometer algum deslize.”
Hoje, Tony Tetro trabalha dentro da legalidade. Em vez de enganar comerciantes e museus com falsificações não descobertas, ele fornece um serviço legítimo de réplicas – ou “cópias master” – de obras-primas para seus clientes.
Mas a mente de falsificador continua – ele mantém um olho no progresso da ciência de detecção de cópias e admite que as novas técnicas tornam cada vez mais complicada a vida dos aspirantes a falsários. “Eu não leio os jornais científicos com frequência, só olho para eles por causa dos velhos tempos; e penso que eu tive sorte, pois não havia tudo isso naquela época”, comenta.
Fonte: Conhecer.

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