quarta-feira, 19 de junho de 2013

Mídias sociais mudam reação aos desastres

Congresso americano avalia riscos e benefícios de usar mídias sociais durante emergências. Quando o Furacão Katrina devastou a Costa do Golfo dos Estados Unidos em 2005, o Facebook era uma novidade. Não havia Twitter para atualizar notícias, e o iPhone ainda não estava em cena.
Quando o Furacão Sandy castigou a costa leste no ano passado, as mídias sociais haviam se tornado parte da resposta a desastres, preenchendo o vazio em áreas onde o serviço de telefonia celular foi perdido enquanto milhões de americanos contavam com Twitter e Facebook, para se manter informados, localizar entes queridos, notficar autoridades e expressar apoio.
Acabaram-se os dias da comunicação de via única, em que apenas fontes oficiais fornecem boletins ou notícias sobre desastres.
Agora pesquisadores começaram a publicar dados sobre o uso de mídias sociais em desastres, e legisladores e especialistas em segurança começaram a avaliar como a administração de emergências pode se adaptar da melhor maneira psosível.
“A convergência de redes sociais e de aparelhos móveis jogou o antigo manual de respostas [a desastres] pela janela”, declarou Michael Beckerman, presidente e CEO da Internet Association, ao Subcomitê Interno de Prevenção, Resposta e Comunicações de Emergência em 4 de junho.
O novo manual não eliminará o sistema de transmissão de emergência e outros esforços governamentais. Ao contrário, ele incorporará novos dados de pesquisadores, agências federais e sem fins lucrativos que começaram a revelar o alcance exato de mídias sociais em desastres.
A Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA, em inglês) escreveu em seu relatório de Prevenção Nacional de 2013, na semana passada, que durante e imediatamente após o Furacão Sandy, “usuários enviaram mais de 20 milhões de posts de Twitter (ou ‘tweets’) relacionados ao desastre, apesar da perda de serviço celular durante o pico da tempestade”.
A maior empresa utilitária de Nova Jersey, a PSE&G, declarou durante a audiência do subcomitê que havia designado funcionários para seus feeds de Twitter durante o Sandy e para enviar notícias sobre as localizações diárias de suas tendas e geradores gigantes. “Em um momento durante a tempestade nós enviamos tantos tweets para alertar nossos clientes que excedemos o número de tweets permitidos por dia”, contou Jorge Cadenas, vice-presidente de administração de ativos e serviços centralizados da PSE&G ao subcomitê.
Após as explosões da Maratona de Boston, relata-se que um quarto dos americanos procurou o Facebook, Twitter e outros sites de redes sociais em busca de informações, de acordo com o Centro de Pesquisa Pew.
Os sites também formaram uma parte fundamental do ciclo de informações: quando o Departamento de Polícia de Boston postou seu último tweet  sobre a caçada humana, “CAPTURADO!!!”, mais de 140 mil pessoas o retuítaram.
Por meio de um simples Google Document, membros da comunidade ofereceram alojamento, comida ou um banho quente a estranhos quando estradas e hoteis foram fechados. O Google também adaptou o seu Person Finder (Localizador de Pessoas) para uso em desastres naturais.
Cada desastre cria sua própria rede complexa de troca rápida de informações. Isso é uma coisa boa, explica Mark Keim, diretor associado de ciências do Escritório de Emergências Ambientais dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Isso pode tanto melhorar a resposta a desastres quanto permitir que populações afetadas tomem o controle de sua situação, além de se sentirem habilitadas.
Produzir uma estratégia eficaz usando mídias sociais e adequá-la a uma emergência, porém, é uma parte crucial do planejamento de prevenção, explica a socióloga de desastres Jeannnette Sutton, pesquisadora sênior da University of Colorado em Colorado Springs, que estuda mídias sociais em crises e desastres.
Para o incidente da Maratona de Boston, ela não encontrou hashtag consistente no Twitter, o que pode tornar difícil rastrear informações relevantes. Mesmo procurar a palavra “Boston” pode ser inadequado, explica ela, porque isso levaria a assuntos sem relação [com o incidente], como o turismo, ou fracassaria em encontrar tweets que não incluem a palavra Boston.
De acordo com ela, como parte da prevenção de desastres, seria útil ensinar ao público como usar mídias sociais de maneira eficaz, como obter informações da Web e também como publicar informações úteis. “Os tweets fluem tão rapidamente que é como uma mangueira de incêndio quando você está tentando extrair informações que são relevantes”.
Toda a rápida informação disponível em mídias sociais oferece riscos inerentes durante situações de emergência. Uma é a rápida disseminação de informações erradas – como foi o caso após as explosões de Boston com a identificação de um homem desaparecido como possível suspeito.
Apesar de erros frequentemente serem corrigidos através do ‘efeito Wikipedia’, em que usuários corrigem os erros uns dos outros, Sutton aponta que informações falsas podem se tornar virais rapidamente. O Rumor Control, mantido pela FEMA, tenta cortar a desinformação pela raiz, mas em geral não há divisões claras sobre quem tem responsabilidade de policiar as informações de mídias sociais ou como – ou mesmo se – isso poderia funcionar.
Outro risco fundamental é o de golpistas usando mídias sociais para roubar dinheiro.
Enquanto a Cruz Vermelha dos Estados Unidos provou que novas tecnologias podem levantar dinheiro de maneira eficaz para assistência humanitária, gerando mais de US$5 milhões em doações por mensagem de texto nas 48 horas após o terremoto do Haiti em 2010, o FBI alertou que mídias sociais também podem ser uma plataforma lucrativa para criminosos que surgem após a tragédia.
Após o tiroteio na escola de Newtown, em Connecticut, por exemplo, o FBI prendeu uma mulher que alegava ser parente de uma vítima morta e solicitou dinheiro através do Facebook e de outras fontes.
Frequentemente aponta-se o terremoto do Haiti como sendo o divisor de águas que mudou como as mídias sociais são usadas em desastres.
Esses recursos evoluíam de maneira independente até 2010, mas o tamanho e apelo emocional inerente daquele desastre criou o ambiente adequado para que elas florescessem, explica Keim, do CDC.
“Eu acredito que o que estamos vendo agora é o começo de uma era em que é muito difícil prever qual será o próximo desastre”, observa ele. “Essas coisas são espontâneas e preenchem necessidades únicas da mesma maneira que você não poderia prever qual aplicativo você pode precisar ou querer em seu celular no ano que vem”.

Fonte: Scientific American.

Nenhum comentário:

Postar um comentário