quinta-feira, 30 de maio de 2013

Você é tão belo(a) quanto pensa?

Em abril desse ano, a Dove lançou um vídeo que ganhou grande destaque na internet, intitulado Dove Real Beauty Sketches (“Rascunhos de Verdadeira Beleza Dove”), em que pessoas eram retratadas por um desenhista forense a partir de duas descrições: uma feita pela própria pessoa e outra por um estranho que interagiu com essa pessoa.
Ao comparar as duas versões, aquela feita a partir da descrição de um estranho era geralmente mais bonita do que a outra, mostrando que as pessoas tinham uma percepção errada de si mesmas e eram, na verdade, mais bonitas do que imaginavam. Contudo, a mensagem positiva da campanha talvez esteja em contradição com um fenômeno psicológico conhecido, chamado “auto-aprimoramento”.
Em artigo publicado pela Scientific American, o pesquisador Ozgun Atasoy explicou, citando diversos estudos, como as pessoas de modo geral têm uma autoimagem mais positiva do que a verdadeira, mas isso não é tão ruim. “A maioria de nós tende a pensar que é melhor do que realmente é – não só psicologicamente, mas em todos os aspectos”.
Um dos estudos mencionados por Atasoy foi realizado em 2008 por uma dupla de pesquisadores dos Estados Unidos e publicado no periódico Personality and Social Psychology Bulletin. Para analisar a autoimagem dos participantes, a dupla fotografou cada um deles e, no computador, criou duas versões (uma mais bonita e uma mais feia) da foto; em seguida, pediu que os participantes escolhessem, entre as três opções, qual era a original. A maioria escolheu a versão melhorada, e a rapidez da escolha serviu como evidência de que a pessoa “reconhecia” essa versão com mais facilidade (e, portanto, acreditava que era a original).
Quando repetiram o procedimento usando fotos de pessoas que os participantes haviam visto uma vez semanas antes, a maioria conseguiu escolher a versão não modificada – assim, o viés positivo era mais fraco quando se tratava de terceiros.
E o que estaria por trás desse viés positivo que temos em relação a nós mesmos? “A natureza adaptativa do auto-aprimoramento pode ser a resposta”, explica Atasoy. “Para uma pessoa, repassar a informação de que ela tem características desejáveis é benéfico em um ambiente social”. Contudo, mentir sobre nossas qualidades como forma de passar uma boa imagem tem pelo menos duas desvantagens principais: manter o disfarce pode ser desgastante (é preciso prestar atenção o tempo todo para não deixar “a máscara cair”) e, além disso, há o risco de a pessoa ser descoberta e passar a ser mal vista.
“Como no auto-aperfeiçoamento as pessoas realmente acreditam que têm características desejáveis, elas podem se promover sem precisar mentir”, explica o pesquisador. Com isso, podemos transmitir mais confiança e, com o passar do tempo, realmente desenvolver essas características que pensamos ter.
“A premissa da Dove está errada”, diz o autor. “Mas pensar que somos mais bonitos do que realmente somos pode não ser algo tão ruim”.



Fonte: Scientific American, Personality and Social Psychology Bulletin.

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