Gesto ativa o córtex orbitofrontal do observador, região do cérebro
que percebe uma pessoa como atraente.
Um sorriso genuíno no rosto dos outros é um sinal inconfundível de
bem-estar e felicidade. Isto porque felicidade e sorriso começam no cérebro, no
mesmo lugar. Faça algo bem feito, receba um agrado ou um carinho ou ache graça
em uma piada, e seu sistema de recompensa se encarrega de fazer com que as
regiões cerebrais que organizam movimentos automáticos – aqueles que fazemos
sem precisar pensar – estampem um belo sorriso em seu rosto. Essas regiões
tratam de elevar os cantos da boca, relaxar as sobrancelhas e, o mais
importante, apertar levemente as pálpebras, contraindo os músculos orbiculares
dos olhos. São esses que colocam aquelas ruguinhas nos cantos dos olhos, o
sinal mais evidente de felicidade e do sorriso genuíno.
Ao mesmo tempo que o sistema de recompensa lhe dá o prazer do sorriso
e essas regiões motoras fazem seus músculos estamparem esse prazer no seu
rosto, é acionado também o córtex orbitofrontal (OFC), parte do cérebro que
registra quando algo de bom acontece – como, por exemplo, a causa do sorriso. É
assim que passamos a associar evento e resultado, acontecimento e sorriso. Como
resultado, ver a causa do sorriso de novo (uma pessoa em particular, um lugar
ou paisagem, por exemplo) torna ainda mais fácil sorrir mais uma vez. Apenas
lembrar-se do que causou o sorriso também já funciona.
O incrível é que estampar um sorriso no rosto pode ser o suficiente
para que comecemos a nos sentir bem. O truque funciona mesmo se você instruir
um ator a montar um sorriso, músculo a músculo. Quanto mais os atores aprendem
a dominar o músculo orbicular dos olhos, aquele que circunda as pálpebras e dá
as ruguinhas, adotando uma expressão de felicidade genuína, mais seu corpo
começa a se preparar para a felicidade, proporcionando-lhes um bem-estar que
eles não sabem explicar. A neurociência explica: um trabalho recente mostrou
que o sorriso genuíno já basta para ativar o córtex da ínsula, região do
cérebro que nos dá sensações subjetivas como a do bem-estar.
Mas não para aqui. Um sorriso genuíno é contagiante, e espalha a
felicidade ao nosso redor. Através de neurônios-espelho, que nos fazem repetir
automaticamente ações ao nosso redor, ver um sorriso no rosto de quem fala com
você aciona as mesmas áreas do cérebro responsáveis pelo seu próprio sorriso,
inclusive a ínsula e o OFC. Como seu cérebro imita o alheio sem fazer esforço,
ver alguém sorrindo basta para você começar a se sentir assim por dentro também
– o que acaba se refletindo por fora.
Já o sorriso forçado, aquele que damos tantas vezes para a câmera, não
funciona nem convence. Ele parte de regiões do cérebro que comandam movimentos
voluntários, e não causa ativação do OFC. Portanto, não diz ao resto do cérebro
que algo de particularmente bom aconteceu. Ou seja: você pode até sorrir por
fora, mas seu cérebro sabe que você não está sorrindo por dentro.
Felicidade gera felicidade: ela passa de um cérebro para o próximo
através do sorriso. Por isso o bem-estar do outro é contagiante; por isso nos
sentimos melhor perto de pessoas sorridentes. E, como se não bastasse, ainda
ficamos mais bonitos ao sorrir: o OFC, que é acionado automaticamente quando
vemos uma pessoa bonita, fica ainda mais ativo quando essa pessoa sorri. O
sorriso é, portanto, o tratamento de beleza mais rápido, barato e democrático
que a natureza – e a neurociência – já inventou...
Fonte: Scientific American.

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