terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A ciência por traz do cheiro

Você já se perguntou por que determinados cheiros lhe despertam memórias?
Imagine estar andando tranquilamente por uma rua qualquer. Tudo parece normal, até que o perfume inconfundível da flor dama da noite toma conta do ar. É o que basta para você ser tomado por uma sensação horrível, perder o fôlego e sair correndo prontamente do local. Parece cenário de filme de terror com flores amaldiçoadas? Mas não é.
A cena foi vivida pelo professor universitário Luis Mauro Sá Martino, que, durante muitos anos, não podia sentir o cheiro da flor sem a companhia de um pânico inexplicável. A resposta veio ao ser assolado pela fragrância mais uma vez. Ele lembrou que, quando era criança, perdera-se do pai naquela rua onde, curiosamente, havia um jardim repleto de... damas-da-noite. O trauma da ocasião foi prontamente assimilado à memória olfativa e, a partir daquele momento, formou-se uma relação entre um acontecimento, uma emoção e um odor. É esse o poder que o olfato, combinado com nosso cérebro, possui. Mas, como todo esse processo funciona?
Uma coisa é fato: nós não chegamos nem perto da sensibilidade olfativa de outros mamíferos. "O nariz humano tem aproximadamente cinco milhões de receptores olfativos por narina", explica o professor Tim Jacob, da Universidade de Cardiff , na Inglaterra. "É um bom número, mas completamente insignificante quando comparado ao dos cachorros - o da raça bloodhound, com cerca de 250 milhões de receptores no total", diz.
Então, o que de fato acontece? Para começar, o bulbo olfativo está diretamente conectado ao sistema límbico, a parte "antiga" do cérebro, que controla nossos humores, emoções e memórias involuntárias. A conexão entre cheiro e emoção é profunda. "A área do cérebro que é normalmente dividida entre diferentes partes do sistema límbico foi originalmente, de um ponto de vista evolucionário, um córtex olfativo", afirma Rachel Herz, pesquisadora e autora de um estudo extenso sobre psicologia e odores na Universidade de Brown, nos Estados Unidos.
Existem relações entre odores específicos, como grama recém cortada, chuva e o bolo que acabou de sair do forno, e nossas emoções. Mas elas são inerentes a nós ou as aprendemos ao longo do tempo. Herz, autora do livro The scent of desire, ainda sem publicação no Brasil: "Não é da nossa natureza apresentar efeitos emocionais pelos aromas. Eles são aprendidos por meio de nossa cultura e experiência pessoal", fala.
Essa constatação traz resultados interessantes. "O aroma da planta wintergreen, por exemplo, é atraente nos Estados Unidos e aversivo na Inglaterra", conta Herz. "Nos EUA, ele equivale a odores de menta ou goma de mascar. Para os ingleses, é limpador de vasos sanitários. Portanto, a conexão que temos a cheiros determina a resposta que temos a eles."
Uma vez que existe uma associação com um cheiro, os seus efeitos podem ser bem sutis. O laboratório Gottfried, da universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, estuda os efeitos que os odores têm na nossa mente. Em um estudo, pesquisadores expuseram vários voluntários a um aroma agradável e outro desagradável, alternadamente, para depois pedir para que dessem notas a rostos que apareciam em fotos em uma tela. Ambos os odores tinham concentrações tão baixas que os voluntários não conseguiam distingui-los. "Se você cheirar o aroma subliminar agradável, e então analisar uma foto, está mais propenso a enxergá-la como igualmente agradável e positiva, e vice-versa", explica o professor Jay Gottfried.  A relação entre cheiros e emoções não funciona apenas nessa ordem. No laboratório de Gottfried, voluntários foram submetidos a pequenos choques elétricos quando cheiravam determinada amostra. Depois, foram capazes de apontar esse mesmo odor quando comparado a outro desconhecido para eles. Dada a importância desse nosso entendimento das relações entre odores e psicologia, elas vêm sendo cada vez mais exploradas por empresas ao redor do mundo. A marca inglesa de roupas Thomas Pink usa o odor de linho recém lavado nas suas lojas e as vendas aumentaram", diz Herz.  Tudo se resume a transmitir uma mensagem coerente. Cheiros ressoam na porção emocional do cérebro, e isso pode ser incrivelmente poderoso”, conclui.
 Fonte: Conhecer

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